Reduzir a emissão de carbono é um dos desafios da pecuária brasileira. Nesta quarta-feira, 30, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) dá mais um passo importante neste assunto, com o abate do primeiro lote de bovinos criados para a produção de carne com baixa emissão de carbono.
O Projeto Trijunção, parceria entre a entidade e a fazenda Trijunção, de Cocos (BA), começou no fim de 2017, sendo coordenado pela pesquisadora Flávia Santos, da Embrapa Milho e Sorgo. Os cientistas trabalham para desenvolver práticas sustentáveis que permitam a intensificação da produção em solos arenosos, como é o caso de grande parte da área do projeto. Esses territórios são considerados a última fronteira agrícola do Brasil, mas muito vulneráveis à degradação.
No caso do gado de corte, está sendo validado o protocolo Carne Baixo Carbono (CBC), que valoriza sistemas pecuários sustentáveis, capazes de mitigar o metano emitido pelo rebanho durante seu ciclo produtivo, por meio da incorporação de carbono no solo.
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Pesquisadores usaram práticas adequadas de manejo do pastejo e fertilização, em uma área de 85 hectares de pastagem recuperada, para recria e terminação de machos da raça nelore. Permaneceram durante cerca de um ano nessa área 119 animais para monitoramento. Outros animais da fazenda entravam e saíam mediante a necessidade de ajuste de carga em função do crescimento do pasto.
Segundo a Embrapa, animais com idade média de 10 meses foram monitorados por cerca de um ano e obtiveram, em sistema de pastejo rotacionado, mais de 50% do seu peso vivo em pasto neste sistema. Todos os preceitos de um bom manejo de pastagens foram utilizados, ou seja, realização de monitoramento de altura, ajuste de carga, adubação adequada à demanda das plantas forrageiras e ao nível de intensificação do sistema, bem como adoção do protocolo de Boas Práticas Agropecuárias.
Em média, os animais do protocolo CBC ganharam 154 kg em pasto e foram para o confinamento com 23 kg a mais do que os 72 animais monitorados como testemunhas, em outra área sob manejo tradicional da fazenda, permitindo que animais CBC chegassem mais rapidamente ao peso de abate no confinamento, segundo a pesquisadora Márcia Silveira, da Embrapa Pecuária Sul.
Mediante manejo do pastejo por altura, na área do experimento, a cobertura vegetal do solo foi mantida acima de 80%. Essa cobertura contribui com palhada para a matéria-orgânica do solo e a retenção de carbono no sistema. Resultados iniciais já mostram um estoque de 29,2 toneladas de carbono até a profundidade de 40 cm do solo, valor superior ao encontrado no Cerrado nativo e em pastagem sob manejo extensivo, que é fruto do manejo de recuperação da pastagem e que será monitorado ao longo dos anos.
Allan Figueiredo, gerente administrativo da fazenda Trijunção, está otimista com os resultados alcançados até o momento. Na área do experimento, por exemplo, Allan diz que houve um aumento de quatro vezes na taxa de lotação de animais no pasto e uma reserva maior de biomassa para a estação seca. Para ele, com esse sistema, seria possível aumentar a produção de carne de forma mais limpa e sustentável, sem a necessidade de abertura de novas áreas, e ainda mitigando em 30% os gases de efeito estufa emitidos pelos animais.
Como no Brasil a produção de carne é fortemente embasada em pastagens extensivas, a pesquisadora Márcia Silveira acredita que o Projeto Trijunção, por meio da condução dessa que é a Primeira Unidade de Referência Tecnológica em Carne Baixo Carbono da Embrapa, pode ser uma oportunidade para demonstrar a importância da recuperação e otimização das áreas de pastagens para produção animal de forma sustentável.
De acordo com o gerente Allan Figueiredo, os avanços com a certificação e bonificação serviriam também como incentivo para os pecuaristas adotarem o sistema. Ele conclui que o Brasil, “tendo a maioria de seu rebanho criado em pastagens, pode ser líder mundial da produção de CBC, elevando a produtividade por área, aumentando lucratividade e mitigando impacto ao meio ambiente, assunto tão pertinente em dias atuais. É o primeiro passo no caminho da eficiência produtiva que coloca na conta a qualidade do ambiente, que fica de legado para as próximas gerações. Esse é o único destino possível da pecuária”.