Crise econômica e dólar derrubam setores de defensivos e fertilizantes

Produtor deixou de investir na lavoura com dificuldade de acesso ao crédito, desvalorização do real e insegurança com relação à economia

Fonte: Divulgação/Canal Rural

Os setores de fertilizantes e defensivos agrícolas tiveram um ano difícil em 2015. Por conta de estoques cheios de produtos, economia frágil e desvalorização do real frente ao dólar, o produtor se manteve cauteloso na hora de investir em tecnologia na lavoura, afetando esses segmentos.

No primeiro semestre do ano passado, a comercialização de fertilizantes já dava sinais de desaceleração. Na comparação com o mesmo período de 2014, a procura foi quase 8% menor. Os maiores atrasos na compra foram na região Sul e no estado de São Paulo, onde a crise no setor sucroalcooleiro teve impacto diretamente sobre a demanda.

O engenheiro agrônomo Daniel Lopes afirma que houve redução nas entregas e na comercialização de fertilizantes. 

No decorrer do ano, a expectativa dos analistas se confirmou. Até outubro de 2015, a entrega de fertilizantes já era 6,4% abaixo do registrado nos dez primeiros meses de 2014. Dólar e clima atuaram diretamente sobre esse cenário, de acordo com o diretor-excutivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), David Roquetti Filho. 

Outro fator de peso, segundo ele, foi o volume e o atraso na liberação do crédito relativo ao pré-custeio da safra. No caso da soja, no primeiro semestre houve 80% de queda na compra de fertilizantes, diz. Por fim, Roquetti ainda elenca como fator de desestímulo o ambiente econômico e político do país, que teria levado o produtor a um posicionamento cauteloso de seus próximos passos.

No caso da soja, no primeiro semestre houve 80% de queda na compra de fertilizantes

Defensivos

O setor de defensivos também sentiu o cenário econômico desfavorável. Muitas indústrias optaram por não repassar ao produtor o aumento provocado pela alta do dólar, o que derrubou a receita das indústrias. O Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) ainda não tem os números finais de 2015, mas a perspectiva é de que haja queda em relação ao ano anterior de 23% no faturamento do setor.

Além da desvalorização, teria ocorrido uma superstocagem por parte dos produtores no começo do ano. “A demanda caiu e existiu também dificuldade de obtenção de crédito rural”, afirma a vice-presidente do Sindiveg, Sílvia Fagnani, que lista ainda os prejuízos decorrentes do contrabando de defensivos.

Segundo ela, 20% dos defensivos comercializados hoje no Brasil são falsificados ou contrabandeados. Outro problema sofrido pelo setor foi a perda da eficácia de alguns agroquímicos, como o glifosato, defensivo usado no país há 40 anos.

Para o agricultor Nelci José Lorenzzi, o produto criou resistência e praticamente não tem mais efeito nas lavouras. “Do adubo que você utiliza, metade a erva daninha leva”, diz. 

A cadeia produtiva brasileira mais uma vez discutiu a qualificação do produtor para o uso correto dos defensivos e de práticas mais seguras de manejo. Evitar a superdosagem e não fazer sucessão de culturas resistentes à glifosato para não prolongar o uso do produto são medidas preconizadas pelo presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja), Ricardo Tomczyk. “É uma questão de bom senso no próprio manejo para garantir a longevidade do produto”, afirma.

O ano de 2015 também ficou marcado pela polêmica sobre a segurança no uso de alguns herbicidas. Além do glifosato, o paraquat, defensivo usado por agricultores brasileiros desde a década de 1970, também foi avaliado. Mas a decisão sobre o banimento desses defensivos ficou para 2016.

A avaliação do paraquat está em consulta pública, com uma posição contrária a manutenção do produto, que é condenado por diversos cientistas. Segundo o consultor da Frente Parlamentar da Agricultura Ênio Marques, tanto o glifosato quando o paraquat são produtos seguros. 

Já a vice-presidente do Sindiveg lembra que ambos são herbicidas extremamente importantes para agricultura. “É possível afirmar que, sem eles, o nível de nossa produtividade cai a níveis que inviabilizariam a agricultura da forma que ela é feita hoje num país tropical como o Brasil”, diz Sílvia Fagnani.

Em 2016, as expectativas se voltam para ações do Plano Nacional de Defesa Agropecuária, lançado em maio de 2015 pelo Ministério da Agricultura.