Eles agrupam, conduzem e não brincam na hora do serviço. Os cães de pastoreio têm ganhado cada vez mais espaço e se popularizado entre donos de rebanhos. Eles reúnem características que são muito úteis para o pecuarista: confiança, determinação, coragem, fidelidade e, principalmente, inteligência. Algumas raças chegam a liderar as atividades recebendo coordenadas à distância, por meio de apitos, e podem controlar grupos de bovinos e ovinos.
O adestrador e criador de border collie do canil Boiadeiro, Cláudio Murilo da Silva, alerta que qualquer cão de pastoreio precisa contar com uma boa genética, ter aptidão e criação apropriada para que seja treinado. “Caso contrário, pode resultar em perda de tempo e dinheiro, pois não atinge o objetivo e apresenta baixo rendimento nos treinos”, diz.
Para ele, a idade ideal para começar os treinamentos varia de animal para animal. “Um cão pode chegar a uma condição boa de treinamento entre 10 e 12 meses, mas dependerá da maturidade mental e física dele para a função.” Animais mais velhos também podem ser adestrados, desde que não tenham perdido o instinto de pastoreio, ressalta Silva. Outro passo importante durante a fase de treinamento é a formação de vínculo entre cachorro e dono.
Lembre-se de que, assim como qualquer outro trabalhador, o cão precisa descansar. Candido Coelho, criador e proprietário do canil Bocaina’s Border, destaca que é preciso ter bom senso na hora de designar as tarefas para o animal. “O border collie e o kelpie têm muita energia, mas não demonstram quando estão cansados, continuam trabalhando”, alerta. Ele aconselha que o condutor dê cerca de 20 minutos entre as atividades para o cão repousar.
Conheça agora as cinco raças de cachorro que atendem às diferentes necessidades do campo.
Border collie
Considerado o cão mais inteligente do mundo, de acordo com a classificação do pesquisador americano Stanley Coren em seu livro A Inteligência dos Cães, o border collie chegou ao Brasil em 1994 e é uma das raças mais utilizadas para cuidar de rebanhos. Ele tem um instinto arrebanhador, que agrupa e conduz o grupo de maneira calma e disciplinada. De acordo com Claudio Murilo da Silva, o cão tem esse poder por ser concentrado e ter um “olhar hipnótico” sobre o rebanho.
Segundo Silva, se bem treinando, o cachorro tem habilidade de conduzir grandes e pequenos rebanhos: “Ele é capaz de tomar decisões ou obedecer a comandos específicos, perto ou longe do dono, já que segue instruções dadas por meio de um apito e podem buscar um animal a 1 km de distância”.
Porém não é todo border collie que pode trabalhar no pastoreio, alerta Candido Coelho. O profissional afirma que é importante saber a origem do animal e checar se a genética é propícia para o trabalho. “Ele precisa se ligar ao rebanho, não latir e ter o olhar fixado.”
Australian kelpie
Os cães dessa raça se adaptam muito bem ao clima brasileiro e também têm um instinto arrebanhador. Eles são independentes, alertas e, de acordo com a Federação Internacional de Cinofilia (FCI na sigla em inglês), são também bastante leais ao dono e dedicados ao trabalho.
Mas nem pense em confiná-lo em um espaço pequeno. O cão precisa de uma área grande para poder se exercitar e gastar a grande quantidade de energia que tem. Por conta disso, é ideal para cuidar de rebanhos.
Pastor da Mantiqueira
Diferentemente das raças anteriores, esse pastor é classificado como um empurrador. O adestrador Claudio Murilo da Silva explica que esses cães não têm o instinto de arrebanhar, como o border collie e o australian kelpie. Empurradores fazem o rebanho se movimentar e têm a mania de morder, de leve, as patas dos animais para que isso aconteça.
O criador Candido Coelho explica que o pastor da Mantiqueira se dá bem ao exercer suas atividades em parceria com outros trabalhadores, empurrando o gado enquanto o peão lidera o rebanho.
Seus trabalhos são bastante úteis, por exemplo, para colocar os animais em caminhões de transporte e também direcioná-los na hora da vacinação. Silva afirma que o hábito de morder as patas dos animais tem o mesmo efeito que um chicote. “Acaba dando na mesma que ter mais um homem trabalhando”, diz.
Australian cattle dog ou “boiadeiro australiano”
Assim como o australian kelpie, o “boiadeiro australiano” é considerado um empurrador. Mas Marcela Del Picchia, proprietária do canil Gold Queen Farm, especializado na criação da raça, afirma que o cão consegue realizar qualquer tipo de trabalho. “Ele tem uma genética que possibilita o bom desempenho em atividades pastoris”, diz.
Del Picchia descreve os cachorros como trabalhadores incansáveis e afirma que podem “trabalhar de 15 minutos até 16 horas”, porém sempre com intervalos para que possam descansar.
O australian cattle dog também ganhou os apelidos de blue heeler ou red heeler, dependendo de sua cor, por mordiscar o calcanhar (heel, em inglês) dos animais para que eles se movimentem. A raça tende a criar uma forte ligação com o dono, é fiel e ágil. O adestrador Cláudio Silva avisa que, ao trabalhar com rebanho, ele precisa estar sempre acompanhado para exercer a função de forma satisfatória.
Pastor maremano abruzês
“A raça italiana desempenha a função de protetora do rebanho e chega a se considerar parte dele”, afirma Silva. Assim como as outras raças, o pastor maremano abruzês precisa ter uma boa genética para desempenhar o trabalho, aconselha Candido Coelho.
Ele explica que o cão precisa ser condicionado desde pequeno a se sentir parte do rebanho, já que trabalha puramente pelo instinto. “Quando filhote, ele é colocado para conviver com cabritos, por exemplo. É importante que não conviva muito com humanos para que não seja distraído de sua função.”