O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, mudou o discurso em relação ao trabalho desenvolvido por produtores rurais do país. Alvo de protestos desde o fim de junho, quando defendeu publicamente o projeto que obrigará a redução das emissões de nitrogênio em oito anos, o político sinalizou interesse em apoiar o agronegócio local — que será drasticamente afetado caso a proposta avance. Para isso, nesta semana, ele foi a uma fazenda de criação de vacas para afirmar, agora, que está disposto a trabalhar em favor do setor.
“Estou convencido de que juntos podemos garantir que podemos estabelecer um setor agrícola forte para o futuro da Holanda”, afirmou Rutte em vídeo divulgado em seus perfis nas redes sociais. “Porque precisamos desesperadamente disso”, complementou na legenda que acompanha a produção audiovisual de pouco mais de um minuto e meio. No material, o primeiro-ministro holandês aparece em um barracão de compostagem onde vacas são mantidas.
“Ik ben ervan overtuigd dat we met elkaar ervoor kunnen zorgen dat we een sterke boerensector kunnen neerzetten voor de toekomst van Nederland. Want die hebben we verschrikkelijk hard nodig.” pic.twitter.com/KictH2AxUt
— Mark Rutte (@MinPres) July 18, 2022
No vídeo, publicado originalmente na segunda-feira (18), Rutte não comenta, entretanto, a possibilidade de vetar o projeto que vinha sendo amplamente defendido por ambientalistas, mas que, até então, não havia sido discutido com agricultores e pecuaristas do país europeu. A ideia de obrigar a redução das emissões de nitrogênio até 2030 fez com que produtores rurais fossem às ruas para protestar contra o governo. Vias foram bloqueadas e prédios públicos foram alvo de manifestações. Conforme registrado pelo Canal Rural, profissionais do setor acreditam que, uma vez imposta, tal lei reduzirá em 30% a produção de pecuaristas e, além disso, afetará o volume de fertilizantes usados no campo.
Apesar de feito diretamente de uma propriedade rural, o vídeo — aparentemente — não fez com que o político conquistasse novamente a confiança de agricultores e pecuaristas. Pelo Twitter, o internauta identificado como Wappie Sander fez referência à questão do uso de fertilizantes no país para tecer um comentário nada elogioso. “Você pode fertilizar a terra com o que sai da sua boca”, afirmou, ao responder a mensagem original do primeir0-ministro.
Mudança de postura do primeiro-ministro da Holanda
O vídeo feito diretamente de uma fazenda sinaliza, contudo, a mudança de postura de Mark Rutte diante dos protestos liderados por agricultores rurais holandeses, que incentivaram profissionais de outros países da Europa e resultaram em desabastecimento. Atualmente, ele fala da importância de se trabalhar em prol de uma “agricultura forte”. Há duas semanas, porém, ele reclamou abertamente da postura adotada por agricultores e pecuaristas. “Não bloqueiem estradas, não soltem fogos de artifício do lado de fora da casa de uma ministra, não espalhem estrume, não assustem crianças e nem ponham famílias em perigo”, reclamou o primeiro-ministro da Holanda durante o começo da série de manifestações.
Setor produtivo para a economia holandesa
Mais do que pensar em popularidade (e conquista de eleitores), Mark Rutte, que está à frente do poder neerlandês desde outubro de 2010, pode ter em mente o impacto econômico para país em caso de a agricultura e a pecuária serem diretamente prejudicadas por alguma nova lei. Isso porque, mais do que suprir o abastecimento local de alimentos, o agronegócio holandês movimenta a economia em termos internacionais. Segundo informações da agência de notícias alemã Deutsche Welle (DW), a Holanda tem cerca de 55 mil empreendimentos rurais espalhados em todo o seu território. E somente em 2019 o setor foi responsável por somar € 94,5 bilhões em exportações.
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