O dia 1ª de setembro de 1965 foi uma data marcante para a vida de José Luiz Niemeyer dos Santos. No auge dos seus 27 anos, ele acompanhou o nascimento do primeiro animal da Fazenda Terra Boa, o RGN 001 da seleção nelore, o que deu origem ao protagonismo da propriedade criada pelo pai do pecuarista, José Travassos dos Santos, em 1948.
Conversamos com Niemeyer nesta semana e ele contou como, em 50 anos, viu a transformação da pecuária nacional de dentro da propriedade, localizada em Guararapes, no interior de São Paulo. “Em 1965 eu já estava na direção da fazenda e comecei a criar nelore PO. Foi então que comecei a minha história como selecionador da raça nelore, trabalho que faço até hoje”, contou o produtor, aos 81 anos e ainda cuidando dos animais da propriedade.
Nos últimos 50 anos, a Fazenda Terra Boa se renovou de diversas formas, começando pela implementação da técnica de inseminação artificial no ano de 1972. “No início, havia pouca tecnologia. O processo era simples, onde a gente pegava o touro, colocava na vacada e tinha o bezerro. Depois veio a inseminação artificial, que acelerou muito o selecionamento. Atualmente, é mais fácil fazer esse rebanho crescer dentro de uma determinada genética”, comentou.
Em 1984, o touro Osíris Terra Boa ganhou o título de Grande Campeão nas mais importantes feiras agropecuárias do Brasil, a Expozebu e a Expoinel, mostrando ao produtor que a fazenda estava no caminho certo.
O olho do criador é fundamental
Segundo Niemeyer, um dos segredos para ter se tornado uma referência na criação de nelores e, mais recentemente, brangus, é ter um bom olho para escolher o animal. Para muitos, essa característica pode estar ameaçada com o avanço tecnológico e da genética, mas na opinião do experiente pecuarista, uma boa percepção ainda é fundamental.
“A genética antigamente era questão de olho. A exposição era muito importante, eu participei muito da exposição, onde o animal é avaliado também visualmente. Atualmente, os animais que vão para leilão ainda passam pelo meu crivo e acredito que conhecer as características de um boi exemplar é essencial. Eu não gosto de vender coisa ruim, pois para ter sucesso na pecuária é preciso paixão. Sem paixão, não adianta nada”, contou José Luiz Niemeyer.
A Terra Boa utiliza diversas ferramentas para garantir a qualidade do gado, como programa de avaliação, avaliação molecular e ultrassom de carcaça, onde é possível definir a cobertura de gordura, marmoreio e o rendimento de carcaça, mas não dispensa o talento e o olho do dono. “É possível ganhar dinheiro de várias maneiras, mas acredito que com paixão é melhor”, completou.
Tecnologia
Quando começou a criação de nelore nos anos 1960, o pecuarista não poderia imaginar o desenvolvimento pelo qual a raça iria passar. Segundo ele, a raça de 2019 é muito melhor do que os nelores das outras décadas .”Hoje, precisamos aumentar a produção por área, pois há 30 anos a terra era um insumo barato e hoje é muito caro. Temos que lembrar também que a pecuária disputa espaço com a agricultura, que é muito rentável”, disse.
Pensando nisso, desde o início da década de 1990 a fazenda participa do Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore (PMGRN) e, em 2004, a fazenda passou a investir na criação de gado da raça brangus.
“Nesta época eu alugava uma fazenda em Dourados (MS) e lá tínhamos 60 vacas brangus que trouxemos para Terra Boa para criar esse núcleo. Foi uma raça que se adaptou muito bem e nos deixou muito satisfeito.”
Segundo ele, a criação de animais menos rústicos como o brangus só foi possível por causa dos avanços tecnológicos. “Quando eu comecei, isso seria inviável. Não existia um vermífugo ou carrapaticida eficiente e é por isso que o zebu abriu essa exploração da pecuária no Brasil central.”
Fazenda premiada
A Fazenda Terra Boa se destacou como a campeã das campeãs do Prêmio Fazenda Sustentável. Desde 1948, a propriedade desenvolve a atividade com base nos pilares da sustentabilidade, sendo que 1958 ganhou o troféu “Fazenda Conservacionista do Estado de São Paulo”, outorgado pela Secretaria Estadual de Agricultura pela aplicação de boas práticas agropecuárias conhecidas na época.
Em 2004, foi a primeira fazenda brasileira a obter a certificação ISO 14001. Três anos depois, a Global Gap de Práticas Agropecuárias. No final de 2012, passou a atender às exigências de Boas Práticas Agropecuárias da Embrapa, que visa o bem-estar animal, além da conservação dos recursos naturais.
“Temos um trabalho ambiental muito importante, que vem desde a época do meu pai. Ele se preocupava com essa conscientização, trabalhando com as nascentes e não deixava reutilizar recipientes de agroquímicos, isso em uma época que nem se pensava nesse tipo de coisa”, contou.
Segundo José Luiz Niemeyer, com a morte de seu pai, ele chamou uma consultoria para fazer uma espécie de homenagem ao criador da fazenda. “A minha ideia foi colocar em prática o pensamento do meu pai, e fizemos diversas correções, isolamos os insumos como fertilizantes e utilizamos a tecnologia para evitar a contaminação do solo. Dizem que fazer isso custa dinheiro, mas o que sai caro mesmo é destruir o nosso patrimônio.”
Atualmente, a propriedade tem uma parceria com a SOS Mata-Atlântica para a doação de mudas. No viveiro da fazenda existem árvores frutíferas da fauna brasileira, mas que não fazem parte do sistema de integração, que contempla apenas a pecuária e a lavoura.
“Faço integração lavoura-pecuária e me arrependo de não ter começado antes, pois é um sistema fantástico. Eu tenho uma safra de soja no verão e rotaciono com a pecuária, colocando o capim no período do ano que mais precisa, que é o inverno. Esse processo melhora a produtividade, a terra e o gado fica muito melhor”, disse.
Leilão
Quem quiser ter um animal selecionado pelo próprio José Luiz Niemeyer terá a oportunidade no próximo domingo, dia 7, com transmissão do Canal Rural. Serão disponibilizados 90 touros e 30 fêmeas nelore e 50 touros e 10 fêmeas da raça brangus.
“Todas as fêmeas prenhes, com avaliação, ultrassom de carcaça. E a grande novidade serão os brangus avaliados geneticamente para serem homozigoto preto, uma característica muito apreciada na exportação de gado vivo”, comentou.
Saiba mais sobre o leilão no site do Lance Rural.