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'Diversidade no agronegócio tem de ir além', diz a presidente da Bayer Brasil

Em conversa com o Canal Rural, Malu Nachreiner fala do olhar feminino no setor, dos desafios da agricultura e dos lançamentos da companhia para esta década

Há 18 anos, Malu Nachreiner iniciava sua carreira na Bayer Brasil como estagiária. Em 2021, passou a ocupar a mais alta cadeira da companhia, juntamente com a Divisão Agrícola (Crop Science). Assim, acumula dois “chapéus”, uma expressão tão ligada ao setor empresarial quanto um adereço indispensável ao meio rural.

Ela é engenheira agrônoma formada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), com MBA Executivo pela Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, e dispensa qualquer tipo de formalidade. Gosta de ser chamada de “você” ou, simplesmente, de Malu. Conversa com o olhar fixo no interlocutor e fala de forma assertiva, direta, mas sem perder a serenidade.

Neste Dia Internacional das Mulheres, destacamos a visão global sobre a agricultura brasileira da presidente de uma das maiores empresas do agronegócio nacional. Confira abaixo a entrevista  concedida durante a Expodireto Cotrijal, diretamente de Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul:

Malu Nachreiner - presidente da Bayer - diversidade no agro
Malu Nachreiner. Foto: Daniel Popov/ Bayer

Canal Rural – Recentemente você passou a presidir a Bayer no Brasil e, ao mesmo tempo, também se encarrega da presidência da Crop Science. Qual a importância de uma mulher ocupar a mais alta cadeira em uma empresa ligada a um setor majoritariamente masculino?

Malu Nachreiner –  Acredito que, quando falamos em diversidade, é importante não restringir a questões de gênero. A diversidade vai muito além disso. Quando temos pessoas diversas, temos experiências de vida diferentes e esse conjunto traz para uma mesa de discussão olhares distintos. Para uma empresa do agro que está inovando cada vez mais, buscando estar na vanguarda – assim como é o agricultor brasileiro -, ter diferentes perspectivas é fundamental. Empresa com diversidade é empresa que inova, porque as pessoas podem ser a sua melhor versão e isso não se atém, unicamente, à questão de gênero. Ter o olhar da mulher e outras diversidades faz uma empresa ter a capacidade de inovar e atender de forma mais consistente os desafios que temos agora e no futuro.

CR – Nesta conjuntura, qual a importância do agronegócio?

Malu Nachreiner – O agro tem um papel muito importante, ainda mais porque o Brasil é um país de vocação agrícola e tem um protagonismo muito grande quando falamos em produção de alimentos. Enquanto que, infelizmente, vários setores da economia tiveram retração durante a pandemia, o agro, até por ser uma atividade essencial, viveu um cenário diferente e isso é muito positivo porque retoma a economia do país e evoca o desenvolvimento de cidades do interior. Assim, é possível sair da dependência das grandes capitais, já que andamos pelo interior do Brasil e vemos um desenvolvimento muito impulsionado pelo agro, gerando emprego e renda. Estar no Brasil e estar no agro é um privilégio neste momento em que vivemos em que muitos setores, infelizmente, não estão tendo o mesmo desempenho.

CR – Como é estar de volta às feiras presenciais? Percebe que o agro sente falta desse contato?

Malu Nachreiner – Sim, porque a agricultura é uma atividade muito relacional, então, por mais que encontremos diferentes formas de interagir com o agricultor durante a pandemia no universo digital, nada substitui 100% o contato pessoal. Para nós, enquanto companhia e profissionais, estar aqui e poder ficar próximo de nossos clientes, do agricultor e de parceiros comerciais, como a Cotrijal, é muito importante.

CR – A empresa vem desenvolvendo novas tecnologias? Estar em uma feira, seja presencial ou digital, também tem o caráter de capacitar agricultores no uso destas ferramentas?

Malu Nachreiner – Tivemos a oportunidade de lançar várias tecnologias durante a pandemia, algo muito diferente do que estávamos fazendo anteriormente, já que foram lançamentos 100% virtuais, como a Plataforma Intacta 2 Xtend. Agora nas feiras nós temos a oportunidade de trazer para o físico e o tangível muito do que construímos nos últimos dois anos de forma digital em função da pandemia. Sobre a capacitação, a indústria tem um papel muito importante neste âmbito de trazer inovação e também de capacitar o agricultor a trabalhar com as tecnologias que estão chegando, seja ela digital ou uma plataforma, como a Intacta 2 Xtend. Temos a oportunidade com o i2x Acerte de ajudar o agricultor no melhor manejo com as ferramentas que a plataforma oferece, olhando os desafios que o produtor tem no campo, principalmente no controle de plantas daninhas.

CR – Quais as expectativas a respeito do lançamento da Intacta 2 Xtend?   

Malu Nachreiner – A plataforma Intacta 2 Xtend é uma biotecnologia que foi, pela primeira vez, lançada fora dos Estados Unidos. É uma plataforma que traz mais produtividade ao agricultor, fator que é o grande chamariz. Esse aumento de produtividade foi comprovado pelos dados pré-comerciais que coletamos ao longo dos últimos cinco anos, que foi o tempo de desenvolvimento da plataforma, e é o que estamos vendo no campo hoje com as primeiras colheitas. É uma tecnologia que vai trazer um novo patamar de produtividade. Olhando para o futuro, seguimos com um pipeline de lançamentos muito focado no controle de lagartas. Ainda nesta década devemos lançar uma terceira geração da biotecnologia, além de novas moléculas de manejo de herbicidas entre o final desta década e o começo da próxima. Continuaremos investindo em biotecnologia para soja e milho, mas, no caso da soja, por termos um país tropical, teremos um grande foco em controle de pragas, que é um grande desafio no clima que temos por aqui. Teremos, também, o lançamento da Intacta no Paraguai, embora o Brasil seja o grande foco.

CR – Falando sobre sustentabilidade, o mercado de carbono tem atraído a atenção da Bayer nos últimos anos. Como está esse processo?

Malu Nachreiner – Temos a Iniciativa Carbono na Bayer que, atualmente, contempla aproximadamente cinco mil agricultores em todo o mundo. Essa iniciativa começou no Brasil e nos Estados Unidos e por aqui, desde o ano passado, estamos em processo de implementação e lançamos nesta safra 21/22 o Pró Carbono, que é um grupo de quase dois mil agricultores que vamos acompanhar durante três anos para ter uma base para correlacionar as melhores práticas agronômicas e o manejo sustentável com o sequestro de carbono no solo para que possamos trazer, de fato, a agricultura como parte da solução de um dos grandes desafios que temos que são as mudanças climáticas. Com a ajuda da Embrapa e do agricultor, esperamos ter uma boa base de dados, uma base científica para que possamos avançar nisso no futuro para um eventual modelo de negócios para o próprio agricultor. Temos de estar prontos para quando esse mercado de carbono for, de fato, uma realidade. O objetivo é que no final o agricultor seja remunerado não apenas por quanto ele produz, mas também pelo como ele produz, não só deixando de emitir gases de efeito estufa como também os sequestrando no solo.

CR – Nesse âmbito, podemos dizer que a agricultura brasileira “sai na frente” se compararmos com a praticada nos Estados Unidos, onde o projeto também existe?

Malu Nachreiner – A agricultura brasileira já vem em outro patamar quando falamos em sustentabilidade. Nos Estados Unidos, a primeira prática conservacionista que indicamos é começar o plantio direto e aqui no Brasil já não precisamos falar desta etapa. Abordamos outras formas mais avançadas de manejo que ajudam na saúde do solo e em produzir mais. O agricultor que produz de maneira sustentável e com as técnicas recomendadas produz mais, essa é a questão. Em curtíssimo tempo ele já observa melhor rendimento, produtividade e eficiência dos insumos que utiliza e no médio e longo prazo, esperamos ajudá-lo a se inserir neste mercado que vai ser consolidado em algum momento, como já está sendo na Europa.

CR – Como a Bayer tem acompanhado o cenário internacional em um momento em que a guerra entre Rússia e Ucrânia acende o alerta, também, na agricultura, especialmente no que concerne a oferta de fertilizantes?

Malu Nachreiner – Fertilizantes não é um mercado em que nós operamos como companhia, mas o que vemos é que se trata de mais uma pressão em um sistema produtivo que já está com muitos desafios. A pandemia trouxe desafios para a cadeia de supply global muito grandes, desde problemas climáticos que tivemos em 2021 até os desafios com transporte. Então a cadeia de suprimentos na indústria de insumos vem muito estressada e, sem dúvidas, um cenário como o que nós estamos vivendo na Europa não vai contribuir de forma positiva. Trata-se de mais um desafio que a agricultura mundial vai ter de enfrentar, além da pandemia que também não tem sido fácil de superar pelo produtor de insumos.