Diante da dificuldade para avaliar o bem-estar dos bovinos criados a pasto, sem interferência ou método invasivo, a Embrapa Gado de Corte (MS) criou um equipamento que promete resolver o problema. O dispositivo mede alguns parâmetros fisiológicos associados a dados ambientais, gerando informações que avaliam as condições de conforto térmico dos animais. Projetado inicialmente para uso em bovinos de corte, o aparelho pode também ser usado em outros animais, de leite e até equinos.
O protótipo nomeado Bovine Eletronic Plataform (BEP), foi criado por alunos de mestrado profissional de Pecuária de Precisão da Faculdade de Computação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Facom/UFMS), sob coorientação da Embrapa. Após o fim dos trabalhos, o aparelho foi transferido a uma startup formada pelos próprios envolvidos na parte acadêmica, para ser melhorado e colocado no mercado.
Uma das principais diferenças em relação a produtos semelhantes já lançados no mercado é que a BEP, não precisa ser inserida cirurgicamente no corpo do animal, já que é formado por um cabresto, onde já está acoplado o módulo controlador e no qual também estão instalados sensores para o monitoramento simultâneo da frequência respiratória, cardíaca e temperatura superficial da pele. Sensores também captam a temperatura ambiente, umidade relativa do ar e radiação solar.
Segundo Ricardo de Aguiar, engenheiro da computação e diretor administrativo da Indext Soluções Tecnológicas, startup parceira no desenvolvimento da ferramenta, os dados continuamente captados pelos sensores são enviados para um smartphone ou tablet, nos quais são processados e geram as informações conforme o interesse do usuário (média do dia, média horária, leitura pontual).
“Por meio do website da plataforma, o pecuarista pode monitorar o rebanho a distância, com informações reais sobre o estado de saúde dos animais, possibilitando assim a tomada de decisões antecipadas e com assertividade”, diz Aguiar.
Disponibilização ao mercado
A Embrapa, em parceria com a Indext e a UFMS, está em busca de empresas capazes de colocar o aparelho no mercado. “O mercado consumidor é grande. As opções, tanto de modelos de negócio como de aplicação do equipamento, são inúmeras: controle de rebanhos de elite, apoio a certificações de produtos de origem animal, controle sanitário, entre outras”, ressalta a pesquisadora da Embrapa e líder do projeto, Fabiana Villa Alves.
Os modelos de negócio associados ao dispositivo estão em aberto. Assim, consultorias e empresas prestadoras de serviços podem disponibilizá-lo em propriedades criadoras por meio de comodato, enquanto outras podem preferir vendê-lo como um “produto de prateleira”. A ideia é possibilitar que diversas empresas, que não concorram diretamente entre si no mesmo nicho de mercado e região geográfica, possam atuar com a tecnologia, trazendo maior impacto à sociedade brasileira.
Aplicável em nelores
De acordo com a pesquisadora Fabiana, bovinos da raça nelore são especialmente de difícil contenção e o equipamento, que não exige idas constantes ao curral ou períodos prolongados no tronco para sua fixação, facilita a adoção desses animais, que são maioria no rebanho brasileiro.
“Esse é o grande diferencial desse equipamento em relação aos existentes no mercado, cuja configuração é de fácil uso em animais mansos e/ou estabulados, mas de difícil aplicação em animais criados extensivamente e, além do mais, nelores”, afirma.
De acordo com o professor da UFMS Ricardo Ribeiro dos Santos, além do projeto dos sensores e sua integração à plataforma eletrônica, a equipe desenvolveu também um aplicativo móvel, com a finalidade de controlar os sensores e promover a comunicação dos dados com a plataforma eletrônica afixada no animal.
A patente para a BEP já foi solicitada ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI). A iniciativa de criação da plataforma ficou em primeiro lugar no Prêmio Novos Talentos para o Alimento Sustentável, em 2016, na categoria Pecuária de Baixo Carbono, promovido pelo Fórum do Futuro.