O ano de 2023 na pecuária foi considerado desafiador para muitos produtores, principalmente para os criadores do Matopiba.
Na Fazenda Ana Terra, em São Desidério, propriedade do Grupo Stracci, que fica próxima da divisa da Bahia com o Tocantins e Goiás, o pecuarista utiliza o Sistema Integração-Lavoura-Pecuária (ILP).
Além da Bahia, o grupo também possui criação de filhotes no Tocantins que são transportados para a Bahia para o desmame e crescimento junto à lavoura. Ele conta que além do clima, o preço da arroba também foi um problema.
“Nós enfrentamos bastante problema esse ano foi essa oscilação no preço, a baixa do gado e ainda vemos o insumo bastante caro, que agora, pro fim do ano, que começou a baixar um pouco mais o preço de alguns insumos, como no caso do sorgo, milho, farelo de soja também abaixou um pouco, enfim, mas foi um ano bastante desafiador e esperamos que 2024 isso não aconteça”, conta.
Apesar dos desafios, houve crescimento do setor no matopiba nos últimos anos. De 2021 para 2022, por exemplo, o aumento no Tocantins foi de 6% e de 4,3% na Bahia, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo o IBGE, em todo o Matopiba, são mais de 34 milhões de bovinos.
- Bahia: 12.526.243
- Tocantins: 10.772.509
- Maranhão: 9.428.128
- Piauí: 1.407.772
Humberto Miranda, presidente da Federação de Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb), diz que a pecuária melhorou muito do ponto de vista genético, de produção e produtividade por área.
“A Bahia tem intensificado a atividade de pecuária de corte, e tem melhorado os nossos índices de produção de arroba por hectare, isso é muito importante do ponto de vista econômico”, disse.
Tecnologia x custos
Para enfrentar tais desafios, o uso da tecnologia têm sido um investimento para diminuir custos de produção.
Walter Veloso, gerente de planejamento e gestão pecuária da fazenda, conta que a ultrassonografia de carcaça é um dos métodos que aponta com precisão o momento exato do abate, diminuindo tempo de estadia e alimentação dos animais, por exemplo.
“Através dessa ultrassonografia de carcaça conseguimos identificar se o animal está no ponto ótimo de abate ou não. assim a gente consegue destinar esses animais para clientes específicos e produzindo sempre uma carne de qualidade”, explica.
Crescimento
De acordo com o IBGE, nos últimos 30 anos, o rebanho bovino cresceu 40% em todo o Brasil.
No mesmo período, as regiões Norte e Nordeste somadas, tiveram aumento de 104%. No maranhão, por exemplo, também há perspectiva de melhora na qualidade e produtividade.
“Os pecuaristas investindo na tecnologia genética e conhecimento técnico em relação à produção com ILP. Tudo isso faz com que o rebanho cresça, apesar da diminuição ou da menor incorporação de áreas na pecuária”, conta Raimundo Coelho, presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Maranhão (Faema).
No entanto, apesar de muitos números positivos, a queda no preço da arroba teve influência negativa na pecuária de corte durante 2023.
De acordo a Secretaria de Agricultura da Bahia (Seagri), a cotação da arroba foi de R$ 290 em 2 de janeiro para R$ 210 em algumas praças da Bahia, até 19 de dezembro de 2023.
Para os produtores de leite, segundo Humberto Miranda, um dos principais desafios foi o aumento das importações do produto e derivados, principalmente dos países do Mercosul.
Ele avalia uma concorrência desleal com o mercado interno de produção, já que segundo Miranda, o Brasil importou muitos produtos derivados do leite, principalmente da Argentina e Uruguai.
“Concorre de uma forma desleal com o mercado interno de produção, já que eles têm um subsídio muito grande nesses países”, disse.
Impactos do clima
Para 2024, a questão climática é outro fator que deve influenciar a agropecuária no Matopiba.
De acordo com Arthur Müller, meteorologista do Canal Rural, até metade de 2023, com a entrada do El Niño, as coisas foram ficando mais difícil para os pecuaristas.
“Esse período mais quente e menos chuvoso vem promovendo principalmente a questão do estresse térmico no gado e também a questão do risco para focos de incêndio. Então o ano começou bem e aí já para essa reta final não está tão bem para o pecuarista no Matopiba”
Müller ainda explica que as previsões apontam que o El Niño continuará atuando até aproximadamente metade do ano que vem
E que caso as previsões não mudem, os pecuaristas podem ter algum prejuízo com a questão da produtividade.
No entanto, também explica que a tendência de neutralidade deve acontecer com uma possível La Niña.
“Com a tendência de entrar numa neutralidade, com as chuvas voltando no final do ano com uma possível la ñina, pode haver aí uma recuperação aí muito boa para o setor da pecuária na região”, explica.
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