As perdas de solo, água e nutrientes devido à deterioração do solo são menores em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) do que em áreas de rotação de culturas agrícolas. A constatação é de uma pesquisa realizada em Sinop (MT), em uma das principais regiões produtoras de grãos do país.
A pesquisa foi conduzida por pesquisadores da Embrapa Agrossilvipastoril (MT) e Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e contou com participação de Rattan Lal, vencedor dos prêmios Food Prize (2020) e Nobel da Paz (via IPCC em 2007) e professor da Ohio State University, nos Estados Unidos.
Segundo a Embrapa, a pesquisa mediu a perda de água e solo pelo escoamento superficial causado pelas chuvas e as quantidades de carbono e nitrogênio nos sedimentos desse escoamento em áreas com ILPF, lavoura de soja e milho em sistema de plantio direto, pastagem de braquiária, floresta de eucalipto em crescimento e no solo descoberto. Os dados mostraram que o sistema ILPF teve as menores perdas. No momento da avaliação, o sistema integrado contava com árvores de eucalipto com um ano de plantio, lavoura de soja na safra e de milho com braquiária na segunda safra.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Cornélio Zolin, as avaliações mostraram que, mesmo com as árvores ainda pequenas, a ILPF se mostrou como uma alternativa mais eficiente em conservação de água e solo, elementos determinantes para o sucesso da produção agropecuária.
“A escolha pela conservação do solo, e consequentemente da água, favorece o maior aproveitamento dos nutrientes e redução de custos ao produtor. Para que essa região tão importante tenha longevidade, frente a cenários climáticos cada vez mais adversos, o olhar atento para a conservação do solo, da água e manutenção dos nutrientes no solo será imperativo”, afirma Zolin.
Outro aspecto importante é a possibilidade de melhorar as práticas de conservação do solo a curto prazo. Com apenas um ano de instalação do sistema, com as árvores ainda em pequeno porte, a ILPF já se mostrou mais conservacionista que as demais formas de uso dos solos estudadas.
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ILPF com menores perdas
Os resultados da pesquisa mostraram que, em relação às perdas de solo, os números da ILPF foram estatisticamente semelhantes aos da pastagem e da silvicultura, porém, foram melhores que os da lavoura. A ILPF perdeu 238 kg de solo por hectare, enquanto a rotação de soja e milho perdeu 856 kg. A perda do solo exposto, sem qualquer cobertura, foi de 16 toneladas por hectare.
Já em relação às perdas de água pelo escoamento superficial, a ILPF obteve o melhor resultado, perdendo 34,5 litros por hectare. A lavoura perdeu 48,1 litros, índice estatisticamente semelhante ao da pastagem e da silvicultura. O solo nu, por sua vez, chegou a perder 675 litros por hectare.
“Os sistemas que conservam mais água no solo são mais resilientes, uma vez que as plantas poderão explorar melhor o ’adicional‘ de água armazenada, deixando as lavouras menos sensíveis a situações de veranicos e consequentemente às quedas de produtividade decorrentes do déficit de água no solo”, explica o pesquisador.
A mensuração foi feita por um sistema de calhas que direcionava o escoamento superficial para caixas d’água instaladas em trincheiras. Sacos de algodão filtravam os sedimentos, nos quais foram mensuradas as quantidades de carbono e de nitrogênio perdidas. Nesse quesito, a ILPF também se saiu melhor que a lavoura. Foram perdidos 0,36 kg de nitrogênio (N) e 4,27 kg de carbono (C) por hectare, contra 1,34 kg de N e 20,48 kg de C na rotação da soja e milho. Os dados da pastagem e da silvicultura não diferiram estatisticamente da ILPF. Já o solo nu teve perdas de 29,23 kg de N e 428,17 kg de C.
“Observamos na ILPF uma redução da perda de carbono de quase 99% em relação ao solo descoberto e cerca de quatro vezes menor comparada com o plantio direto. Isso significa que o sistema tem capacidade de evitar perdas e, aliado ao maior potencial de aportar mais carbono por meio dos resíduos gerados pelo sistema, contribui para manter ou mesmo aumentar o conteúdo de matéria orgânica no solo”, analisa o pesquisador da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da Embrapa (Sire) Eduardo Matos.