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'Embrapa vai emergir como uma empresa ainda melhor', diz novo presidente

Em entrevista exclusiva ao Canal Rural, Celso Moretti, falou sobre as perspectivas para 2020 e as mudanças que a entidade deve priorizar em sua gestão

A Embrapa já tem um novo presidente, pelo menos é o que garante a ministra da Agricultura do país, Tereza Cristina. O nome não é nenhuma novidade, Celso Luiz Moretti, que já liderava interinamente a presidência da entidade há pelo menos seis meses. Em entrevista exclusiva ao Canal Rural, o pesquisador contou quais os planos da entidade, sob nova direção, para os próximos anos. E deixou claro o desejo de repotencializar a Embrapa, tornando-a uma empresa ainda melhor e mais importante para o setor agropecuário e para a pesquisa.

Confira abaixo a entrevista:

A pesquisa no setor está em risco por falta de orçamento?

Não. Felizmente, nesse final de ano, fizemos um trabalho bastante intenso junto ao Congresso, ao Parlamento brasileiro, tanto na Câmara quanto no Senado, e obtivemos três grandes vitórias para a pesquisa agropecuária brasileira.

Primeiro foi na aprovação do PPA 2021/2023, onde os recursos inicialmente previstos foram confirmados, o segundo foi a questão das Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO), onde conseguimos incluir uma ressalva ao contingenciamento do orçamento da Embrapa para 2020. Ou seja, o orçamento da Embrapa em 2020 não será contingenciado, que para nós, é uma segurança.

Por último agora, trabalhando fortemente junto aos parlamentares, tivemos a aprovação de uma boa parte de recomposição do nosso orçamento. Então, tivemos uma maior tranqüilidade que poderemos seguir trabalhando, atendendo ao agro em 2020.

Qual o valor do orçamento global?

O orçamento global da Embrapa, considerando pessoal e recursos para custeio de pesquisa, ficou em torno de R$ 3.7 bilhões. É um orçamento robusto para qualquer lugar do mundo. A gente está satisfeito com isso.

Esse é praticamente o mesmo montante investido em 2019, uma redução muito pequena, que não considero significativa.

Faltará verba para pesquisas?

O investimento público em pesquisa, e não estou me referindo apenas a pesquisa agropecuária, tem sido a mola propulsora de vários setores e é necessário.

Dois exemplos recentes: um sobre desenvolvimento de carros elétricos, onde o governo americano aportou algo em torno de US$ 450 milhões para financiar as pesquisas, que culminaram nos carros da Tesla; e também a questão do reconhecimento de voz em celulares, desenvolvido com apoio financeiro do departamento de segurança americano.

Temos vários outros exemplos, aqui no Brasil inclusive, aplicados à pesquisa agropecuária, que precisamos de investimento público para alavancar o desenvolvimento de vários setores da economia brasileira.

Qual a importância do desenvolvimento da edição Genômica?

A edição Genômica é algo que vai ocupar um espaço bastante grande no desenvolvimento da biotecnologia. Para quem está nos acompanhando, são tesouras genéticas onde se pode cortar o DNA de plantas, microrganismos ou de até animais, para conferir a resistência ou adaptação a condições de estresse.

Temos hoje dois trabalhos de desenvolvimento:

Cadeia da soja – estamos trabalhando uma edição genômica para resistência ao ataque de nematoides e outra linha para adaptação à seca.

Cadeia do feijão comum – estamos trabalhando com edição genômica para redução do escurecimento, aquela na parte superficial do feijão.

Nós entendemos que cada vez mais a edição genômica vai ter um espaço importante no avanço científico e tecnológico da agropecuária brasileira mundial. Nós estamos avançando a passos largos nesse processo, já identificamos os genes que conferem a tolerância a seca e nematoides.

Acredito que no prazo de 3 anos ou 4 anos, possamos ter esses produtos disponíveis no mercado.

O ano foi bom a pesquisa brasileira?

Foi um ano difícil para o Brasil todo, mas digo que foi também um ano extremamente positivo. A Embrapa conseguiu, apesar de todas as dificuldades, entregar para o setor produtivo resultados relevantes para a sociedade brasileira. Então estou muito satisfeito com o trabalho, que foi árduo, mas gratificante.

Qual a perspectiva para 2020?

Será um ano bastante animado. Temos 43 censos de pesquisa em todo o território nacional, no qual visitei 36. Cada vez que vou a diferentes regiões do país, vejo novas soluções sendo disponibilizadas.

Um exemplo é que agora está se produzindo pêra no Vale do São Francisco, algo inimaginável pouco tempo atrás. Então a pesquisa agropecuária vai seguir surpreendendo. A Embrapa e seus parceiros irão seguir entregando valor e cumprindo o papel de apoiar um dos setores mais pujantes da economia brasileira.

Qual o apoio esperado junto ao Ministério da Agricultura?

Desde julho de 2019, quando eu assumi a presidência da Embrapa, tenho feito um trabalho muito intenso de aproximação com o Ministério da Agricultura. A ministra Tereza Cristina tem dado um apoio muito grande a Embrapa, tanto que em um período de cinco meses, ela já esteve cinco vezes na Embrapa, visitando.

A parceria com as diferentes secretarias do Mapa é muito intensa. As perspectivas são excelentes para o próximo ano, nessa dobradinha

O próprio presidente da república, Jair Bolsonaro, disse que gostaria de repotencializar a Embrapa. E é essa a missão que a ministra Tereza Cristina me deu.

Então nós temos um conjunto de mudanças e vamos implementar a partir de 2020, com apoio muito forte do Ministério da Agricultura. Precisamos rever processos, reduzir sobreposições , rever redundâncias e aumentar a nossa eficiência.

É isso que vamos fazer, a Embrapa vai emergir dessa mudança como uma empresa melhor, mais responsiva, mais ágil e mais eficiente para entregar valor para a sociedade brasileira.