Pereira justifica que o brasileiro ainda paga “barato” pela carne bovina comparando com outros países. “A carne consumida pelo brasileiro é relativamente mais barata e esse cenário tende a mudar”, explica. “Será um processo de transição gradativa, mas cada vez mais a carne bovina será ‘artigo de luxo’.”
Com o efeito substituição, Pereira estima que a cadeia produtiva do frango seja a mais beneficiada. “O produto com maior disponibilidade ao consumidor final é a carne de frango, então produtores do setor devem tirar mais proveito disso”, diz. No entanto, ele pondera que o aumento do consumo é limitado. “Consumimos em torno de 45 quilos per capita ao ano. Já ultrapassamos o consumo per capita de carne bovina, então até onde isso poderia ir?”, questionou.
Preço dos grãos e câmbio favorecem aves e suínos
O presidente da Agroceres, Fernando Pereira, disse nesta terça-feira, 16, que os preços mais baixos dos grãos, a desvalorização do real e questões sanitárias, como a gripe aviária nos Estados Unidos, favorecem a produção brasileira de aves e suínos. Em apresentação no Seminário Perspectivas para o Agribusiness 2015 e 2016, realizado pela BM&FBovespa em São Paulo, ele disse que o câmbio é fator importante de incentivo à produção, considerando que 15% da carne suína produzida no Brasil e quase 30% da carne de aves se destinam ao mercado externo. Pereira estima que a produção de suínos no Brasil deve crescer em torno de 2% este ano, devido principalmente a ganhos de produtividade. Ele também prevê expansão marginal nos plantéis.
Mercado doméstico
Em relação ao milho, um dos principais insumos à produção de aves e suínos, Pereira estima que a demanda interna pelo grão corresponderá a 41% da produção nacional em 2015. A porcentagem equivale a 33 milhões de toneladas, segundo previsão do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações). Caso a produção nacional supere as projeções, Pereira antecipa que o consumo de aves e suínos só poderá ser aumentado em até 1,5 milhão de toneladas. “Não tem como superar isso, pois são cadeias bastante dinâmicas. Não há uma capacidade de resposta tão acelerada a ponto de dar vazão a um implemento de produção de grande magnitude”, afirmou.
Agrifatto: setor de frigoríficos se adapta à oferta menor de bois
A sócia diretora da AgriFatto, Lygia Pimentel, afirmou que o boom de crédito e a ascensão da classe C no Brasil nos últimos anos ajudaram a suavizar a baixa do último ciclo pecuário – período em que há desvalorização do boi pelo excesso da oferta de animais para o abate. Em palestra no Seminário Perspectivas para o Agribusiness 2015 e 2016, ela disse que o tripé econômico desenvolvido a partir de 2009, com política fiscal expansionista, juros baixos, crédito subsidiado e câmbio desvalorizado, contribuiu positivamente para que uma parcela significativa da população consumisse mais carne bovina.
– Essa explosão do consumo permitiu que surgisse uma marca de carne no país que as pessoas conhecessem. Não somente por ações de marketing, mas pelo acesso do consumidor ao mercado de carne, permitido pelo avanço da classe C e pelo ‘boom’ do crédito – afirma.
No entanto, a analista pondera que essa política levou a um cenário macroeconômico de inflação fora do centro da meta do Banco Central, elevação da dívida bruta do governo e perda de poder de compra do brasileiro – o que hoje compromete a demanda interna no mercado da carne.
Segundo ela, a retração no consumo e a oferta reduzida de bois em 2015 fazem com que o setor frigorífico enfrente um ano desafiador, de margens menores.
– Este ano já contabilizamos 40 plantas fechadas. Estamos vendo o setor se adaptar a uma oferta menor, com um ajuste no mercado do boi. São comuns relatos de férias coletivas, demissões em massa e paralisação de plantas – afirma.