Nesta terça-feira (19), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM) convocaram uma reunião para falar sobre a onda extrema e prolongada de calor na Europa. O norte da Espanha, por exemplo, registrou temperaturas de 43°C. Além disso, incêndios florestais provocaram mortes na França, em Portugal, na Espanha e na Grécia. Milhares de pessoas tiveram que deixar suas casas. A OMM acredita que o pico de calor já passou, mas as temperaturas devem ficar bastante elevadas até semana que vem.
Nos Estados Unidos, o calor também está muito forte. Na metade sul do país, os termômetros chegaram a marcar 45°C. Foi o caso de Oklahoma. A safra de verão no “cinturão de grãos” norte-americano sofre muitos impactos com as altas temperaturas.
Calor na Europa, nos EUA e no Brasil
No Brasil, a última década foi a mais quente da história, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Se nada for feito para conter as mudanças climáticas, as temperaturas podem aumentar 5 graus no continente sul-americano até o fim deste século. Essas mudanças podem prejudicar a produção agrícola e afetar o desenvolvimento das culturas perenes no país.
Segundo um estudo feito pela agrometeorologista Fabrina Bolzan Martins, professora associada do Instituto de Recursos Naturais da Universidade Federal de Itajubá (MG), a menor quantidade de horas de frio no sul do Brasil, por exemplo, pode prejudicar o desenvolvimento da fruticultura na região. O aumento do calor também pode provocar o estresse hídrico em diversas lavouras do Brasil central.
“Os impactos disso [aumentos das temperaturas] na produção agrícola serão enormes — Fabrina Bolzan Martins
“Vamos precisar nos adequar a um regime de cada vez menos chuva e mais calor e os impactos disso na produção agrícola serão enormes”, diz Fabrina, que é mestre é mestre em engenharia agrícola pela Universidade Federal de Santa Maria (RS) e doutora em ciência florestal pela Universidade Federal de Viçosa (MG).
Temperatura pode afetar a produção de eucaliptos
Outra produção que seria fortemente afetada é a de eucaliptos, a qual o Brasil é o maior produtor do mundo. A produtividade é medida em volume de madeira produzida por unidade de área ao ano. É levado em consideração, o tempo decorrido entre o plantio e a colheita das árvores. No Brasil, este tempo é de cerca de seis a sete anos, enquanto em países de clima temperado, como o Canadá, este tempo pode chegar a mais de 30 anos.
“As áreas [para produção de eucaliptos] no Brasil ficariam cada vez mais restritas” — Fabrina Bolzan Martins
“Este tipo de árvore tem uma enorme demanda de água e as áreas no Brasil ficariam cada vez mais restritas”, diz Fabrina. A especialista atua em nos temas relacionados à agrometeorologia, com enfoque em modelagem do desenvolvimento e produtividade de espécies florestais, zoneamento de aptidão climática e mudanças climáticas.
Impactos na agricultura brasileira
Head de agrobusiness na Climatempo, Willians Bini destacou que a presença de ondas de calor extremo pode impactar negativamente a agricultura brasileira. “As mudanças climáticas já estão em andamento”, destacou o especialista durante participação na edição desta quarta-feira (20) do telejornal ‘Mercado & Companhia’. “Por mais que a gente faça uso da tecnologia e da inovação, não serão suficientes para a gente garantir que a situação ideal de plantio no mundo todo se mantenha nos próximos anos e nas próximas décadas”, complementou.