Os estoques de carne em câmaras frigoríficas nos Estados Unidos estão crescendo, impulsionados pela maior produção e por disputas comerciais com México e China, que estão afetando a demanda. Tal cenário tem colocado em xeque as margens da indústria e dos criadores de animais em um momento de forte expansão do setor.
O consumo de proteína animal tem subido no país, mas não em ritmo suficiente para absorver a produção recorde de suínos e frangos, que depende da exportação para escoar o excedente. Entretanto, a exportação de carne suína para a China, que neste mês elevou para 62% o imposto sobre a importação da proteína, recuou 18% nos primeiros cinco meses deste ano. Já o México, principal destino da carne suína, aumentou para 20% no início deste mês a alíquota sobre o produto. As novas tributações vieram em resposta às tarifas adicionais implementadas pelos EUA em segmentos como alumínio e ferro.
Dados divulgados na segunda-feira, dia 23, pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostraram queda de 10% no fornecimento de carne suína, resultado que aliviou o setor de proteína animal. Com isso, os estoques (de carne de boi, suína, frango e peru) para o mês de junho nos Estados Unidos recuaram 1,6% na comparação com maio. Segundo analistas, o respiro veio da aceleração de compras de produtos suínos por parte dos mexicanos nas semanas que antecederam as novas tarifas impostas aos EUA.
O desempenho veio menos dramático do que as apostas de recorde nos estoques de proteína projetadas por alguns analistas, mas nem por isso retira a pressão sobre o setor. Em meio a um cenário ainda sem soluções aparentes no curto prazo para as tensões comerciais, os estoques de carne suína em junho recuaram 16% na comparação com maio, mas fecharam com alta de 130% na comparação com igual período do ano passado. Já o estoque total de frango subiu 2% na comparação mensal e 10% na anual.
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As câmaras frigoríficas da Zero Mountain Inc., no Estado de Arkansas, estão lotadas. As instalações têm capacidade para 113,4 mil de toneladas de carne de frango e peru. Os maiores estoques podem reduzir os preços para os consumidores norte-americanos, além dos restaurantes e varejistas. Mas os preços menos remuneradores colocam em xeque os lucros das processadoras de carne e as margens dos criadores de animais, o que poderia resultar em “uma das maiores correções que já vimos na indústria em vários anos”, disse a analista do segmento de proteína Christine McCracken, do Rabobank. Desde o fim de maio, os preços futuros dos suínos na Bolsa de Chicago caíram 14%.
Grandes processadores de carne suína chegaram a reduzir em algumas horas o funcionamento de suas plantas e algumas até passaram a rejeitar a compra de animais, disse McCracken. Representantes da Smithfield Foods e JBS, duas das maiores abatedoras de suínos dos EUA, não quiseram comentar. Já a Tyson Foods disse que continua exportando, mesmo com as tarifas adicionais.