A participação de mulheres na agropecuária é cada vez maior. Entre 2006 e 2017 passou de 12% para 18% do total de produtores rurais – são quase um milhão de mulheres a mais na atividade. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e foram divulgados no Censo Agropecuário. O Canal Rural foi conhecer um pouco da rotina dessas mulheres que fazem a diferença na atividade.
A quantidade de mulheres que lideram as atividades no campo cresceu também no Rio Grande do Sul, onde a presença feminina passou de 9% para 12%. No pequeno município gaúcho de Teutônia, elas já comandam 25% das propriedades. É o caso de Cristiane Bergmann, agricultora há 11 anos “com muito orgulho”. Ela é a primeira da família a acordar e, nem bem amanhece, já está cuidando de 35 vacas holandesas.
O rebanho é a prioridade na propriedade. Só depois da ordenha é de deixar tudo em ordem na atividade é que vai preparar o café da manhã. Feita a primeira refeição do dia, Cristiane vai se dedicar à criação de leitões para terminação, enquanto o marido segue para o trabalho como motorista de van escolar.
Após os cuidados com os animais, ela volta para casa de olho no horário do almoço. Dá tempo até de preparar uma casa caseira. A tarde é dominada pelas atividades burocráticas – e é Cristiane quem cuida da administrar a propriedade. “Banco, sindicato, prefeitura … O que tem para fazer de papel e pagar contas, vem tudo pra mim”, diz.
Presidente do sindicato
No sindicato rural de Teutônia, a rotina da presidente da entidade, Liane Brackmann, também começa cedo. Antes das 8h da manhã, ela já está a postos para fazer o que mais gosta: atender os produtores.
Há 16 anos, ela trocou a lida no campo pela ajuda aos pequenos agricultores do interior do Rio Grande do Sul. Ela conta que foi difícil assumir o sindicato, coordenando os trabalhos que atingem 2 mil agricultores e deixar sua zona de conforto. “Mas, num certo momento da vida, a gente tem que experimentar desafios, novas oportunidades e experiências, que podem fazer muito bem para a gente”, afirma Liane.
A presidente do sindicato rural conta que às vezes escuta piadinhas em relação às mulheres – qie deveriam estar “no fogão”, que falam demais, que reivindicam demais. “Eu sempre digo para aquelas que estão vindo: nós vamos ter desafios, nós vamos estar sendo atingidas às vezes. Mesmo estando no ano de 2018, homens e até as próprias mulheres dizem: o lugar da mulher não é lá”, diz.
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Para a coordenadora de Juventude, Gênero e Educação no Campo da Emater-RS, Clarice Vaz Böck, o resultado do Censo Agropecuário mostra que não só as mulheres estão participando mais, como também assumem mais posições de liderança no agronegócio. Segunda ela, as mulheres hoje entendem que são parte importante da atividade. “A gente vê que a qualidade de vida no meio rural é muito melhor do que era há alguns anos, justamente em função da participação das mulheres e do reconhecimento disso”, afirma a coordenadora.
“A mulher ganhou voz, o homem não decide sozinho, que a mulher também tem que opinar, tem que saber fazer os cálculos, tem que saber administrar. A mulher tem cabeça para pensar, tem atitude, tem condições de fazer a diferença dentro da sociedade em que a gente vive”, resume Liane Brackmann.