CRISE

Incêndios elevam índices de poluição no Acre e forçam suspensão de aulas

Estados vizinhos, como Amazonas e Rondônia, enfrentam problemas semelhantes

O Acre enfrenta uma grave crise de qualidade do ar devido aos inúmeros focos de incêndio que assolam o estado desde a segunda quinzena de agosto. O índice de qualidade do ar na região está até 30 vezes pior do que o limite permitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Como resultado, as aulas da rede pública de ensino foram suspensas nesta quinta-feira, conforme comunicado da Secretaria de Estado de Educação e Cultura. Estados vizinhos, como Amazonas e Rondônia, enfrentam problemas semelhantes, com a fumaça prejudicando a saúde pública e o cotidiano dos moradores.

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A intensificação dos incêndios e os desafios no combate

Em uma entrevista ao programa “Mercado & Companhia”, o meteorologista Guilherme Martins, doutor em Ciência do Sistema Terrestre pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), destacou que conter um incêndio é significativamente mais difícil do que preveni-lo. Ele explicou que, em um cenário de atraso das chuvas na primavera, o contingenciamento das queimadas será ainda mais desafiador, pois não se pode contar com a umidade natural para ajudar a controlar o fogo.

Martins explicou que os focos de calor são identificados por satélites, que detectam emissões de energia de áreas queimadas. Esses focos variam em tamanho, de pequenas queimadas de 375 metros até grandes incêndios de 5 quilômetros de extensão. “A detecção é feita por meio de sensores acoplados aos satélites, que identificam a presença de queimadas. Pequenos ou grandes, todos os focos são contabilizados e monitorados”, detalhou.

Incêndios recorde e fatores contribuintes

O especialista ressaltou que 2024 está se configurando como um ano recorde para incêndios no Brasil, com condições climáticas adversas, como altas temperaturas e baixa umidade, exacerbadas pelo fenômeno El Niño. “Nunca antes visto em termos de intensidade, este ano tem sido marcado por uma combinação perigosa de fatores, incluindo o aquecimento global, que amplifica as condições para as queimadas“, afirmou Martins.

Além disso, Martins comentou sobre a peculiaridade observada no interior do estado de São Paulo, onde múltiplos focos de incêndio apareceram simultaneamente em diferentes pontos, conforme análise do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Ele sugeriu que esses focos podem ser resultado de ações humanas deliberadas. “A maioria das queimadas no Brasil é de causa antrópica, e agosto foi um mês atípico para São Paulo, com indícios claros de ações humanas coordenadas“, explicou.

Estratégias de mitigação e prevenção

Para minimizar os impactos das queimadas, Martins destacou a importância de campanhas de educação ambiental. “É crucial conscientizar a população sobre os danos causados pelas queimadas, que não afetam apenas o local onde ocorrem, mas também têm consequências para regiões distantes, como o Sul e o Sudeste, prejudicando a saúde pública e a infraestrutura“, disse ele.

Com a previsão de períodos secos cada vez mais longos e menores totais de chuva no Brasil Central, a agricultura também precisará se adaptar. “O setor agrícola, assim como o setor elétrico e outros, deve se preparar para lidar com desafios climáticos mais frequentes e intensos“, concluiu Martins, destacando a necessidade de práticas mais sustentáveis e planejamentos de longo prazo para enfrentar as mudanças climáticas.

O impacto das queimadas no clima e na saúde

Além de agravar a crise ambiental, as queimadas contribuem significativamente para as mudanças climáticas, lançando grandes quantidades de carbono na atmosfera e aumentando a temperatura global. “As queimadas são um ciclo vicioso que alimenta as mudanças climáticas, criando um ambiente mais seco e quente, que, por sua vez, facilita a ocorrência de mais incêndios”, finalizou Martins.

Com a situação se deteriorando rapidamente, especialistas e autoridades enfatizam a urgência de ações coordenadas para mitigar os danos e prevenir futuros desastres ambientais no Brasil.