“Poder voltar a andar, viver e aproveitar a vida. Isso não tem preço na medicina veterinária.” Essas são palavras do médico-veterinário Gustavo Delfino Xavier, egresso do curso de Medicina Veterinária da Uniube, que produziu uma cadeira de rodas para um tamanduá-mirim.
O animal, que é jovem e fêmea, e chegou ao Hospital Veterinário da Uniube (HVU) com suspeita de atropelamento.
A inovação em atendimento de animais silvestres é marca registrada do HVU, que criou o primeiro bico de resina como prótese em gavião do país.
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A tamanduá Tamires
Tamires, como a equipe apelidou o tamanduá carinhosamente, tem uma alteração na coluna e no cotovelo, o que resultou em uma paralisia nos membros e na cauda.
Para que ela pudesse caminhar e ter de volta a liberdade de um animal de silvestre, a equipe do HVU teve a ideia de construir uma cadeirinha para dar conforto para Tatá.
“Após um pedido da médica-veterinária Ananda e do professor Cláudio Yudi, por já ter confeccionado outras cadeiras, eles me pediram apoio. Já fiz várias, em torno de 15 a 20 cadeiras para cães. Essa é a primeira vez que faço para um tamanduá-mirim”, conta Delfino.
O professor ainda conta que já tinha conhecimento do assunto a partir das cadeiras feitas para cães, bastando adaptar a anatomia do paciente e estruturar a cadeira de rodas.
“A principal suspeita era de atropelamento e como ela estava com uma paralisia dos membros, suspeitava-se que ela tinha algum tipo de fratura mais séria. Então um centro de resgate entrou em contato com o HVU, por ter um pouco mais de experiência, principalmente na parte cirúrgica de tamanduás.”, conta Henrique Imada, aluno do 8° período e responsável pelo setor de animais silvestres do HVU.
A tamanduá veio de Goiás, de um centro de recuperação de animais silvestres.
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Tratamento
O tratamento para as fraturas foi, então, iniciado pelo Hospital. Contudo, ela ainda apresentava a paralisia dos membros e da cauda.
“Quando a Tamires chegou, devido à paralisia, ela tinha retenção urinária causada pela paralisia dos nervos. Por conta disso, desenvolveu uma cistite e um processo grave de hemoparasitose. Além disso, teve um processo grave de verminose, que culminou na queda da imunidade e causou um processo grave de anemia”, detalha a professora de anestesiologia e intensivismo do HVU, Ananda Neves Teodoro.
A professora ainda contou que foi necessária a retirada do sangue da Tamanduá às pressas, fazendo uma xenotransfusão, retirando o sangue de um tamanduá bandeira e transfundir para Tamires. Essa transfusão, nunca tivera relato em literatura, e ela sobreviveu.
Quanto à recuperação de Tamires, depois de um longo processo no qual passou, está se recuperando com a ajuda de acupuntura e fisioterapia, mas ainda tem um longo caminho pela frente. A tamanduá passará por mais exames, como de Raio-x, mielografia (para avaliação da medula espinhal); além de novo procedimento cirúrgico no úmero (osso do braço). ”
Um adendo para o quadro dela seria a possibilidade de estudar o caso de aplicação de células-tronco na tamanduá-mirim. Além disso, o uso de fisioterapias para complementar o tratamento e aumentar as chances de recuperação e quem sabe, voltar a andar sem a ajuda de aparelhos”, finaliza Gustavo.
Confira o vídeo do Tamanduá:
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Outras inovações do HVU
Em abril de 2019, a criatividade do gerente clínico do HVU e médico-veterinário, Cláudio Yudi foi destaque na mídia. A tartaruga, batizada de Michelangelo, é conhecida como cágado-de-barbicha. Então, a Polícia Militar Ambiental recolheu o animal e o levou ao Hospital para receber cuidados. Inicialmente, Cláudio Yudi faria a prótese para o cágado com resina plástica. Mas, depois, surgiu a ideia de fazer o teste com as pecinhas de Lego, doadas por um dos alunos de Medicina Veterinária.
Já em julho de 2019, o primeiro bico de resina do Brasil foi utilizado como prótese em Gavião do Cerrado. José, como se batizou a ave carcará no HVU, foi o primeiro da espécie no Brasil a receber uma prótese de bico feita de resina plástica. O animal é um gavião típico do cerrado e chegou ao hospital sem a parte superior do bico. A prótese foi feita pelo gerente clínico e médico veterinário, Cláudio Yudi, acompanhado de outros especialistas e alunos do curso de Medicina Veterinária da Uniube.