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TRAGÉDIA CLIMÁTICA

Cenário de guerra: enchente no Vale do Taquari arrasa avicultura do RS e causa perdas milionárias

Produtores e funcionários de granja com mais de 40 anos de atividade lutam para retomar atividades em meio à destruição

A Organização Avícola do Rio Grande do Sul estima que as perdas com aves poedeiras em consequência das enchentes ultrapassem R$ 3,5 milhões, com a morte de 150 mil aves. O estado está entre os grandes produtores de ovos do país.

O Canal Rural equipe visitou uma granja de produção no Vale do Taquari, que ficou submersa por cinco dias, local onde houve o maior número de aves perdidas pela enchente na região.

As maiores perdas estão no setor de ovos. Na granja de Frederico Oliveira Frühauf, estavam alojadas mais de 90 mil aves.

Do dia 2 ao dia 6 de maio, toda a granja na cidade de Taquari ficou alagada. Agora, o cenário revela os estragos nas estruturas e a cor do barro, algo nunca visto nos mais de 40 anos do estabelecimento.

“Eu fiquei aqui com o vigilante tentando erguer o que fosse possível, mas não deu. Dentro do depósito, a água deu 2 metros e, no geral, deu 4 aqui na granja toda. Quando a água baixou, encontrei um cenário de guerra, todos os animais mortos. É triste”, disse Frühauf.

Agora o lodo trazido pelo rio cobre o chão dos galpões, que mostram na estrutura as marcas deixadas pela subida da água. Vai levar um tempo até que a limpeza e a sanitização sejam feitas para a granja voltar a operar.

Até a água baixar, imaginava-se que todas as 93 mil aves tinham morrido afogadas. Só depois de alguns dias foi possível acessar a granja e ver que algumas aves se salvaram.

Antes das enchentes, a granja produzia 1.100 caixas de 30 dúzias de ovos por semana e abastecia 37 cidades do Vale do Taquari. No negócio familiar, que começou com o avô de Nery Frühauf, os estragos são incalculáveis.

“Para te dizer bem a verdade, eu não cheguei perto porque não sei se ia aguentar. Primeira coisa que pensei foi que vou ter que dar força para meu sobrinho e meu filho continuarem a trabalhar sem desanimar”, disse o produtor.

Nove aviários, que ficaram bem comprometidos, devem ser desativados e a produção vai seguir com menos aves. Também foram perdidas 40 toneladas de ração que estavam no silo e um pavilhão foi “invadido” por embalagens de ovos trazidas pela força das águas. Uma perda de R$ 40 mil.

“Quem sabe a partir de julho vamos ter o primeiro lote de frangas com 90 dias de idade para começar de novo. O custo para voltar a produzir como antes é o grande problema. Estamos descapitalizados, e uma franga com 90 dias custa R$ 2. Até começar a por ovos, calculamos ao redor de R$ 32. Se calcular 90 mil galinhas, vai precisar de uns R$ 3 milhões, no mínimo”, disse Frederico Frühauf.

Agora, o trabalho é de limpeza do barro. Para não paralisar as atividades completamente, a granja está comprando ovos de parceiros e embalando para manter a renda e os 22 funcionários. Cinco deles perderam tudo.

A casa de um deles, Marcos da Silva, deslocou-se com a enxurrada e foi parar em cima de um carro. Para trás ficaram as roupas no varal e a destruição do lar que ele dividia com esposa e quatro filhos.

“Quando eu vim aí, fiquei sem chão. Agora, temos que lutar para conquistar as coisas de novo. Trabalhando, precisamos de ajuda também”, disse o funcionário Marcos.

Produção de ovos no RS

Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o Rio Grande do Sul produziu no ano passado 198 milhões de dúzias de ovos, sendo o sétimo maior produtor do país.

Em exportação, foram US$ 21 milhões em 2023, a maior receita entre os estados. Números que, pelo menos na granja da família Frühauf, vão demorar a ser retomados.

“A princípio, vamos seguir só com uma parte, com 60 mil galinhas, e comprar ovos de outros granjeiros para atender à nossa clientela. Se eu ficar pensando muito, me emociono, assim como vários perderam tudo também. Acredito que tem muita gente orando por força para o Rio Grande do Sul”, disse o produtor.

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