Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o Brasil não terá problemas de abastecimento do cereal no curto prazo, em decorrência do conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
Em uma nota divulgada nesta sexta-feira (4), a entidade afirma que a “Argentina já sinalizou ter trigo suficiente para atender as necessidades brasileiras”.
A Abitrigo afirma que “está acompanhando de perto as questões relacionadas aos impactos que os conflitos entre a Rússia e a Ucrânia podem trazer para o mercado do trigo no Brasil e no mundo”. Nesta semana, o trigo foi a commodity que mais se valorizou no mundo: 29%.
Atualmente, a Rússia é o maior exportador mundial de trigo e a Ucrânia ocupa a 4ª posição neste ranking. Juntos, são responsáveis por cerca de 30% do mercado mundial de exportação do trigo, o que corresponde a 210 milhões de toneladas.
“É inevitável que a crise da Ucrânia afete diretamente os preços do trigo a nível mundial”, explica a Abitrigo.
Impactos
Segundo a Abitrigo, se o conflito armado se prolongar, a suspensão dos embarques nos portos ucranianos vai continuar e os países importadores vão buscar outros mercados exportadores, como Estados Unidos, Austrália, Canadá e Argentina.
“Isto poderá manter os preços em níveis elevados. O mercado global de trigo, nos dois últimos anos, foi fortemente afetado por crises climáticas e pela Covid-19, que impactou o posicionamento de estoques de segurança e fretes marítimos, cujos valores sofreram aumento de até três vezes”, diz a entidade.
“Por tudo isso, o mercado mundial de trigo precificou, de forma contundente, indicando que visualiza um alongamento da crise. Até o dia anterior a esta nota, 8 dias da invasão da Ucrânia, o cereal subiu 35,7% nos Estados Unidos. A Argentina, nosso maior fornecedor, acompanha esta tendência. A escalada altista ainda não se estabilizou e continua em forte ascensão. O mercado mundial de trigo tem apresentado grande dificuldade em precificar o cereal, pois isto depende da duração e da abrangência da crise. Esta visão do mercado tem gerado oscilação nos preços. Na Argentina, nosso maior fornecedor, os preços também estão oscilando. Será necessário assim, maior definição do desmembramento da crise para posicionamento do mercado”, complementa a Abitrigo.
Brasil
As análises da Abitrigo indicam que o Brasil não terá problemas de abastecimento do cereal no curto prazo, “pois a Argentina já sinalizou ter trigo suficiente para atender as necessidades brasileiras, além de que o volume vindo da Rússia é muito pequeno e não temos registro de compras do trigo da Ucrânia. O mesmo não ocorre em relação aos preços no mercado global e no mercado interno”.
Segundo a entidade, um fator que pode aliviar um pouco esse aumento, mas longe de ser significativo, é a queda no valor do dólar em relação ao real nos últimos dias, o que pode compensar, de certa forma, os aumentos recentes em Chicago.
“Mas a tendência é que o patamar de preços fique bem elevado, nos próximos quatro ou cinco meses, com previsão de estabilizar ou começar a cair a partir do mês de julho/agosto, com a entrada da safra do hemisfério norte”, explica.
Ainda de acordo com a Abitrigo, outra questão que pode impactar o preço do trigo é a incerteza em relação aos fertilizantes, pois a Rússia é um dos maiores produtores do mundo e também fornecedor desse produto para o Brasil, além da influência dos fundos de investimento, que aumentaram suas posições nas commodities, ampliando a volatilidade dos preços.
Para a Abitrigo, o cereal no Brasil foi e continua sendo um problema sério, por conta da dependência, pois o país segue muito vulnerável. 60% da demanda interna de trigo é atendida por importação externa e, desse total, 85% é originário de um único país, a Argentina. “O mercado de trigo enfrentou muitas questões nos últimos anos, como a pandemia, o frete e agora essa questão do conflito. Estamos, novamente, vivendo um período de grandes desafios para todo o setor do trigo. Mais do que isso, esse conflito é um momento de muita tensão e incerteza para o mundo, que deve ser acompanhado com cautela e atenção por todos”, concluí.