Estamos ultrapassando todos os limites do bom senso. Vivendo em um mundo onde cada vez mais o óbvio precisa ser dito. Os recentes e frequentes ataques ao agronegócio, e por consequência ao produtor rural, não podem mais ser tolerados. Precisamos dar um basta no fogo amigo. Vamos nos respeitar! Respeitar pontos de vista, opiniões e ideologias. Mas com racionalidade e ponderação. Somos desafiados o tempo todo, bombardeados diariamente por informação e desinformação. Um ambiente que deve ser enfrentado e até certo ponto combatido com entendimento e compreensão da causa, não da conveniência. Porque não existe mais espaço para ódio.
O caso do jovem Vittorio Furlan Vieira, que foi hostilizado pelo professor ao defender o agronegócio durante uma palestra em uma escola de São Paulo, expõe uma ferida que precisa ser tratada. A agricultura e a pecuária se constituem em vocação natural. O desenvolvimento econômico e social do país começa no campo e passa pela agroindústria para reverberar nas cidades. O dia a dia da população de um modo geral está direta ou indiretamente ligada ao agronegócio. Não dá mais para ignorar a interação, a dependência e complementariedade entre urbano e rural. Essa é a nossa grande fortaleza. Vamos assumir, de vez e de fato, que isso está resolvido.
Precisamos conservar, cuidar e preservar. Mas também precisamos de emprego e renda, precisamos comer. E para isso precisamos produzir, plantar e colher, exportar e ajudar a alimentar o mundo. Aproveito aqui para rebater a desinformação. Não há como produzir sem preservar, fauna e flora, água e solo. Preservar não é opção, mas condição à produção, seja ela agrícola ou pecuária. Isso é técnico e científico. Não tem a ver com crença, ativismo ou, de novo, conveniência. É simples assim. Chega de criar problemas para vender a solução.
Parece que estamos o tempo todo tendo que nos defender de nós mesmos. Quando nosso adversário, se assim podemos dizer, está lá fora. Está no protecionismo injustificado, nas narrativas equivocadas e nos ataques desmedidos e propositais de países preocupados com a supremacia e competitividade da agricultura brasileira. É com isso que devemos nos preocupar. É isso que devemos combater. Mas não vamos conseguir fazer isso sem fazer a lição de casa, que passa pelo campo e pela cidade. A agenda deve ser positiva e propositiva.
Isso na verdade já vem sendo feito pelo setor. O que falta, talvez, seja uma estratégia mais coordenada de mobilização para falar com a opinião pública, para falar com o depois da porteira.
Não se trata de defender, mas de contar a história verdadeira, a partir de uma narrativa mais real e adequada do agro. E não tem outro jeito de fazer isso que não seja com informação.
Afinal, somos o celeiro do mundo. Passamos de importador para produtor e exportador de alimentos. Além de garantir o abastecimento interno para 220 milhões de brasileiros, alimentamos quase 1 bilhão de pessoas mundo afora. Um terço do Produto Interno Bruto (PIB) do país tem origem no agro. O superávit da balança comercial, leia-se divisas comerciais, é garantido pela pauta de exportações de produtos do agronegócio. Em 2021, exportamos US$ 120 bilhões em produtos do agro. Sem falar da função social. Dos pouco mais de 5 milhões de estabelecimentos rurais no Brasil, 3,9 milhões são classificados de agricultura familiar. O setor ocupa mais de 15 milhões de pessoas, das quais 10 milhões na agricultura familiar.
E não adianta contar algo diferente, porque contra fatos não há argumentos. Fazemos isso tudo com muita preservação e sustentabilidade. Dados da Embrapa revelam que dos 851 milhões de hectares do território brasileiro, 33% são ocupadas por atividades agrícolas, pecuárias e florestas plantadas. Resumidamente, esse é o Brasil do agronegócio, esse é Brasil rural. Um Brasil que as escolas, certas indústrias de cerveja e agentes financeiros precisam conhecer melhor. Um Brasil que cada um de nós precisa conhecer melhor. Porque o mundo já conhece e reconhece, só não admite, o potencial do agronegócio brasileiro.
* Giovani Ferreira é diretor de Conteúdo do Canal Rural. Mestre em Administração pela Universidade Positivo. Pós-graduado em Agronegócio pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e em Gestão Estratégica de Marcas pelo (IICS/ISE Business School e Universidade de Navarra (Espanha). Graduado em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)