O Sri Lanka, ilha que fica no sul da Ásia, passa por protestos e confrontos há cerca de três meses, por causa do agravamento da crise econômica — situação que resultou na fuga do presidente Gotabaya Rajapaksa do país na última quarta-feira (13). Interrupção de energia elétrica e falta de combustíveis são alguns dos problemas enfrentados.
Outra dificuldade é com a inflação dos alimentos, que chegou a atingir 80% em 12 meses. O cenário se deve a uma proibição da importação de fertilizantes e defensivos no ano passado, com a intenção de mudar por completo a forma de produção no país. Com isso, o Sri Lanka ficou sem plantar um terço da sua produção agrícola.
Engenheiro de produção e CEO da Vapza Alimentos, Enrico Milani reforça a importância do setor de orgânicos em todo o mundo. Ele observa, porém, que mudar completamente a produção de alimentos de um país e impor apenas um formato de agricultura não é viável. E fazer isso do dia para a noite resulta em crise, como a enfrentada pelo país asiático neste momento.
Entrevista sobre a crise do Sri Lanka
Sobre o assunto, Milani foi entrevistado na edição desta sexta-feira (15) do telejornal Mercado & Companhia, do Canal Rural.
Confira, abaixo, alguns dos trechos da conversa sobre a relação da crise do Sri Lanka com a imposição de se ter uma agricultura 100% orgânica.
Canal Rural – Importante a gente ressaltar que o setor de orgânicos não é o vilão, essa é uma tendência alimentar em todo o mundo. Somente no Brasil, o segmento movimentou, em 2020, R$ 5,8 bilhões. A questão é que, por enquanto, não é possível alimentar a população mundial apenas com o orgânico?
Enrico Milani – Sim, constata-se que, por enquanto, é impossível alimentar o mundo todo, cerca de 7,7 bilhões de pessoas, somente com alimentos orgânicos. A agricultura orgânica demanda um processo que foca no longo prazo, além de ser uma produção reduzida em comparação com a convencional. O problema é que, de acordo com a ONU, são 700 milhões de pessoas passando fome ao redor do globo. Trata-se de uma questão urgente e é nela que deve recair a preocupação do poder público agora. Um passo de cada vez.
Canal Rural – Aprofundando no tema, e saindo um pouco da crise do Siri Lanka, o mercado de orgânicos tem crescido e tem público para esse nicho. Qual o tamanho do Brasil nesse mercado? Em que pé estamos para conseguir produzir em larga escala?
Enrico Milani – Acredito muito no mercado de orgânicos. E o Brasil também acredita, tanto que o segmento movimentou R$ 5,8 bilhões no país em 2020 e teve alta de 30% nas vendas em comparação com o ano anterior (dados da Associação de Promoção dos Orgânicos — Organis). O número de produtores também tem crescido. Se em 2010, havia cerca de 5,4 mil unidades de produção registradas junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em 2021, o número saltou para 26,6 mil (crescimento de quase 400%).
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