Em Mato Grosso, agricultores seguraram a venda da soja colhida no primeiro semestre, com a esperança de fazer negócios depois, com preços melhores. A ideia era melhorar a rentabilidade, já que os custos de produção estão mais elevados. Com isso a comercialização do grão está abaixo da média no estado e, consequentemente, muitos os armazéns estão com montanhas de soja, interferindo na colheita do milho.
Segundo levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), 83,9% da safra de 32,5 milhões de toneladas, foi negociada até o dia 22 de julho. Na mesma época do ano passado a safra 2017/2018 tinha um montante de 86,2% vendida.
“Realmente dá para notar esse movimento entre os produtores que possuem armazéns ou estão mais capitalizados. Desde que virou a chave para o milho eles seguraram o restante da soja para negociar com preços mais remuneradores”, diz o vice-presidente da Aprosoja MT, Fernando Cadore.
Armazéns cheios
Após uma pausa forçada, finalmente a colheita da lavoura de milho foi retomada na fazenda de Giovani Fritz, localizada em Jaciara (MT). A razão? Faltou espaço no armazém da propriedade, que tem capacidade para guardar 260 mil sacas, que ainda está cheio de soja.
“Temos 40% da nossa safra de soja estocada ainda. Isso atrapalha a colheita do milho. Parte dessa soja já está vendida, mas as tradings não vêm buscar porque não têm para onde mandar. Aí o nosso milho fica na lavoura, correndo riscos”, diz Fritz.
A decisão do produtor e da trading de manter o grão guardado por mais tempo é um reflexo da instabilidade do mercado. Em um ano marcado por constantes oscilações nos preços, fica difícil encontrar o momento certo para vender.
“Estavámos na expectativa de os preços darem uma melhorada. Mas os valores estão em uma gangorra. Há 15 dias a saca estava em R$ 70 e hoje caiu para R$ 65. Não tenho como saber como ele estará daqui a 15 dias. Então estamos esperando para ver se surge um negócio melhor para cobrir o custo elevado dos insumos nessa nova safra”, comenta o produtor de Jaciara.
Nesta outra propriedade, também em Jaciara, a situação é semelhante. Pouco mais de 40% da soja ainda não foi negociada. Com isso, falta espaço para guardar o milho e sobra preocupação com o mercado.
“Estamos segurando. Conseguimos vender parte ganhando de R$ 67 a R$ 71, o resto vamos aguardar o melhor momento para negociar. Esse ano tivemos muitas oscilações na Bolsa de Chicago e câmbio, que gerou dificuldade para efetuar a venda com rentabilidade, sem ela vamos à falência”, diz Rogério Berwanger.
Custos reajustados
O Imea atualizou o custo de produção da soja mato-grossense para a safra 2019/2020. Baseado nos novos dados, o custo total ficou em R$ 3.905,45 por hectare, ou seja R$ 66 por saca (considerando uma produtividade média de 58,87 por saca), o maior da história. No ano passado o gasto total estava na casa dos R$ 3.628,50, ou 61 por saca.
De modo geral, os reajustes nos preços dos insumos foram ocasionados pela desvalorização do dólar no período (recuo de 3,6% na média de junho em relação à média de maio), reflexo da política interna e do mercado internacional. “Dessa forma, os produtos cotados na moeda norte-americana, como os macronutrientes e os herbicidas, apresentaram queda de 0,77% e 0,42%, nesta ordem”, diz o Imea.