As exportações de madeira bruta registraram um crescimento superior a 9.500% nos últimos dez anos. Segundo dados da plataforma Comex Stat, do Ministério da Economia, o Brasil embarcou 977 mil toneladas no acumulado de 2020 até outubro. No mesmo período de 2010, as vendas ao mercado exterior somavam pouco mais de 10 mil toneladas.
Os dados da pasta, que consideram também madeira descascada, desalburnada ou esquadriada, indicam um avanço menor em receita, mas ainda bastante considerável: 2.055%, passando de US$ 3,8 milhões para US$ 82,5 milhões (FOB).
É importante destacar que mesmo a pandemia da Covid-19 não impediu que essas exportações aumentassem. De janeiro a outubro do ano passado, o país havia embarcado 756 mil toneladas, gerando US$ 72,4 milhões – ou seja, este ano apresenta alta de 29% em volume e de 13,97% em receita.
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O gerente da consultoria STCP Engenharia de Projetos, Marcelo Wiecheteck, afirma que a desvalorização do real frente ao dólar tornou a madeira brasileira mais competitiva no mercado internacional, a exemplo do que acontece com outros produtos, como a soja.
“Estamos mais competitivos e, se o valor da commodity em dólar não cai, a tendência é que [o exportador] tenha um ganho”, afirma Wiecheteck. Segundo ele, enquanto a madeira (eucalipto e pinus) voltada ao setor de celulose é negociada entre R$ 30 e R$ 40 por metro cúbico, o produto que atende os padrões da exportação é cotado acima de R$ 100 por metro cúbico.
Outro fator que, segundo o gerente da STCP, colaborou para o aumento das exportações de madeira bruta (toras, como são mais comumente tratadas no mercado) foi o crescimento na demanda internacional, principalmente na Ásia.
“Tornou-se uma oportunidade para o produtor florestal que está mais próximo ao porto, especialmente para aquele que não tinha feito um planejamento para se atrelar a uma indústria”, afirma. Wiecheteck conta que existem florestas intocadas no Sul do Brasil que foram plantadas próximas a cidades que não têm fábricas.
Mas acessar mercados internacionais não é para todos. Assim como os sojicultores, pequenos produtores de madeira acabam limitados à indústria local, acessando outros países por meio de tradings na grande maioria das vezes, o que diminui a receita.
“Pequeno produtor não exporta diretamente, porque não tem escala e periodicidade na floresta dele. Então tem um agente intermediário, que é o trader, que compra essas toras de diferentes produtores, fecha a carga e organiza a logística”, conta.
Madeira e o setor de celulose
O Brasil também é um grande produtor de derivados da madeira, como a celulose. Esse mercado, aliás, está prestes a dar um salto importante, com a abertura de quatro novas fábricas entre Santa Catarina e São Paulo até 2025. A STCP estima que essas plantas vão demandar cerca de 15 milhões de metros cúbicos por ano.
Porém, é preciso fazer uma separação entre a matéria-prima bruta que é destinada à exportação e aquela que vai para fabricação de celulose e outros produtos. Como relata Wiecheteck, o diâmetro varia ao longo da árvore, principalmente em pinus e eucalipto. A base costuma ser mais larga e a ponta, mais fina. E é com essa madeira mais fina que as indústrias trabalham, enquanto a exportação de toras geralmente está relacionada às partes mais grossas.