Na última semana, surgiram muitos relatos de produtores de soja do Paraná com problemas em suas lavouras. A razão provável é o excesso de umidade no solo e nebulosidades. De olho nos casos de abortamento de vagens, o pesquisador da Embrapa André Prando, visitou algumas áreas de soja localizadas no oeste e norte do estado. O que ele encontrou foi assustador.
A primeira importante informação é que o problema de abortamento de vagens não está acontecendo com uma variedade específica, ou seja, a culpa não é da cultivar.
“Estive em Atalaia, no norte paranaense e, em Santa Helena, no oeste do estado, para verificar principalmente o abortamento precoce das vagens. Visitei algumas lavouras ali nessas regiões e vi muitas cultivares diferentes passando pelo problema. As mesmas cultivares, no entanto, quando semeadas em outra época não apresentavam qualquer problema. Então o problema não é a cultivar” , afirma Prando.
A segunda informação que vale destacar, é que a razão do problema ainda está sendo investigada, mas o clima deve ser a razão principal.
“Não sabemos se o problema é só o clima, ainda estamos investigando a questão de chuvas, umidade relativa do ar, nebulosidade e radiação para tentar entender o que está ocorrendo. A princípio nos leva a crer que é o excesso de água no solo, umidade relativa e nebulosidade. Mas algumas regiões tiveram o problema um pouco antecipado, desde dia 4 de janeiro. Por isso estamos estudando melhor essa questão”, conta.
Problemas encontrados são sérios
Ao passar por algumas áreas, o pesquisador se deparou com uma situação bastante séria. Já que muitas vezes os produtores achavam que parte das vagens que não caíram, poderia lhes render alguma coisa ainda.
“Esse problema preocupa, pois as perdas são muito elevadas. Tem produtor que relatou ter 70% de queda de vagens e, quando chegamos para ver as que restaram, notamos que os grãos dentro delas já estão abortados e até ficaram escuros. Em poucos dias essa vagem vai cair também. Ou seja, ele tinha a falsa impressão que ainda colheria algo, mas as perdas devem ser ainda maiores, podendo chegar a 100% do talhão. O curioso é que olhando, são as lavouras mais bonitas da região”, afirma o pesquisador da Embrapa.
Um fato curioso é que, poucos metros da lavoura com problema, a mesma cultivar plantada em outra época não apresenta problemas.
“Ou seja, é algo específico e pontual, mas em todos os lugares que tiveram esse problema, a situação é preocupante. O detalhe é que essa soja foi plantada dentro da janela ideal, com o manejo adequado e a lavoura está realmente muito bonita. Em uma delas são 28 alqueires, não é tão pequena assim estando no Paraná e é possível notar uma grande uniformidade desse problema”, diz Prando.
O que fazer em casos de perda total da área
Nos casos das áreas acompanhadas pelo pesquisador não há muito o que fazer, a não ser acionar o seguro e passar o rolo na soja, já preparando o terreno para a segunda safra.
“Esses produtores que estão com muitas perdas já constatadas pelos engenheiros agrônomos é acionar o seguro e avaliar. Até porque essa planta já está desequilibrada hormonalmente, o caule está engrossado, a cor está mais verde escura, folhas retorcidas, emitindo flores no baixeiro, esticando ponteiras e formando cachopla. Em resumo, está anormal, com problema fisiológico, pois como abortou quase todas as vagens não tem para onde mandar a energia. Provavelmente ela tentará emitir novas vagens para completar o ciclo, só que isso vai alongar muito o ciclo dessa planta e isso é um problema para a segunda safra”, explica Prando.
Segundo ele, as áreas que visitou não devem colher quase nada, e tentar colocar as máquinas no campo só trará mais custos e prejuízos.
“Duas fazendas que visitei não terão o que colher quase, as perdas são muito elevadas, não justifica levar a lavoura adiante. Detalhe, não estamos falando de reboleiras, mas sim da maior parte das lavouras. O produtor irá dessecar e passar o rolo nessa soja, para que ela vire palha para a segunda safra”, finaliza ele.