EM ESTUDO

Nova variedade de guaraná poderá ter alto teor de cafeína

Bahia é o estado líder na produção do fruto que está em fase de colheita até abril

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Foto: Leonardo Queiroz/Guaraná do Brasil

É cercada de uma densa floresta da Mata Atlântica que a fruta, que quando no ponto de colheita se assemelha com o olho humano, se desenvolve na Bahia, estado líder na produção. De acordo com a Embrapa, o cultivo do guaraná comercial é exclusivo do Brasil e uma nova variedade em estudo poderá atingir alto teor de cafeína.

A região montanhosa onde concentra a produção na Bahia, fica próxima ao litoral, no sul do estado, entre os municípios de Ituberá e Taperoá, a pouco mais de 3 horas de distância da capital Salvador.

Leonardo Queiroz, de 26 anos e o irmão herdaram duas fazendas que começaram a produzir guaraná orgânico com o pai.

Região de Taperoá, baixo sul da Bahia, mata atlântica e cultivo de guaraná
Região do município de Taperoá (BA), onde guaraná é cultivado | Imagem: Reprodução/Canal Rural BA

Atualmente são 250 hectares, sendo que 180 hectares das fazendas são de Mata Atlântica virgem.

“Aqui nós temos algumas plantas que vieram de Manaus, da Embrapa Manaus, que nós introduzimos aqui no guaranazal e toda a nossa produção tem esse respaldo científico. Esse ano a gente tá com 18 mil sementes da BRS Noçoquém, uma semente nova, feita pelo doutor André Atroch”, conta o produtor.

Outro produtor regional é o Dilton Campos. Ele espera que cada vez mais a cultura se desenvolva conhecendo o potencial da fruta.

“É uma cultura que me parece que ainda tem muito o que crescer tanto em produtividade. A Bahia tem uma produção muito grande, uma parte dela não é registrada, me parece, e nós precisamos é divulgar a capacidade de utilização do guaraná enquanto alimento, descobrir novas utilidades e aumentar nosso mercado”, afirma.

Líder do Brasil e do mundo

Segundo dados da Produção Agrícola Municipal (PAM) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil produziu 2.460 toneladas de sementes de guaraná em 2022.

Desse total, 1.554 toneladas foram cultivadas na Bahia, dando ao estado, o título de maior produtor do país e do mundo, já que o Brasil é o único produtor comercial de guaraná.

A fruta é originária da Amazônia, mas foi na Bahia, que alcançou uma alta produtividade. Para os pesquisadores, o estado têm potencial de crescer ainda mais nesse cultivo.

André Luiz Atroch, pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, afirma que características do clima e solo baianos favorecem o cultivo.

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Planta pode chegar a até 10 metros de altura | Imagem: Reprodução/Canal Rural BA

“Essa produção na bahia está entre 300 e 400 kg, por hectare (dados do IBGE), enquanto no Amazonas está em 200 kg por hectare. E por que isso acontece? Porque os solos da Bahia são melhores.”, comenta.

Segundo Atroch, o clima baiano se assemelha ao do Amazonas, no entanto, a vantagem é que à noite é mais fria na Bahia.

Por isso, de acordo com o pesquisador, que no estado as doenças fúngicas não atacam o guaraná, como atacam no Amazonas, local de origem da planta.

“Aqui na Amazônia, a incidência de antracnose e superbrotamento, que são as principais doenças, é muito alta. Então, essa variedade, ela é tolerante as duas doenças, mas não é que ela seja imune, ela apresenta, e consegue produzir mesmo assim. E a praga tripes é uma única praga que na Bahia praticamente não existe”, explica o pesquisador André Luiz Atroch.

Além disso, estudos da embrapa apontam que cada pé de guaraná pode produzir entre 2 a 3 kg do fruto por ano.

Nova variedade 

Em entrevista ao Canal Rural, o pesquisador da Embrapa falou sobre os estudos e desenvolvimento de uma nova espécie da planta, geneticamente modificada, capaz de produzir um alto teor de cafeína.

Os valores de teor de cafeína da nova variedade são de 7% a 11%, enquanto, a BRS Noçoquém alcança entre 4% a 5% de cafeína.

“Um teor de cafeína realmente diferenciado, bem alto. Agora tem uma questão: a cafeína ela é um é uma característica como produtividade. É controlada por por vários genes envolvidos, então, o ambiente atua muito forte nas características, tanto para subir, como para descer”.

André Luiz Atroch, pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental

Falta incentivos

Apesar de todo o potencial, a cultura ainda precisa de mais incentivo e investimentos. No ano passado, fatores climáticos interferiram na produtividade desta safra.

André Luiz Atroch afirma mesmo apesar de ter um preço mínimo, o Brasil carece de políticas de incentivos para esse “ouro que o Brasil tem na mão”.

“O guaraná não é hoje em dia, não é só para refrigerantes, para a indústria de refrigerantes, ele tem uma gama de produtos, né? Farmacêuticos, produtos fitoterápicos, energéticos, uma gama de indústrias que usam”, explica.

Para o Leonardo a meta esse ano de 15 toneladas não deve ser batida por conta da seca histórica que atingiu a Bahia no ano passado.

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Imagem: Reprodução/Leonardo Queiroz

No entanto, o objetivo é que com a BRS Noçoquém, da Embrapa, é que as duas fazendas produtoras, atinja 80 toneladas de guaraná até 2031.

Para o diretor técnico que a atua na certificação orgânica, existem outras questões que dificultam o cultivo sustentável do guaraná.

“Outro desafio também é cultural, né? Fazer com que as pessoas entendam a importância de trabalhar com produto orgânico, a preservação ambiental, o respeito às pessoas e entender que a agricultura orgânica, ela acaba não sendo uma receita de bolo, né? Onde se faz tudo de maneira cartesiana. Tem que sempre respeitar o contexto de cada unidade produtiva pra que o modo de se trabalhar seja diferente também.”, conta.


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