SEM RESPOSTAS

Perdas com enchentes: produtores gaúchos organizam novo manifesto

Com dívidas prorrogadas somente por mais um mês, setor cobra providências do governo federal; expectativa é de reunir novamente mais de 5 mil produtores na próxima 6ª, em Rio Pardo (RS)

Propriedade leiteira após enchente no Rio Grande do Sul
Foto: Eliza Maliszewski/Canal Rural

Produtores gaúchos de vários segmentos organizam um novo manifesto para pedir medidas de urgência e de socorro ao governo federal. São esperadas entre 5 mil e 10 mil famílias no Parque da Expoagro Afubra, em Rio Pardo (RS), na próxima sexta-feira (19).

No dia 4 de julho ocorreu a primeira reunião do grupo SOS Agro RS, em Cachoeira do Sul. Nesse evento, os produtores formularam um documento onde apoiam os pleitos já solicitados pela Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e pela Federação dos Trabalhadores da Agricultura  Familiar do Rio Grande do Sul (Fetag-RS). 

No dia seguinte, a chamada “Carta de Cachoeira” foi entregue em mãos para o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Produtores ouviram do titular da pasta que “está sendo feito um diagnóstico da situação do estado e as medidas não virão de forma homogênea. Recursos serão destinados conforme cada nível de perdas”.

“Demos um prazo de dez dias para o governo federal se manifestar e esse prazo já se esgotou. Por isso vamos nos mobilizar novamente. Será um espaço para produtores contarem as suas situações e o nível de desespero que está batendo, já que nossas dívidas estão prorrogadas até 15 de agosto. Já tem banco cobrando, recolhendo máquinas financiadas”, relata o produtor de Cacequi (RS), Lucas Scheffer.

A expectativa também é que estejam presentes pelo menos um representante de cada poder: estadual, federal e legislativo (Câmara e Senado). 

Perdas sem tamanho

Lavoura de soja destruída em Estrela (RS). Foto: Eliza Maliszewski
Lavoura de soja destruída em Estrela (RS). Foto: Eliza Maliszewski

Conforme a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), as chuvas no Rio Grande do Sul provocaram perdas de R$ 3,372 bilhões para a agropecuária gaúcha. Esse montante é uma média, uma vez que ainda há propriedades isoladas pelos deslizamentos e os prejuízos seguem se consolidando com a semeadura da safra de inverno. Segundo a Emater do estado, em muitas regiões, em função de umidade e perdas em solo, produtores estão desistindo de plantar trigo neste ciclo.

O drama também acompanha produtores de leite. A maior demanda é por comida para as vacas de produção. A perda da silagem já estocada ou na lavoura exige que o alimento seja trazido de fora do estado, aumentando os custos.

“Eu tenho 180 animais, sendo 70 em lactação. Minha propriedade em Arroio do Meio (RS) foi bastante atingida. Não perdemos animais, mas 26 hectares de milho silagem que serviriam para tratar as vacas até janeiro se foram. Inicialmente vinham doações mas isso está diminuindo e a incerteza aumenta a cada dia se teremos como seguir com esses animais”, conta Leonardo Franz.

Demandas solicitadas

Os produtores pedem que o governo federal atenda aos pedidos já feitos em maio pelas entidades. Entre as demandas, está a prorrogação das dívidas por quinze anos, com carência de três anos e juros de 3% ao ano, além de crédito para reconstrução, reinvestimento e giro nas propriedades. Estariam aptos a receber essas medidas produtores residentes em municípios que declararam situação de emergência ou estado de calamidade e que estejam acompanhados de laudo de perdas assinados pelo engenheiro agrônomo responsável, ou entidade pública de extensão e/formação profissional,ou com comprovada dificuldade de comercialização por razões logísticas.

Além desses pedidos imediatos, o movimento entende que “deve ser revisto o seguro agrícola, pois as regras atuais não atendem a realidade dos produtores rurais e que deverá ser aumentada a subvenção para os seguros, permitindo assim aumentar o nível de cobertura mínima para 35 sacas, tendo em vista que o custo das lavouras aumentou. Há uma necessidade de se voltar as normas do Proagro nas condições anteriores, sem considerar a classificação física do solo, que reduz os percentuais de cobertura (100%, 70% ou 50%), do valor financiado”.

A Fetag-RS também pede que as medidas sejam estendidas aos pequenos produtores. “Já estivemos em comitiva lá em Brasília, buscando soluções, por diversas vezes. Entendemos que quem perdeu tudo deva ter anistia; para quem perdeu parte, haver uma prorrogação para dar tempo de se reorganizar e voltar a produzir. É importante estarmos juntos e mostrando nossa força. Como entidade, negociamos calçados com o apoio dos produtores”, destaca o presidente da Fetag-RS, Joel Carlos da Silva.