Agricultura

Embrapa inicia pesquisa sobre cura da batata-doce

Processo comum em países do Hemisfério Norte, a cura pode ser adotada pelos produtores brasileiros que estão de olho no mercado externo

A Embrapa Hortaliças (Brasília) iniciou em outubro as pesquisas para adequar os processos de cura da batata-doce em condições tropicais, tanto em sistemas de cultivo convencional como orgânico. A cura é um processamento pós-colheita que faz a cicatrização das propriedades das raízes. O que contribui para o aumento da vida e a manutenção do aroma, da utilidade e da qualidade nutricional da hortaliça.

Processo comum em países do Hemisfério Norte, a cura pode ser elaborada pelos produtores brasileiros que estão de olho no exterior e também aqueles que oferecem oferta de produto nacional ao consumidor.

“O nosso objetivo é definir os parâmetros necessários para a realização dessa técnica, considerando as condições climáticas, como cultivares disponíveis em país da realidade social e econômica do produtor brasileiro”, informa a pesquisadora  Lucimeire Pilon, pós-colheita.

A pesquisadora afirma que existem orientações gerais sobre o processo de cura da batata-doce embasado no que é realizado nos países do Hemisfério Norte, onde é necessário o armazenamento da hortaliça para o consumo na entressafra. 

A importância da “cura”

A pele fina torna a batata-doce suscetível a danos mecânicos durante a colheita e transporte. Esses ferimentos deixam a raiz vulnerável a contaminações e crescimento de fungos e bactérias. Durante o processo de cura, afirma a pesquisadora, ocorre a cicatrização dessas lesões pela suberização, que é a deposição de um polímero lipídico-fenólico, em camadas celulares abaixo da superfície da lesão. 

Lucimeire Pilon acrescenta que esse processo, iniciado logo após a colheita, permite ainda reduzir a perda de umidade das raízes e aumentar a proteção contra doenças. Porém, ressalta que a eficiência do processo de cura também é dependente da qualidade das raízes, resultante do manejo adequado das raízes.

Para a realização do processo de cura é necessário o armazenamento da batata-doce em um espaço adequado para controle da temperatura, da umidade e da ventilação, além da concentração de gás. “Para garantir os benefícios do processo de cura, nós temos que definir os parâmetros para todas as nossas condições climáticas e cultivares disponíveis”, reforça a investigadora.

Foto: Lucimeire Pilon / Embrapa

Unidade de cura da Batata-doce

Com recurso obtido por meio de emenda parlamentar, a Embrapa Hortaliças construiu a Unidade de Cura de Batata-doce. As cultivares que serão utilizadas na pesquisa são BRS Anembé e CIP BRS Nuti, lançadas recentemente pela Embrapa; Beauregard, desenvolvida nos Estados Unidos e recomendada pela Embrapa; e Canadense, que é a mais plantada comercialmente no Brasil.

A pesquisa já está em andamento e a expectativa é que no primeiro trimestre do próximo ano os parâmetros para a adequação do processo de cura já estejam definidos.

Comercialização

No Brasil, a batata-doce vem ganhando notoriedade. A partir de 2012, a produção e o consumo aumentaram. Segundo informações da Embrapa,  o consumo per capita apresentou queda nas classes de renda mais baixas, tendo crescido entre aquelas de renda mais alta. 

Os pesquisadores levantam a hipótese de que vem a mudança na percepção do valor da batata-doce no Brasil. “Acreditarmos que o produto seja adequado para o uso de estímulos específicos, seja migrar para o estímulo adequado, à de estímulo de um consumo alimentar”. 

Em menos de dez anos, a produção nacional passou de 500 mil toneladas para quase 850 mil toneladas em 2020. Dados da Faostat mostram que o Brasil exportou 11,9 mil toneladas, em 2020, e os Estados Unidos comercializaram 263 mil toneladas de hortaliças, ocupando o primeiro lugar nas exportações.

Para a pesquisadora Lucimeire Pilon, esta perspectiva de aumento de consumo e de produção de batata-doce exige a introdução desse processo de cura como um adicional para a conservação pós-colheita da raiz. “Estamos certos de que vai impactar positivamente em toda a cadeia econômica da doce no Brasil”, conclui.