O poder de compra dos pecuaristas alcançou o maior nível em seis anos, desde fevereiro de 2013. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) indicam que os preços da arroba e do animal de reposição subiram neste ano, mas as valorizações do boi gordo foram bem mais intensas. De janeiro até a parcial de dezembro, o boi no mercado paulista registra valorização de 36%, enquanto o valor do bezerro acumula alta de 20,2%.
Atualmente, produtores de São Paulo precisam de 7,34 arrobas para a compra de um bezerro em Mato Grosso do Sul. Em igual período do ano passado, recriadores necessitavam de 8,31 arrobas para fazer a mesma operação, ou seja, aumento de 11,74% no poder de compra na variação. Para essas comparações, foram utilizados valores médios mensais, em termos reais deflacionados pelo IGP-DI, considerados os indicadores do Boi Esalq/B3 para mercado paulista e o índice Esalq/BM&FBovespa do bezerro, em Mato Grosso do Sul.
“Ressalta-se que a recuperação no poder de compra observada nas últimas semanas ocorre depois de uma deterioração ao longo de 2019, quando os preços do bezerro eram negociados em altos patamares, ao passo que a arroba estava estável”, destaca o levantamento do Cepea.
Em 2019, o momento mais desfavorável ao produtor foi observado em junho, quando eram necessárias 8,58 arrobas no mercado paulista para a aquisição de um bezerro em Mato Grosso do Sul. De janeiro até a parcial de dezembro, a média da relação de troca é de 8,13 arrobas por bezerro, contra 8,17 em 2018, o que indica que este ano foi um pouco mais favorável ao recriador em relação ao anterior.
O assessor técnico de Bovinocultura de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ricardo Nissen, lembra que a valorização do bezerro não está diretamente atrelada ao atual nível elevado de exportações de carne bovina, pois também reflete a baixa oferta de animais desta categoria causada pelo abate de matrizes nos últimos anos. “Apesar do preço do bezerro estar elevado, o preço pago pela arroba do boi gordo compensa o investimento em reposição”, avalia.
“A reposição está mais cara e a nutrição também. A arroba não voltará aos patamares anteriores de preço, perto de R$ 180 por arroba, mas o ideal é que sejam utilizadas estratégias de mitigação de risco, como contratos futuros, hedge, etc”, explica Nissen.
O especialista da CNA ainda acredita que, no ano que vem, os pecuaristas tendem a reter matrizes e trabalhar com cria de qualidade, tecnificada, que traga maior volume de produção por hectare.
Milho
No que se refere à relação de troca com o milho, principal insumo utilizado para a alimentação do gado, Nissen afirma que também houve melhora para o pecuarista. “Na média dos últimos três anos, com uma arroba bovina era possível comprar quatro sacas de milho. Após a mudança no patamar de preço da arroba, acima de R$ 195, é possível comprar cinco sacas. O produtor consegue ser mais eficiente e, com isso, melhorar suas margens”, pontua.