Pesquisas comprovam que, além de repelente, o óleo é biocida, matando a lagarta nas primeiras aplicações. Com o uso de um destilador, o óleo de pimenta-de-macaco pode ser produzido na propriedade rural e atender à produção local. A pesquisa da Embrapa foi realizada durante três anos, em Teresina (PI). No estudo, concluído este ano pelo pesquisador Paulo Henrique Soares, da Embrapa Meio-Norte (PI), ficou comprovada também a eficiência do óleo essencial no combate a pragas como a vaquinha (Cerotoma arcuatus), o pulgão-preto (Aphis craccivora) e o percevejo (Crinocerus sanctus), que atacam principalmente o feijão-caupi.
No Brasil, os agricultores usam inseticidas naturais no combate a pragas e doenças. Os mais comuns são óleos essenciais da folha de canela (Cinnamomum zeylanicum), da folha de louro (Laurus nobilis), da folha de goiaba (Psidium guajava) e de sementes de nim (Azadirachta indica). A eficácia dessas substâncias foi comprovada em pesquisas realizadas na Universidade de São Paulo e na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, há quase 10 anos.
O óleo essencial de pimenta-de-macaco possui 54 substâncias químicas naturais. O próximo desafio da pesquisa é identificar quais substâncias têm ação direta no extermínio dos insetos para aprimorar o uso do produto. São necessárias também pesquisas para definir o melhor manejo da planta, como espaçamento, adubação e irrigação, para uma maior produção de óleo por unidade de área. A Piper tuberculatum é uma planta que predomina em regiões tropicais, como o Nordeste brasileiro, e em áreas onde há um bom volume e frequência regular de chuvas.
Um novo caminho para mais pesquisas
O resultado desse estudo, no entender do agrônomo Francisco Kim de Oliveira, da Embrapa Meio-Norte, abre uma trilha para novas pesquisas com plantas nativas, cujas essências podem gerar produtos alternativos para o controle de pragas e doenças, “dando sustentabilidade à cadeia produtiva de alimentos, e reduzindo, assim, o uso de agrotóxicos”.
O professor Flávio Luiz Crespo, coordenador adjunto do Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Agroecologia e Agricultura Orgânica da Universidade Estadual do Piauí, é otimista com as pesquisas em plantas nativas. Ele vê esse trabalho como uma excelente alternativa no controle de pragas.
Crespo lembra que a produção agrícola convencional “trava uma verdadeira guerra contra os insetos, que estão no mundo há 250 milhões de anos, causando prejuízos econômicos e ambientais, devido ao uso de inseticidas químicos”. E mesmo com todo o “aparato de guerra”, como o professor classifica as ações dos produtores para vencer as pragas, a produção de milho no Brasil ainda sofre quedas de até 40% todo ano.
No experimento em campo, os pesquisadores usaram uma área de 2.500 metros quadrados com plantação do milho CMS 47. As plantas foram infestadas artificialmente com as lagartas desenvolvidas em laboratório. As aplicações com o óleo essencial e um tratamento com um inseticida químico recomendado para o controle da lagarta foram feitas simultaneamente na mesma área, 24 horas após a infestação.
As observações ao experimento aconteceram, seguidamente, 24, 48 e 72 horas após as aplicações. Em todas as observações, a eficácia do óleo essencial no combate às lagartas foi praticamente a mesma do inseticida químico, segundo o pesquisador Paulo Henrique Soares. Os ensaios em campo foram conduzidos na base física da Embrapa Meio-Norte durante um ano.
Vigilância permanente
Uma das maiores produtoras de milho da região Meio-Norte, a Fazenda Santa Luzia, no Município de São Raimundo das Mangabeiras, a 923 quilômetros ao sul de São Luís, trabalha em alerta permanente contra a lagarta-do-cartucho. Todo ano, segundo o gerente operacional da fazenda, Adelmo Oliveira Gomes, 100% dos 1.700 hectares plantados com o grão são atacados pela praga.
Para enfrentar o inimigo e espantar o prejuízo, a fazenda gasta R$ 250 por hectare com sementes transgênicas e inseticidas químicos.
– Se não houvesse essa preocupação com o controle da lagarta-do-cartucho, nossa produção teria uma quebra de safra em torno de pelo menos 30% – explica Adelmo Oliveira Gomes. Nas duas safras anuais, a Fazenda Santa Luzia produz 9,3 toneladas de milho por hectare, uma média considerada excelente em todo o País.
Produção agroecológica
A descoberta de novos herbicidas naturais é importante para o crescimento da produção orgânica e agroecológica no Brasil. As pesquisas brasileiras têm avançado principalmente em relação às hortaliças. A Associação de Agricultores Biológicos do Rio de Janeiro (ABIO), parceira da Embrapa, tem hoje 280 associados em 36 dos 92 municípios do Estado. A maioria se concentra na região serrana.
Em 2014, o ano internacional da agricultura familiar, produtos cultivados de forma orgânica avançaram em produção e aceitação. Dados do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), em São Paulo, registram mais de 370 feiras de produtos orgânicos em pelo menos 130 cidades de 24 estados brasileiros.
A entidade já tem até um mapa das feiras na internet para cadastrar produtores, associações e cooperativas de produtos orgânicos ou agroecológicos. Todo mês, segundo o Idec, cerca de 10 mil consumidores acessam o mapa das feiras orgânicas.