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Nos EUA, brasileira relata como foi dar à luz no meio da quarentena

O nascimento da pequena Lauren ocorreu no momento de maior isolamento social e muito do que havia sido planejado, teve que ser readaptado de última hora; confira essa história

O momento do nascimento de um filho é planejado nos mínimos detalhes por muitas famílias pelo mundo. Mas, para quem teve que enfrentar os últimos meses de gravidez e uma sala de parto durante a pandemia do novo coronavírus, essa experiência se mostrou muito diferente.

Na série que ouve os brasileiros em quarentena pelo mundo, nós conversamos com Livia Chagas, 38 anos e que mora em York, uma cidade com 448 mil habitantes no estado norte-americano da Pensilvânia. Vivendo com o marido, Cleber,  e a filha Sophie, de 3 anos e meio, ela viu a pandemia chegar ao país que ela escolheu viver e a cidade onde mora passou a adotar algumas medidas de isolamento, tudo isso nos últimos meses da gravidez de sua segunda filha, Lauren.

Quando a pandemia atingiu os EUA, Livia e Cleber se preparavam para serem pais mais uma vez Foto: Arquivo Pessoal

“Nossa cidade não é grande e tivemos mais de 600 casos e 9 mortes por Covid-19 no condado de York, que é uma região que abrange algumas cidades. A situação começou a ficar preocupante quando começaram a surgir casos mais próximos do nosso estado, como em Nova York e na própria Filadélfia, cidade mais populosa do nosso estado”, disse.

No meio de março,  o governo decretou a quarentena para alguns condados. No dia 1º de abril,  foram decretada essa recomendação para ficar em casa em todo o estado. Atualmente, segundo ela, a recomendação virou ordem e as pessoas só podem sair de casa para atividades essenciais, como supermercado, consulta médica e farmácia.

O marido de Livia é engenheiro e passou a trabalhar em casa. Ela, como trabalha com recursos humanos, continuou a ir para a empresa, que trabalha com o fornecimento de materiais para hospitais, como uniformes, roupas de cama e também funciona como uma lavanderia para higienização de roupas dos hospitais. “A minha empresa não fechou e eu trabalhei até o dia 16 de março. No dia 17, não fui trabalhar porque comecei a sentir contrações e percebi que a minha segunda filha estava chegando”.

Dando à luz em isolamento

Como no parto da sua primeira filha, Lívia quis ter ao seu redor além do marido, a mãe e o pai que moram no Brasil. Nos EUA, é permitido que até quatro pessoas acompanhem o parto, mas tudo foi muito diferente desta vez.

Os demais familiares não puderam acompanhar o parto e a entrada no hospital só foi permitida ao pai. Foto: Arquivo Pessoal

“Todos ele estavam na expectativa de assistir ao parto, mas não conseguimos por causa da restrição. Cheguei ao hospital e já fomos barrados e fizeram várias perguntas para mim e ao meu marido. Lá dentro, a sala de espera fica trancada, sem nenhum tipo de visita no hospital e ninguém, além do pai, pode assistir ao parto”, relembra.

Foto: Arquivo pessoal

Segundo Lívia, o controle era tão rígido, que quando seu marido Cleber teve que ir para casa para descansar, quase não conseguiu retornar ao hospital. “Ele foi para tomar um banho e descansar, mas quando tentou entrar de novo, não queriam deixar ele entrar. Foram vários minutos até ele conseguir explicar que a filha dele acabara de nascer”, contou.

Após o nascimento, as visitas foram proibidas. “Parecia uma cidade fantasma o hospital, pois só entrava quem tinha algum tipo de agendamento. E essa dificuldade continuou também nas consultas pediátricas, comuns nos primeiros dias. Sempre o pai ou a mãe poderiam entrar com a criança no consultório, sempre com agendamento para não ter contato com nenhum paciente.”

 

A família aumentou

Após a experiência de dar à luz em uma situação de muito controle social, a família toda voltou para casa e a rotina de mãe de duas filhas começou. “Minha mãe continua aqui para nos ajudar e nos mantemos em casa o dia todo. Para a minha filha mais velha foi difícil entender que o meu marido estava em casa, mas que teria que trabalhar. Por causa disso, adotamos a estratégia de ele acordar bem cedo e ir para um escritório que montamos no porão, assim ela pensa que ele saiu e ele consegue trabalhar com tranquilidade”, disse.

As creches e escolas de York estão fechadas, mas a rede de creches na qual Sophie está matriculada continua a atender após os pais conseguirem uma liminar, já que boa parte dos clientes são pessoas que estão na linha de frente de combate à Covid-19. Mesmo assim, por causa  da licença maternidade, Lívia decidiu manter a filha em casa.

As irmãs Sophie e Lauren. Foto: Arquivo Pessoal

“Aqui a licença maternidade dura 12 semanas e não é remunerada. Comecei ela no dia que a minha filha nasceu e tenho mais algumas semanas pela frente, então conseguimos cuidar das crianças nesse período”.

Ao acabar a licença, a apreensão volta, já que o trabalho da brasileira exige contato direto com outros funcionários. “A minha empresa definiu que haveria corte de salário, então quando eu retornar já sei que meu salário será menor. Não saberemos por quanto tempo isso vai durar, já que a quarentena é dividida em estágios vermelho, amarelo e verde. Estamos no vermelho, que é o mais crítico, mas a expectativa é de que em maio a gente passe para o estágio amarelo”, contou.

Outra incerteza é sobre o retorno da mãe para o Brasil, que estava programado para ocorrer em julho, mas com a indisponibilidade de voos, tudo ainda é uma incógnita.

Apesar da apreensão e da incerteza do que deve ocorrer nos próximos meses, a família Chagas está muito feliz com a chegada do novo membro e tem certeza de que terá muitas histórias para contar quando a pequena Lauren começar a compreender melhor o mundo.

As família Chagas agora toda reunida, fazendo a quarentena na pequena cidade de York. Foto: Arquivo Pessoal