Desde o fim de junho, agricultores holandeses estão à frente de movimento que, no decorrer dos últimos dias, tem conquistado força em outros países da Europa. Diante de projeto do governo local de determinar a redução das emissões de nitrogênio até 2030, produtores rurais começaram a se rebelar contra a agenda defendida por ambientalistas — mas que, na prática, afetará o abastecimento, com a pecuária tendo de reduzir sua produção em até 30%, além de se ver obrigada a diminuir o uso de fertilizantes.
Na Holanda, que se tornou o epicentro das manifestações em favor da agricultura e da pecuária desenvolvidas em solo europeu, estradas foram fechadas por produtores. Para o protesto, eles usaram tratores, que, uma vez imposta a restrição de nitrogênio, deverão ser deixados de lado na produção rural — assim como as máquinas movidas a diesel. Além de bloquear vias, alguns dos agricultores holandeses se dirigiram a prédios governamentais para fazer reivindicações.
Imagens nas redes sociais mostram que, com o passar dos dias, o movimento conquistou apoiadores até mesmo entre as forças de segurança do país. Bombeiros, por exemplo, também realizaram protestos. Um vídeo mostra crianças guiando “mini-tratores” e exibindo mensagens em favor do trabalho desenvolvido no campo. Outro vídeo divulgado na web reforça que a onda de manifestações tem, além de tudo, se tornado popular entre a chamada população urbana.
URGENTE: Bombeiros da Holanda 🇳🇱 juntam-se aos agricultores. Assim que se faz. pic.twitter.com/y5u2k8ZRN9
— Elisabete Pereira (@Elisabe00158197) July 11, 2022
😍😍😍 09.07.22 Holanda.. Próxima geração sendo lapidada .. uma imagem vale mais que mil palavras .. via Kees pic.twitter.com/EiB7kdRsf8
— Fernanda Picchirulle Tonelli C. MacMillan (@floresdepapel6) July 9, 2022
🚨Holanda 🇳🇱:Os agricultores continuam o protesto contra os planos do governo de redução do uso de nitrogênio até 2030.
O movimento começa a ganhar força com à população urbana que apoia os agricultores.
Para amanhã estão organizando mais protestos em todo o país. pic.twitter.com/0R0Z35akjF— Ivan Kleber (@lordivan22) July 3, 2022
Sem produtores na ativa, sem abastecimento na Holanda
No dia a dia, as redes sociais também têm servido para mostrar que, com ou sem o nitrogênio, a Holanda, assim como qualquer outro lugar do planeta, depende de produtores rurais na ativa. Em meio à paralisação das atividades rurais e dos protestos pelo país, o desabastecimento tornou-se um problema real para os consumidores holandeses. Supermercados com prateleiras vazias chamaram a atenção. “Estão ficando sem comida”, relatou o escritor James Melville em postagem no Twitter.
Dutch supermarkets today. No farms, no food. Dutch farmers wins. pic.twitter.com/HFxUOdcN3D
— RadioGenova (@RadioGenova) July 5, 2022
Netherlands 🇳🇱
Supermarkets are running out of food as the farmers protest begins to bite.
Truckers and farmers are the pipeline of our food supply. Their power is the fear of corrupt governments everywhere. pic.twitter.com/B4w0aUzQSj
— James Melville (@JamesMelville) July 7, 2022
Produtores conquistam apoio internacional
A iniciativa de produtores rurais da Holanda acabou por incentivar agricultores e pecuaristas de ao menos outros três países da Europa. Isso porque trabalhadores da Alemanha, Itália e Polônia também foram às ruas nos últimos dias.
Em comum, o mesmo temor: que a agenda defendida por ambientalistas ganhem força diante dos governos locais, independentemente de prejuízos a serem encarados pelo setor do agronegócio e, consequentemente, pela população em geral — que, como mostram imagens acima, depende dos alimentos produzidos no campo.
Primeiro-ministro da Holanda está acuado
Um dos idealizadores da proposta que visa diminuir drasticamente a produção de nitrogênio em até oito anos, o primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, demonstra estar acuado. No primeiro momento dos protestos, ele criticou publicamente os agricultores do país. “Não bloqueiem estradas, não soltem fogos de artifício do lado de fora da casa de uma ministra, não espalhem estrume, não assustem crianças nem ponham famílias em perigo”, chegou a esbravejar o político.
“Para muitos agricultores, parece que o chão está afundando sob seus pés” — Mark Rutte
Nesta terça-feira (11), porém, o tom do discurso de Rutte foi outro. E com mensagem bem mais amena direcionada aos produtores rurais. Em foto divulgada em suas contas oficiais nas redes sociais, o primeiro-ministro demonstrou estar — finalmente — aberto ao diálogo com a categoria. “Trabalhamos com vocês em uma nova perspectiva para o setor agrícola”, afirmou em postagem acompanhada de imagem em que aparece conversando com um grupo de agricultores.
“As preocupações dos agricultores são grandes. Isso também é evidente nas conversas que tive com os agricultores hoje sobre os planos de nitrogênio”, afirma Mark Rutte (dias após reclamar publicamente dos protagonistas do setor do agronegócio holandês). “Para muitos agricultores, parece que o chão está afundando sob seus pés, como se não houvesse futuro para seus negócios”, prosseguiu o primeiro-ministro.
De zorgen die boeren hebben zijn groot. Dat blijkt ook weer uit de indringende gesprekken die ik vandaag met boeren heb gevoerd over de stikstofplannen. Voor veel boeren voelt het alsof de grond onder hun voeten wegzakt, alsof er geen toekomst is voor hun bedrijf. pic.twitter.com/oc5pmXCU7I
— Mark Rutte (@MinPres) July 13, 2022
Want Nederland is én blijft een landbouwland. En ik heb er alle vertrouwen in dat als we hier samen de schouders onder zetten, we hier samen uitkomen. Mijn collega’s uit het kabinet en ikzelf blijven de komende tijd de gesprekken met boeren voortzetten.
— Mark Rutte (@MinPres) July 13, 2022
Mais do que suprir o abastecimento local de alimentos, o agronegócio holandês movimenta a economia em termos internacionais. Segundo informações da agência de notícias alemã Deutsche Welle (DW), a Holanda tem cerca de 55 mil empreendimentos rurais espalhados em todo o seu território. E somente em 2019 o setor foi responsável por somar € 94,5 bilhões em exportações.