Exclusivo: Metade das unidades de armazenamento da Conab opera com problemas ou está parada

Investigação do Canal Rural mostra que a atual estrutura da Companhia está sucateada. Ao todo, a estatal possui cerca de 140 unidades armazenadoras, com uma capacidade estática de, no máximo, 2 milhões de toneladasMetade das cerca de 140 Unidades Armazenadoras (Ua's) da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) opera com algum tipo de problema ou está parada.

Fonte: Canal Rural

A falta de armazenagem no Brasil, um dos principais problemas de infraestrutura do setor produtivo, poderia ser diferente se não fossem os seguidos erros de gestão e a falta de investimentos do governo. Historicamente relegada ao segundo plano, principalmente no crédito, a armazenagem sempre dependeu da Conab para que os produtores pudessem estocar seus produtos e negociar a venda algum tempo após a colheita, com preços melhores. Devido à alta da produção brasileira e à falta de investimentos, o espaço disponível se tornou insuficiente, obrigando o produtor a entregar a produção imediatamente após a colheita, mesmo com preços baixos, ou usar caminhões como silos.

Na safra 2014/2015, a produção brasileira deve chegar a 190 milhões de toneladas de grãos. Segundo o Ministério da Agricultura, a capacidade de armazenagem do país gira em torno de 140 milhões de toneladas. A capacidade da Conab em armazéns próprios, mesmo contando as estruturas paradas, não passa das 2 milhões de toneladas.

Em Mato Grosso, dos cinco armazéns, somente o de Rondonópolis está funcionando com a capacidade total. O de Alta Floresta opera com apenas 10% da capacidade. Os de Sinop, Sorriso e Diamantino estão parados. No caso de Sinop, o armazém com capacidade para 27 mil toneladas não recebe produtos de agricultores há cerca de quatro anos. O imóvel, construído na década de 80, não consegue mais atender a demanda e deve ser desativado de forma permanente até o fim do ano.

– Ele está desativado por vários anos e por varias razões. Inicialmente, eram alguns reparos que deveriam ser feitos. Hoje, com certeza absoluta, a paralisação se dá pela posição do armazém, no meio da cidade. Acredito que nessas regiões aonde o governo não consegue tocar o funcionamento deles, a Conab deveria entregá-los para a iniciativa privada, ou vendê-los – afirma o vice-presidente do Sindicato Rural de Sinop, Antônio Galvan.

No município de Sorriso, um dos maiores produtores do Brasil, o armazém da Conab, às margens da BR-163, está parado há cerca de seis anos. A UA, com capacidade para 46 mil toneladas, está totalmente ultrapassada e não tem mais como operar. No terreno vizinho, uma empresa particular, com um terreno dois terços menor do que o pertencente ao governo, armazena mais de 400 mil toneladas.

– Infelizmente, a estrutura está parada, se deteriorando há vários anos. O pior são os funcionários pagos pelo governo, há vários anos que não recebem nenhum produto. Hoje, para voltar a funcionar, o armazém terá que passar por uma reforma geral – destaca o presidente do Sindicato Rural de Sorriso e Delegado da Aprosoja-MT, Laércio Lenz.

Ao todo, a Conab possui 261 imóveis em todo o Brasil. Destes, mais da metade está com problema: abandonados, invadidos, velhos, operando abaixo da capacidade ou sem conseguir atender a demanda de sua região. Em Maceió, por exemplo, um imóvel na rua Tabapuã, no bairro Jacintinho, guarda bens da Secretaria de Agricultura e a Conab mantém um empregado para proteger a estrutura.

Em São Félix das Balsas, no Maranhão, a estatal possui um terreno na Avenida Aeroporto. Segundo informações da própria Conab, o terreno está cercado, desocupado e sem vigilância. No mesmo Estado, em Fortaleza dos Nogueiras, a estatal possui um terreno às margens da BR-330 que está invadido e foi loteado. Em Pindaré-Mirim, também no Maranhão, os dois imóveis da estatal na cidade não estão em uso por ela. Um foi tomado pela prefeitura, que chegou a construir uma praça no local. O outro, na rua do trilho, foi invadido.

Questionado sobre esses problemas, o superintendente de Armazenamento da Conab, Rafael Bueno, diz que a estatal não deixou de investir na sua estrutura nos últimos anos.

– Nós últimos cinco anos, foram investidos R$ 20 milhões na estrutura da Conab. Além disso, o governo vai disponibilizar crédito para construção de armazéns particulares com R$ 5 bilhões por ano durante cinco anos. Houve agora um aporte maior de investimentos na rede da Conab, de R$ 50 milhões para reforma e modernização de mais de 70 unidades, e também R$ 350 milhões para a construção de 10 novos armazéns – aponta Bueno.

A equipe do Canal Rural preparou mais duas reportagens sobre o tema. Nesta terça, mostraremos a realidade enfrentada pelos produtores de Diamantino (MT) e de Palmeiras de Goiás (GO).