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Incêndio criminoso faz produtor argentino perder trigo e milho pronto para colher

Segundo entidade rural do país, ataques já duram três meses e mais de 60 ocorrências foram relatadas, entre roubos de maquinários, lavouras queimadas e destruição de silos

Uma grande e prolongada onda de ataques está tirando o sono dos produtores rurais argentinos. Segundo a Confederaciones Rurales Argentinas (CRA), lavouras estão sendo queimadas, silos rasgados, maquinários roubados e duas mortes foram relatadas. Produtor relata clima de medo após ter metade de sua área queimada. “O fogo quase chegou na minha casa.”

O caso descrito acima não é único e nem novidade. Há pelo menos três meses as áreas rurais da Argentina estão sofrendo ataques de vandalismo, com queimas de lavouras e produtos, rompimento de silos bolsas, roubos de maquinários e mortes. O clima relatado no campo é de medo e indignação, já que nenhuma prisão aconteceu ou suspeitos foram encontrados, afirma o presidente da CRA, Jorge Chemes.


Rolos de alfafa queimam após ataque criminoso


Silo bolsa rompido propositalmente na região de Córdoba, na Argentina

“Nestes três meses já foram relatados pelo menos 60 ocorrências de ataques em fazendas por todo o país. Temos até um mapa mostrando os locais. São vandalismos de todo o tipo e os produtores estão com medo”, afirma Chemes.

— CRA (@CRAprensa) July 1, 2020

Segundo o presidente da CRA, acredita-se que a razão para os ataques é devido a uma imagem negativa que uma parcela da sociedade têm do setor rural.

“Na Argentina, criou-se uma imagem ruim da agricultura em larga escala. Acredito que esse movimento contra a agricultura parte de uma ala da política Peronista, que discorda do governo atual e está tentando trazer problemas”, diz.

Chemes confirmou que já há um projeto de lei em andamento para punir os contraventores. A informação foi inclusive destacada no jornal argentino La Nación. Segundo o periódico, o deputado nacional e presidente da Câmara dos Deputados, Sergio Massa, apresentou um projeto de lei que pune com até 5 anos de prisão quem danificar os silos bolsas para armazenamento de grãos.

“O governo atual está tentando criar um projeto de lei para punir os infratores com prisão de 5 a 10 anos, mas esperamos uma ajuda mais efetiva no campo, com policiamento e rondas frequentes”, pede o presidente da CRA.

Por fim, Chemes recomendou que os produtores não tentem fazer justiça com as próprias mãos para evitar tragédias maiores. “O certo não é os produtores tentarem coibir os ataques por conta própria, até para evitar conflitos maiores e mortes. O setor agro já está cobrando a segurança nacional para ajudar nessa ronda, temos que continuar apelando para que isso aconteça logo”, diz.

Produtor perde metade da área

O produtor familiar Gabriel de Raedemaeker, que possui uma fazenda de 60 hectares na província de Córdoba, perdeu metade de sua área devido a uma queimada criminosa, fruto dessa onda de vandalismo que o país enfrenta.

Ao todo, ele perdeu 25 hectares de milho prontos para colher e cinco hectares de trigo recém-plantados. “Perdi um total de 300 toneladas de comida. Um prejuízo irrecuperável, ainda mais se considerando o momento atual de pandemia por coronavírus, onde falta alimentos para todos”, afirma Raedemaeker.

Gabriel de Raedemaeker

O produtor relatou grande medo, pois o fogo chegou até muito perto da sede da fazenda, onde vive com sua família.

“Se não fosse a chegada e ação rápida dos bombeiros, eu teria perdido até minha casa e meus equipamentos agrícolas, que ficam ali perto, no máximo a mil metros dali. O vento estava bastante forte, mas os bombeiros foram mais rápidos e evitaram uma tragédia maior”, afirma Raedemaeker.

Ele diz que nem pensa em tentar fazer justiça com as próprias mãos, mas acredita que o governo do país deveria fazer um discurso mais claro condenando estas ações.

Gabriel de Raedemaeker

“Estamos com essa sensação de impunidade, pois esses ataques estão acontecendo há algum tempo e de todo o tipo, incêndios, roubos e silos danificados. E não vemos nenhum tipo de punição acontecendo. Não estamos seguros e somos cidadãos comuns, sob os direitos da constituição”, diz.

Por fim, o produtor também acredita que, pelo tipo de vandalismo que está acontecendo, parece ser uma mensagem ao governo atual.

“Imagino que seja uma mensagem de uma parte que se opõe ao governo atual. Por isso acho necessário que o presidente passe uma mensagem clara condenando os ataques e prometendo ações mais drásticas para evitar que outros agricultores como eu, percam toda sua lavoura”, finaliza.

Gabriel de Raedemaeker