A pandemia da Covid-19 reduziu o fluxo de pessoas nos comércios e levou ao fechamento de lojas e feiras que eram importantes para a comercialização de produtos da agricultura familiar. A crise aflorou uma questão urgente: é necessário digitalizar os negócios, para conseguir escoar os alimentos.
Porém, uma parte considerável dos produtores rurais brasileiros não tem familiaridade com redes sociais e plataformas de e-commerce — muitos nem sequer têm acesso à internet de qualidade. Por isso, a Central de Comercialização das Cooperativas da Caatinga decidiu desenvolver um guia para ajudar o agricultor familiar a se localizar no mundo virtual.
“Com a pandemia surgiu a ideia de construção deste guia, por conta da dificuldade de comercialização enfrentada pelos produtores. A questão logística ficou difícil, fazer o produto chegar ficou difícil”, conta o diretor-presidente da entidade, Adilson Ribeiro dos Santos.
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Conhecida como Central da Caatinga, a entidade é um segundo passo da Rede Sabor Natural do Sertão, que trabalha a organização de base de produtores para venda de produtos há 25 anos. A loja física fica em Juazeiro (BA), perto de Petrolina (PE), dois grandes polos consumidores, que contam com boa logística.
E mesmo em município movimentado, as vendas da loja física da Central da Caatinga caíram. “Nosso público tem, em média, 60 anos ou mais. São pessoas que procuram alimentos mais saudáveis, com menos agrotóxicos. Esse público, por conta da pandemia, acabou se ausentando da loja. Parou a visitação e a compra”, comenta Santos.
Para a construção do “Guia Prático para Comercialização de Produtos da Agricultura Familiar: Lições aprendidas no período de pandemia e novas perspectivas”, a central contratou uma consultoria especializada em marketing e outras áreas importantes.
Mas o presidente da entidade destaca que as recomendações não saíram apenas da cabeça de pessoas que ficam em escritórios. “Essa equipe fez entrevistas com vários empreendimentos da agricultura familiar.Teve todo um público envolvido, e esse guia sai com a cara do produtor”, afirma.
O documento, que contou com financiamento do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), é totalmente gratuito (confira no fim da publicação) e aborda desde a questão da divulgação dos produtos nas redes sociais até questões tributárias relacionadas a vendas interestaduais.
Internet é um grande canal de comercialização da agricultura familiar
A Central da Caatinga dá o exemplo ao expandir os negócios online. A loja virtual já atende os municípios de Juazeiro e Petrolina, mas está sendo adequada para vendas a nível nacional. Isso passa por ajustes tributários, contratos com transportadoras que possam baratear os custos de transporte etc. “No máximo até junho já estará no ar para todo mundo que queira comprar um produto da nossa região”, diz.
Segundo Santos, a comercialização por meio da internet é tendência. Além disso, as redes sociais também são um meio importante para divulgação dos produtos. “Levam a outros lugares, onde o seu catálogo não chegaria”, diz.
No caso dos agricultores familiares que não têm condição de montar uma loja virtual, o presidente da central recomenda se juntarem em associações e cooperativas. A união, aliás, é o caminho apontado por ele para facilitar os negócios. “Quanto mais nos juntarmos na lógica do negócio, mais capacidade de entrega teremos. Vamos garantir sustentabilidade, trabalho e renda para esses produtores”.