A guerra entre Rússia e Ucrânia, além de causar efeitos devastadores sobre as populações envolvidas, impacta diretamente a economia do mundo inteiro. Os preços de algumas commodities produzidas por esses dois países tiveram valorização expressiva desde o início do conflito. Um artigo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), revela alguns reflexos importantes para o agronegócio brasileiro diante dessa conjuntura.
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Segundo o instituto, o aumento dos preços de algumas commodities agrícolas como soja ,trigo e especialmente o milho abre uma janela interessante de oportunidade para o agro brasileiro.
“A participação do milho brasileiro no mercado chinês é relativamente pequena, ao contrário da soja, por exemplo, onde nós somos o maior vendedor. Como o preço está subindo e a oferta está caindo, o preço está caindo. Isso pode nos abrir a médio prazo um mercado chinês para o milho brasileiro. Isso pode ser um grande negócio porque além do preço, você tem também um aumento da quantidade exportada”, destaca o economista do Ipea, Marcelo Nonnemberg.
Segundo o especialista, mesmo que a guerra termine nos próximos dias, os preços das principais commodities agrícolas devem seguir elevados por um bom tempo.
“A Ucrânia deveria estar começando a plantar por agora, por esses dias, a Rússia pode plantar mas não vai conseguir vender, e certamente terá dificuldades de colocar seus produtos para o mundo ocidental durante o longo tempo. Os países ocidentais estão estudando o aumento de sanções para os produtos russos. Isso vai manter os preços das commodities pressionados por um tempo razoavelmente longo, possivelmente até o ano que vem ou mais”, diz.
A curto prazo, a economia brasileira se beneficia com a entrada de capital estrangeiro em busca de investimento na Bolsa de Valores, especialmente nas empresas ligadas à produção de alimentos e também no mercado de renda fixa, por causa da taxa de juros.
“Um outro fator que está contribuindo é que a Rússia é outro mercado emergente que disputa capital com o Brasil. Com o capital de fora vai deixar de aplicar na Rússia enquanto país emergente, vai buscar outros mercados e neste momento o Brasil é um local atrativo para os investidores externos”, avalia Nonnemberg.
Por outro lado, será um desafio para o agro brasileiro conseguir aumentar a produção de alimentos com uma oferta menor de fertilizantes, já que Rússia e Ucrânia são dois dos maiores produtores e exportadores desse insumo.
“Acredito que vai faltar fertilizante. Porque a participação da Rússia, da Ucrânia e da Bielorussia é muito grande. Isso vai causar um impacto muito grande nos preços dos alimentos.. Não só na questão das lavouras, mas também no caso do frango e dos suínos que dependem do milho”.
O estudo do Ipea revela que esse cenário pode aumentar a insegurança alimentar no mundo.
“Com os preços subindo desse jeito, é claro que isso impacta as classes mais baixas. Temos elevação no, preço do gás, gasolina etc, que já está batendo no bolso de todo mundo, isso aumenta a insegurança alimentar”, finaliza.