Uma pesquisa de sete anos, conduzida em parceria pela Embrapa e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca a qualidade do azeite de oliva produzido no Brasil.
Cientistas analisaram a composição química do produto e realizaram avaliações sensoriais com especialistas, focando em critérios como aparência, aroma e sabor.
A iniciativa visa fortalecer a olivicultura no país e contribuir para o estabelecimento de regulamentações.
Resultados positivos demonstraram que os azeites de oliva virgem de diferentes variedades de oliveira atendem aos padrões nacionais e internacionais de bioativos e voláteis, de acordo com informações da Embrapa.
Além disso, um estudo recente mapeou e estimou o estoque de carbono na cafeicultura, contribuindo para o entendimento dos impactos ambientais dessa atividade.
A parceria entre a Embrapa e a UFRJ recebeu um importante reforço com a criação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Olivicultura e do Azeite Brasileiros (INCT OABras).
O projeto envolve 34 cientistas de diversas instituições, com o objetivo de resolver desafios tecnológicos e garantir a qualidade e produtividade do azeite de oliva brasileiro.
O azeite de oliva tem ganhado destaque na produção nacional, principalmente nas regiões Sul e Sudeste.
No entanto, a cadeia de produção ainda enfrenta desafios, e a pesquisa busca contribuir para superar essas barreiras.
A pesquisadora Adélia Machado, da Embrapa, ressalta que o conhecimento gerado sobre as variedades cultivadas no Brasil é fundamental para caracterizar um produto de alto valor comercial e interesse nutricional e de saúde.
A qualidade do azeite está relacionada a diversos fatores, como agronômicos, tecnológicos e condições de armazenamento.
Os parâmetros de identidade e qualidade do azeite são definidos por instruções do Ministério da Agricultura e Pecuária, que, por sua vez, segue a regulamentação da União Europeia.
Mapa de aromas de azeites nacionais
O azeite extra virgem tem um aroma complexo, contendo várias centenas de substâncias voláteis.
Seu aroma está relacionado com a variedade genética da oliveira, o solo e o clima onde é cultivada e as condições de extração e armazenagem do azeite de oliva, como aponta o pesquisador Humberto Bizzo, da Embrapa Agroindústria de Alimentos.
Ele realizou uma capacitação como Cientista Visitante no grupo de Química de Alimentos do Departamento de Ciência e Tecnologia do Fármaco, da Università degli Studi di Torino, em Turim, Itália, para a aplicação da técnica de cromatografia multidimensional abrangente na análise dos voláteis (aromas) dos azeites brasileiros.
Vinte e sete azeites brasileiros, sendo 15 produzidos no Rio Grande do Sul e 12 na Serra da Mantiqueira, tiveram seus voláteis amostrados por microextração em fase sólida e analisados por cromatografia gasosa multidimensional abrangente acoplada à espectrometria de massas.
Os resultados preliminares indicam que a técnica de cromatografia multidimensional abrangente constitui uma importante ferramenta para a caracterização dos azeites brasileiros, cuja aplicação permitiu o estabelecimento de marcadores químicos para processos de indicação de origem e ocorrência de adulteração.
A vantagem do uso dessa técnica é que possibilita a agregação de uma elevada quantidade de informações química sobre os voláteis das amostras.
Bizzo é vice-coordenador do INCT OABras e irá coordenar as análises do perfil dos componentes voláteis presentes em amostras de azeite de oliva nacional, responsáveis por seu aroma, por meio da técnica cromatografia gasosa multidimensional abrangente.
“Após a realização da pesquisa, teremos um mapa de aromas do azeite de oliva brasileiro, a partir de uma correlação mais precisa entre voláteis e origem geográfica ou variedade utilizada. Os dados obtidos serão como impressões digitais dos azeites brasileiros”, explica o pesquisador.
Uma outra vantagem da técnica é a possibilidade de reduzir a ocorrência de fraudes e adulterações.
A metabolômica de aromas constitui atualmente o estado da arte na análise de alimentos. Tem sido aplicada com sucesso na análise de café, chá preto, cacau, avelãs e frutas.
“Nesse projeto, pretendemos atuar em conjunto com os produtores de azeite, a fim de aumentar a oferta, diminuir fraudes e solucionar problemas que interferem na olivicultura nacional”, destaca.
Produção e consumo de azeite de oliva no Brasil
Atualmente, o Brasil é o terceiro maior importador mundial de azeite de oliva, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da União Europeia.
O azeite brasileiro tem qualidade reconhecida por prêmios internacionais conquistados nos últimos anos, mas a produção local ainda é incipiente.
Iniciada na última década, chegou a 503 toneladas em 2022, o que representa apenas 0,24% do consumo nacional.
O Rio Grande do Sul e a região da Serra da Mantiqueira apresentam os maiores volumes de produção, em razão dos aspectos favoráveis de clima e relevo.
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