Há seis dias, bombeiros e brigadistas sul-mato-grossense lutam para apagar um incêndio de grandes dimensões que se espalhou pela vegetação pantaneira próxima a Corumbá (MS), a cerca de 420 quilômetros da capital do estado, Campo Grande.
A seca atípica que já afeta o Pantanal dificultou o combate ao fogo, que se espalhou facilmente pela vegetação do entorno da Serra do Amolar, ameaçando a população ribeirinha e algumas propriedades rurais existentes na região, distante cerca de 150 km do Parque Nacional do Pantanal – unidade de conservação criada em meio ao complexo de áreas protegidas e reconhecidas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Reserva da Biosfera e Patrimônio Natural da Humanidade.
Embora o foco principal do incêndio esteja a cerca de três horas de distância de barco da sede de Corumbá, na Serra do Amolar, a fumaça chegou a cruzar o Rio Paraguai e ser sentida na cidade – de onde, a noite, foi possível avistar as chamas ardendo ao longe.
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Segundo o Corpo de Bombeiros, o fogo começou a ser controlado nas últimas horas. E, mantidas as atuais condições, deve ser extinto em breve. Ainda assim, na manhã desta quarta-feira, 7, ao menos cinco bombeiros, seis brigadistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e quase uma dezena de funcionários de fazendas próximas que se voluntariaram se esforçavam para abrir aceiros (faixas de onde a vegetação é retirada de forma a deixar o terreno livre de material inflamável) e, assim, tentar conter a propagação do fogo.
“Devido à dificuldade de acesso ao local, estão sendo utilizados tratores e esteiras pertencentes aos fazendeiros da região para fazer os aceiros e, assim, tentar confinar o fogo, que já está praticamente controlado dentro desta área”, disse o tenente-coronel Fernando Carminati, do Corpo de Bombeiros estadual.
Segundo o militar, todo o maquinário pesado empregado teve que ser levado de balsa até o local, já que só é possível chegar a Serra do Amolar navegando a partir do Rio Paraguai – cuja proximidade não impediu que as equipes tivessem que recorrer a carros-pipas e mangueiras, já que a região está sendo afetada por uma estiagem poucas vezes vista para este período do ano.
“Houve chuvas em junho, mas bem abaixo do previsto, bem abaixo da série histórica”, comentou Carminati, demonstrando otimismo com a previsão de chuvas para a região a partir desta quinta-feira, 8. “Nossa expectativa é que, se tudo correr conforme o previsto, até amanhã, no máximo, este incêndio esteja apagado”, acrescentou Carminati antes de afirmar que os bombeiros ainda não sabem precisar o tamanho da área queimada e onde o incêndio se originou. Além disso, a causa do incêndio ainda terá que ser investigada.
“São vários focos de incêndio e a suspeita é que o fogo tenha sido provocado pela ação humana, já que não estava chovendo [e, portanto, nenhum raio atingiu a vegetação] quando as chamas surgiram. Mas só a investigação policial vai poder apontar a origem, pois, no momento, não sabemos se foi algo criminoso ou causado por negligência”, comentou o militar.
Já o diretor de relações institucional do Instituto Homem Pantaneiro, Angelo Rabelo, estima que mais de 20 mil hectares (cada hectare corresponde, aproximadamente, às medidas de um campo de futebol oficial) foram destruídos. Além disso, ele diz não ter dúvidas de que o fogo foi causado pela ação humana. Em parceria com o ICMBio, o instituto administra quase 300 mil hectares de área protegida na região.
Na segunda-feira, 6, os bombeiros, brigadistas e voluntários conseguiram evitar que as chamas atingissem uma escola que atende em regime de semi internato a cerca de 50 crianças da região, funciona em uma fazenda e está fechada devido à pandemia da Covid-19. As chamas chegaram relativamente próximas ao local, mas foram contidas sem causar danos às estruturas. De acordo com Rabelo, a Escola Jatobazinho fica próxima ao local a partir de onde o fogo se espalhou.
Segundo o presidente do sindicato de produtores rurais de Corumbá, Luciano Leite, a região da Serra do Amolar é frequentemente atingida por incêndios. Para ele, o fato de ser proibido criar gado no local contribui para que o fogo se espalhe mais facilmente, já que, na seca, a vegetação rasteira cresce sem controle.
“O bombeiro, no Pantanal, é o boi. E nesta região não há produção de gado, por se tratar de uma reserva”, disse Leite. “Normalmente, estes incêndios ocorrem em agosto ou setembro. Este ano, o problema começou já no mês passado, quando o governo teve que mandar bombeiros. Para o município, esta situação é muito complicada, porque a fumaça vem toda para a cidade de Corumbá, que fica à margem do Rio Paraguai. A produção rural, no entanto, não é afetada, já que lá na reserva não há criação de gado [ou agricultura extensiva].”
Já Angelo Rabelo, do Instituto Homem Pantaneiro, disse que, embora, em tese, Leite tenha razão quanto ao papel desempenhado pelo gado, na prática, ela não se aplica.
“Basta vermos que estes incêndios não estão ocorrendo nas reservas [de conservação], mas sim nas fazendas limítrofes, em área rural. Não há fogo dentro de nenhuma das cinco reservas ou do parque nacional que administramos e para os quais temos um plano preventivo”, afirmou Rabelo, assegurando que, na semana passada, policiais militares autuaram duas famílias ribeirinhas pelo uso de fogo para extração de madeira. “Temos denunciado que o manejo do fogo para extração de mel e de madeira tem sido a principal origem destes incêndios.”
Para Rabelo, ainda que os atuais focos de incêndio na Serra do Amolar sejam extintos nas próximas horas, a situação, no estado, é preocupante. Principalmente em função da seca. “Eu diria que, em alguns lugares, teremos um mês e um segundo semestre bastante intensos. “Inclusive, já estamos pedindo que parte da equipe de brigadistas do PrevFogo [do Ibama] seja mantida na região para facilitar o trabalho.”
A Agência Brasil entrou em contato com o Ibama e com a Polícia Militar do Mato Grosso do Sul e aguarda resposta.