O posicionamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT) em relação ao aumento de biodiesel no diesel foi rebatida, em conjunto, por três entidades do setor. Nesta segunda-feira (27), a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio) e a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) divulgaram nota em que rebatem a postura adotada pela CNT.
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“Numa nota requentada, lançada na sexta-feira (24/02), a Confederação Nacional do Transporte (CNT) repete uma história mal contada de dois anos atrás. Dispara inverdades e desdenha de fatos reconhecidos e demonstrados publicamente com base em vasta quantidade de documentos e informações precisas”, afirma o trio de entidades. A reclamação refere-se ao fato de, na data mencionada, a CNT ter garantido que o aumento de biodiesel no diesel teria duas consequências negativas: encarecer o frete e aumentar a poluição.
“A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio) e a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) repudiam essa estratégia de enganação da opinião pública”, prosseguiram, em comunicado enviado à imprensa, as três entidades voltadas à produção de biodiesel. Para isso, elas elencaram 12 fatos que, conforme defendem, desmentem o que a CNT defende (lista abaixo).
A nota conjunta aponta, ainda, para o fato de a ampliação de biodiesel no diesel ser defendida no exterior. “Não se trata de um trabalho restrito ao mercado brasileiro, mas é fruto de um consenso internacional, que reúne entidades das mais variadas, inclusive de representantes do setor de transportes em vários países e dos mais renomadas órgãos ambientais dos Estados Unidos e da Europa”, afirmam as entidades.
Biodiesel: nota conjunta da Abiove, Aprobio e Ubrabio contra a CNT
Confira, abaixo, a íntegra da nota conjunta formulada pela Abiove, Aprobio e Ubrabio contra o posicionamento da CNT em relação ao aumento do biodiesel no diesel.
Nota à imprensa
Afirmações da CNT são falsas e revelam desprezo com o meio ambiente e a saúde das pessoas
A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (APROBIO) e a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) repudiam essa estratégia de enganação da opinião pública e neste comunicado reforçam informações que já são de conhecimento da própria Confederação do Transporte e de toda a sociedade
O setor do biodiesel no Brasil tem construído sua história baseada em pesquisas científicas, em evidências concretas e resultados comprovados. Não se trata de um trabalho restrito ao mercado brasileiro, mas é fruto de um consenso internacional, que reúne entidades das mais variadas, inclusive de representantes do setor de transportes em vários países e dos mais renomadas órgãos ambientais dos Estados Unidos e da Europa, como a Agência de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency – EPA) e a Agência Europeia do Ambiente (European Environment Agency – EEA).
Numa nota requentada, lançada na sexta-feira (24/02), a Confederação Nacional do Transporte (CNT) repete uma história mal contada de dois anos atrás. Dispara inverdades e desdenha de fatos reconhecidos e demonstrados publicamente com base em vasta quantidade de documentos e informações precisas.
A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (APROBIO) e a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) repudiam essa estratégia de enganação da opinião pública e aqui reforçam informações que já são de conhecimento da própria CNT:
1. Há consenso que o uso do biodiesel reduz as emissões de particulados, monóxido de carbono e hidrocarbonetos, demonstrando em farta base documental que o biodiesel reduz a poluição atmosférica e é benéfico ao meio ambiente.
2.Para estar mais bem informada, a CNT pode consultar inúmeras publicações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil (MAPA), do Ministério das Minas e Energia (MME), do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), além da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), cujo estudo demonstra que 244 mortes são evitadas por ano na Região Metropolitana de São Paulo pelo uso do biodiesel.
3. A entidade americana Clean Fuels, por meio de sua parceria contínua com a Trinity Consultants, divulgou os resultados de estudo que demonstram que a mudança para o biodiesel resulta em benefícios substanciais para a saúde, que incluem menor risco de câncer, menos mortes prematuras, redução de ataques de asma e menos dias de trabalho perdidos. O estudo é público e está disponível para a CNT.
4. O biodiesel já se transformou em um dos mais importantes instrumentos do governo brasileiro para cumprir os acordos internacionais de descarbonização, previsto no Acordo do Clima. A utilização do biodiesel reduz comprovadamente as emissões degases de efeito estufa de 70% a 94%, dependendo da matéria-prima e do processo industrial, conforme estabelecido na Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), com suporte técnico da ANP, MME e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).
5. O volume de biodiesel produzido de 2008 a 2022 (59,6 bilhões de litros), além de ter substituído a importação de diesel de petróleo no mesmo volume, evitou a emissão de 113,1 milhões de toneladas de CO2eq
6. No Brasil, nenhum dano a máquinas e motores foi comprovado pela ação direta ou indireta da utilização do biodiesel, nas misturas até 15% em alguns casos 20%, já aprovadas pelas montadoras, pelos fabricantes de motores e equipamentos em testes extensivos coordenados pelo Ministério de Minas e Energia (MME).
7. Em nível técnico, foram realizadas duas grandes baterias de testes de longa duração, legalmente previstas, para misturas de 10% e 15% de biodiesel ao diesel – o maior programa de testes de biodiesel do mundo.
8. A especificação do biodiesel brasileiro, definido pela RANP 45/2014, já tem parâmetros muito mais severos do que os que são praticados na Europa, o que faz do biocombustível brasileiro um produto superior.
9. Ainda assim, a ANP está prestes a publicar nova especificação, que vai credenciar o biodiesel como combustível adequado aos motores mais modernos (de acordo com o Proconve P8, programa baseado nas normas Euro, utilizada nos países europeus) e, com isso, encerrar a discussão sobre emissão de gases de escapamento associados ao biodiesel.
10. São inúmeros os programas de testes realizados pelo Brasil e toda a produção de biodiesel é acompanhada de relatório de conformidade do produto. Caso não atenda ao que dispõe a resolução da ANP, o biodiesel não pode ser comercializado.
11. Há grupos de usinas que passaram a entregar seus produtos, de forma deliberada, com parâmetros ainda mais restritivos do que os exigidos pelas especificações da ANP.
12. Ao aumentar a oferta de farelo no mercado brasileiro, a produção de biodiesel gera efeitos deflacionários. Segundo a entidade, um trabalho publicado no final de 2022 pelo Grupo Técnico da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do governo de transição indica que o aumento da mistura obrigatória de 10% para 15%, com consequente aumento da oferta de farelo de soja para a indústria de rações, reduz os custos para as cadeias de carnes, ovos e lácteos gerando um efeito deflacionário de 0,25%. No computo final, o biodiesel reduziria em 0,23% os preços do combustível aos consumidores.
Sendo assim, convidamos a CNT a explicar suas declarações em confronto com seus compromissos com a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) e com o processo de descarbonização do planeta. Convidamos a CNT a conhecer a experiência de seus pares nos Estados Unidos, onde a prática do B20 já é consenso e os estudos avaliam os avanços para B30 e B50. Na Indonésia, o B35 passou a ser adotado agora em fevereiro. Empresas de veículos comerciais e de motores já estão alinhadas a esses objetivos preparando seus produtos para cumprir seus objetivos de descarbonização.
Uma falsa mensagem reflete falsos compromissos
O posicionamento da CNT coloca em risco uma extensa cadeia de produção que gera emprego para a população e receita para o Estado, desenvolve a economia nacional com investimento, apoia o pequeno agricultor, reduz a emissão de gases de efeito estufa, melhora o meio ambiente e a qualidade de vida do cidadão.
A proposta da CNT de um debate público não encontra eco na atitude de seus representantes. Nos últimos dois anos, o setor de produção de biodiesel se manteve aberto ao diálogo sério em todos os momentos. Nesse período, foram várias vezes convidados para participar de reunião para discutir e comprovar os pontos, mas se abstiveram desse direito.
A pergunta que fica neste momento é quais interesses a entidade verdadeiramente representa?
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