Uma fábrica prestes a ser inaugurada no Paraná vai produzir 240 mil toneladas de malte por ano, ingrediente essencial da cerveja. O volume se soma a outras 360 mil toneladas da produção atual e consolida o estado como maior produtor de malte do país e um dos maiores do mundo, com potencial para 600 mil toneladas/ano. Com a ampliação da oferta, estima-se que 5 de cada 10 cervejas brasileiras vão conter malte do Paraná. O Brasil produz 1,6 bilhão de litros de cerveja por ano.
Na primeira fase de operação, a maltaria é resultado de um investimento de R$ 1,6 bilhão, fruto de um projeto de intercooperação que reúne seis cooperativas paranaenses: Agrária (Guarapuava), Bom Jesus (Lapa), Capal (Arapoti), Castrolanda (Castro), Coopagrícola (Ponta Grossa) e Frísia (Carambeí). A fábrica, já em operação, tem inauguração oficial marcada para 6 de junho. A previsão de faturamento anual é de R$ 1 bilhão, gerando 150 empregos diretos e 3 mil indiretos na região de Ponta Grossa, município onde a unidade foi instalada.
A fábrica vai demandar 300 mil toneladas de cevada por ano. A Região dos Campos Gerais, onde ela está localizada, produz hoje a metade disso. O Censo Agropecuário divulgado em 2022 pelo IBGE, apontou que o Brasil produziu 522 mil toneladas de cevada no ano, sendo que o maior estado produtor foi o Paraná, com 350 mil toneladas. Em 2023, por conta das chuvas excessivas, a produção nacional caiu para 416,2 mil toneladas, e a do Paraná para 279 mil toneladas.
O clima e o solo dos Campos Gerais são determinantes à produção de cevada. O superintendente de negócios da Cooperativa Agrária Jeferson Caus, que responde pela operação da Maltaria Campos Gerais, explica que a localização da fábrica foi escolhida por este motivo. “O cultivo da cevada vai muito bem na área que vai do Sul de São Paulo até o Sudeste do Paraná”, destaca.
Hoje o malte que atende o mercado cervejeiro brasileiro é produzido em Guarapuava, distrito de Entre Rios (PR), pela Agrária Malte (Agrária), em Taubaté (SP) pela multinacional francesa Soufflet (Maltaria do Vale) e em Porto Alegre (RS), pela Maltaria Navegantes (Imbev). “Mesmo com este novo investimento, metade do malte utilizado no Brasil ainda será importado. Ou seja, a produção de malte brasileira ainda tem muito espaço para crescer”, ressalta Jeferson Caus.
A produção agrícola no Paraná já está há cinco anos se adaptando a esta nova demanda. Segundo Caus, alguns produtores já trocaram outras culturas pela cevada, outros aumentaram a área, além das novas áreas que estão sendo dedicadas a este fim. Neste primeiro momento, havendo necessidade, a Maltaria Campos Gerais vai importar cevada do Uruguai e da Argentina para complementar. Mas a ideia é continuar fomentando o cultivo na região, que deve suprir toda demanda da fábrica de malte quando atingir 70 mil hectares em área plantada de cevada.
A segunda fase do negócio, que prevê o aumento da produção, tem previsão de investimento de mais R$ 1,5 bilhão, mas ainda sem data para acontecer: “primeiro vamos estabilizar o negócio, e depois daremos o segundo passo”, afirma Caus.
Água, ar e energia
A maltaria foi construída dentro das normas ambientais exigidas pelo Brasil, e em alguns quesitos, indo além disso e atingindo padrão elevado, devido às exigências das cervejarias que serão suas clientes. A fábrica vai, por exemplo, devolver ao rio a água que ela usou no processo, mais limpa do que pegou. O tratamento é feito ali mesmo, numa estação construída para este fim. A energia é limpa e renovável, produzida com biomassa, no caso, eucalipto e outras madeiras de reflorestamento, além de usinas de energia solar e a adequação aos protocolos de emissão de carbono.