Na safra 21/22 o Rio Grande do Sul plantou a maior área de trigo dos últimos 42 anos.
Conforme a Emater/RS foram 1,45 milhão de hectares e uma produção de quase 5 milhões de toneladas.
Com clima seco a cultura teve desempenho acima do esperado, alcançando produtividade média de 3,4 mil quilos por hectare.
Regiões que tradicionalmente não cultivavam grãos de inverno apostaram no trigo. A região Central, por exemplo, teve aumento de área de cerca de 30%.
Neste ciclo a expectativa das entidades do setor estão mais cautelosas.
Um levantamento feito pela Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (Fecoagro), feito entre 20 cooperativas do estado sobre a intenção de plantio de trigo para a safra de 2023, identificou que deve haver um aumento de 1,42% na área de cultivo.
“Há um sentimento de manutenção de área cultivada. Acreditamos no cenário, mas com preocupações”, destacou o diretor executivo da Fecoagro, Sérgio Feltraco.
Fatores como a falta de crédito e seguro agrícola, preços muito baixos da saca no mercado e possibilidade do impacto de El Niño estão fazendo o produtor repensar o investimento na lavoura de inverno. Anos com o fenômeno costumam trazer maior umidade ao Sul do país o que impacta em mais doenças na lavoura. Também colabora o fato de o estado ter vivido a terceira estiagem consecutiva e o produtor ficou descapitalizado.
“Mesmo com custos menores de implantação nesta safra, em torno de 30 a 40 sacas por hectare (com a saca em média a R$ 65,00) o produtor está sem dinheiro para investir. Por outro lado alguns estão apostando no trigo como forma de fazer um dinheiro nesta época e nós estamos tentando incentivar este investimento. É importante para rentabilizar e manter o sistema de lavoura como um todo”, destaca o engenheiro agrônomo da Cotribá, Marcos Alberti.
Aposta depois de 10 anos
O produtor de Rio Pardo (RS), Jordan Bock, plantou trigo pela última vez em 2013. Nesta safra vai cultivar 60 hectares com o cereal. A aposta veio motivada pelos bons resultados alcançados pelos vizinhos na última temporada. “A gente criava gado e o negócio do gado tá ruim né? Então a gente vai arriscar no trigo devido aos insumos terem baixado, não vai dar um custo tão alto e para rotacionar um pouco também. Vamos arriscar. Pode ser que dê certo e a tendência é dar certo”, comenta.
O produtor busca driblar o clima com aposta em cultivares mais resistentes e produtivas, adaptadas para a região dele. Nos últimos anos a pesquisa vem como aliada para dar estabilidade produtiva. “Em anos de umidade as doenças fúngicas costumam afetar mais. A resistência genética é importante. Para questão de Ph e resistência à germinação na espiga as cultivares já vem muito mais seguras e oferecendo também melhor liquidez para o produtor”, explica a assistente técnica comercial da Biotrigo, Aline Primon.
“Ano é de incerteza”, diz Emater/RS
A semeadura no Rio Grande do Sul costuma se intensificar a partir da segunda quinzena de junho mas em algumas regiões, como Noroeste e Fronteira Oeste, já há trigo germinado.
Nessa região, parte dos produtores estão concentrando o plantio nas variedades mais precoces a fim de não atrasar o cultivo da soja. A Emater/RS deve divulgar a intenção de plantio nos próximos dias.
A consulta de dados junto ao Banco Central sobre os créditos contratados para a safra de trigo deste ano apontam para o financiamento de 710 mil hectares, quando o contratado na safra passada, neste mesmo período, ultrapassou 1 milhão. Isso pode indicar redução de área.
Para o assistente técnico em culturas da Emater/RS, Alencar Rugeri, o produtor que vai investir no trigo está mais motivado pelos benefícios ao solo e para quebrar o ciclo de pragas do que pelos ganhos com a cultura. Nesta semana o boletim técnico da entidade aponta a saca de 60kg a R$ 64,65.
“Nós estamos em uma perspectiva complexa e o ano é de incerteza. O produtor está indo para o trigo muito mais pela questão agronômica do que a econômica, porque a gente trabalha sempre fomentando a questão de um sistema de plantio organizado, com planejamento, gestão, com profissionalismo. Então os produtores estão muito mais nessa balada do que em ter um resultado econômico como o ano passado”, completa Rugeri.