– Você vê aqui na cidade um armazém parado há três anos que poderia estar armazenando aproximadamente 500 mil sacas de milho do nosso município. Nós não temos uma logística para nos ajudar a melhorar o preço do nosso produto e também não temos armazéns suficientes para amenizar uma pouco o problema da logística – afirmou o presidente do Sindicato Rural de Diamantino, José Cazeta.
Sabendo da dificuldade em manter a estrutura da estatal funcionando, os produtores tentaram fazer um acordo com o governo para tocar a Unidade Armazenadora. O pedido foi negado.
– Nós fizemos um levantamento de assinaturas dos produtores do nosso município, encaminhamos um propósito de pegar essa obra em comodato e da qual a gente assumiria até a folha de pagamento dos funcionários da Conab. A resposta que tivemos da superintendência é que a unidade é uma obra federal, pública e que não pode fazer esse tipo de parceria – pontuou Cazeta.
A informação foi contestada pela Conab. Segundo a estatal, parcerias são aceitas pelo governo.
– Nós temos parcerias, por exemplo, no Estado de Goiás. Também já fomos procurados por cooperativas de produtores constantemente e temos atendido aos pedidos. A Conab é a casa do produtor – disse o superintendente de Armazenamento da Conab, Rafael Bueno.
Saindo de Mato Grosso, no município de Palmeiras de Goiás (GO), o único armazém da Conab é fonte de reclamação dos produtores. A estrutura está defasada e custa caro utilizá-la.
– A estrutura é tão lenta para receber e retirar produtos, além de cara, que os produtores preferem deixar o milho na terra mais tempo para dar o ponto de secagem correto, mesmo com riscos climáticos, do que levar para a Conab. Não compensa colher, guardar, armazenar e secar na Conab aqui da cidade – explicou o presidente do Sindicato Rural de Palmeiras de Goiás, César Savini Neto.
Segundo o assessor técnico da Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Pedro Arantes, os armazéns possuem entre 30 e 40 anos e foram construídos em uma época diferente da atual.
– A colheita era lenta, então não precisava de uma agilidade muito grande. Hoje, muitos produtores querem colher rapidamente a primeira safra para plantar a segunda safra de milho, e aí esses armazéns, que são antigos, não possuem capacidade para receber grandes quantidades. Às vezes, o produtor resolve levar para lá a produção, fica horas na fila e, no momento de descarregar, acontece um problema por falta de manutenção. Os produtores perdem tempo. Se o armazém esta lá, deveria funcionar a contento – ressaltou.
Com a falta de armazéns para atender o produtor, a Conab passou a credenciar terminais para receber os produtos que adquire via compras públicas e a pagar os donos desses imóveis pelo uso. A Conab desembolsa cerca de R$ 5,00 por tonelada ao mês.
Em todo o Brasil, são mais de 17 mil armazéns credenciados em vários Estados, com uma capacidade de estocagem de 146 milhões de toneladas. Porém, apenas 237 estão em condições de uso. Somente 3,2 milhões de toneladas podem ser guardados nesses galpões. A capacidade de armazenagem da Conab nos armazéns próprios é de cerca de 2 milhões de toneladas.
– No sistema de credenciamento, a Conab paga pela prestação de serviço de armazenagem para guardar e conservar os estoques públicos. Então, pagamos somente em cima daquilo que está devidamente guardado naquele armazém credenciado. É importante salientar que a rede credenciada está disposta em todos os Estados – lembrou Rafael Bueno.
Algumas lideranças do setor também criticam a atuação da Conab e pedem uma ação do ministro da Agricultura.
– É um despropósito você ter em um país uma capacidade armazenadora de 70% da produção. Entregamos uma carta ao ministro da Agricultura onde pedimos um incremento de recursos para a construção de novos armazéns. O governo lançou um plano de cinco anos, com R$ 25 bilhões, e nós, na nossa carta, colocamos a necessidade de R$ 63 bilhões de recursos nos próximos dez anos – informou o presidente da Câmara Setorial da Soja, Glauber Silveira.
– Não podemos admitir, de forma alguma, que você tenha qualquer armazém que não esteja sendo utilizado. Eu acredito que o ministro vá tomar alguma atitude para que a gente possa pegar esses armazéns e que eles voltem a funcionar – acredita.