INVESTIMENTO

Tecnologias devem impulsionar setor de uva e vinho no RS

Bebidas gaúchas receberam mais de 700 premiações no ano passado por qualidade e sustentabilidade na produção

Nessa época os vinhedos do Rio Grande do Sul entram na época de dormência que é quando as folhas mudam de cor e caem, preservando energia na planta para uma nova safra no verão seguinte.

Nesse período também as cooperativas e marcas de vinhos, espumantes e sucos realizam feiras para mostrar o que há de mais novo em tecnologias de produção e manejo a seus produtores associados.

No final de maio uma vinícola centenária realizou um evento com mais de 20 expositores e palestras técnicas voltadas à agricultura e boas práticas.

Os conteúdos são fornecidos gratuitamente aos produtores que entregam uva para o beneficiamento na empresa. Atualmente são 400 famílias produtoras.

“Nesses eventos a gente busca promover uma integração na nossa cadeia produtiva, uma qualificação dos nossos produtores, uma atualização sobre novas práticas, novas tecnologias que possam ser aplicadas e que venham otimizar recursos aplicados nos vinhedos e uma leitura sobre uma viticultura mais sustentável”, destacou o diretor-presidente da vinícola, Maurício Salton.

Entre os destaques estão os drones de pulverização, cada vez mais presentes na vitivinicultura.

Os equipamentos permitem aplicações mais precisas, especialmente em áreas de difícil acesso por pulverizadores terrestres. Outra tecnologia que já vem sendo trabalhada pelas vinícolas da serra gaúcha é o sistema Crops.

Uma estação meteorológica móvel é instalada na entrada dos vinhedos e, com sensores, faz a medição das condições climáticas apontando se há tendência ou não da incidência do míldio, principal doença fúngica das uvas.

Com esses dados o produtor aplica fungicida somente quando há a real necessidade, gerando economia em produto e uma produção mais sustentável. “A estação envia para um aplicativo de celular os dados e aí o produtor recebe todo dia informações do vinhedo, como está a evolução da doença e se há necessidade de  fazer a aplicação”, complementa Haroldo Tonetto, sócio da startup gaúcha que desenvolveu a tecnologia.

Para Ivanio Bortoncello, produtor de uva em Cotiporã (RS), as informações e tecnologias novas só vem a agregar na produção. “Agregar sempre mais na propriedade, conhecimento, ver as novas tecnologias, máquinas. Cada vez mais a gente quer inovar e agregar mais na propriedade para rendimentos melhores na produção”, destaca.

Pesquisa como aliada

O Brasil está à frente de muitos países quando o assunto é melhoria genética de videiras mesmo ainda sendo um novato no mundo do vinho.

Por aqui a produção começou em 1532 enquanto em países como Itália, por exemplo, o primeiro rótulo foi feito há mais de 3 mil anos. A Embrapa Uva e Vinho, com sede em Bento Gonçalves (RS), mantém um robusto programa de desenvolvimento de cultivares. São mais de 40 anos de pesquisa e, nesse período, foram 22 cultivares lançadas no mercado.

O chefe-geral da unidade, Adeliano Cargnin, explica que foi um longo período até formar um banco de germoplasma para o desenvolvimento de variedades.

Hoje são mais de 1400 variedades armazenadas. “Hoje temos capacidade de lançamentos anuais até. Demorou muito para desenvolver a base da pesquisa. O que se busca é qualidade de fruto, qualidade do vinho e suco, também a produtividade que é fundamental. O melhoramento tentou introduzir genes de resistência a doenças, dar uma adaptabilidade maior às nossas condições e ao nosso nível tecnológico também que é diferente de outros países”, completa.

Reconhecimento com sabor de negócios

Somente no ano passado o Brasil recebeu 704 premiações em 23 concursos de vinhos e espumantes realizados em 12 países em 2022, de acordo com a Associação Brasileira de Enologia (ABE).

No primeiro semestre de 2023 o setor apresentou um leve aumento de vendas em comparação com o mesmo período do ano passado com alta de 2% no primeiro bimestre.

Em 2022 o mercado de vinhos no Brasil movimentou 438,8 milhões de litros. Este volume representa uma redução de 10% sobre o total comercializado em 2021 e 12% em relação a 2020, anos onde  a pandemia potencializou o consumo.

A projeção otimista do setor para os próximos meses é reforçada especialmente pela categoria de espumantes. Em 2022, mais de 70% das vendas da bebida borbulhante se concentrou no segundo semestre, apontam dados da União Brasileira de Vitivinicultura, a Uvibra.

“É claro que o segundo semestre concentra uma procura maior em função das festividades de final de ano, mas há um aumento de percepção no geral em relação ao espumante nacional. Nós observamos que a bebida vem se consolidando cada vez mais nos lares brasileiros, ao se tornar uma opção mais eclética, democrática. Esse reconhecimento do consumidor, é claro, oportuniza maior volume de vendas”, pontua o presidente da Uvibra, Daniel Panizzi.

As boas expectativas do setor para o segundo semestre encontram força também no calendário de eventos. Realizada de 12 a 14 de setembro de 2023, a Wine South America, que acontece em Bento Gonçalves (RS), maior região produtora de vinhos e espumantes no Brasil deve reunir expositores de 11 países.

A visitação do evento é qualificada e direcionada especialmente a profissionais do segmento que irão conhecer os últimos lançamentos em vinhos e espumantes do Brasil.