A produção de leite no Brasil pode ser mais eficiente desde que seja maior a integração entre produtores e indústria processadora, e a ampliação de investimentos em tecnologia direcionada ao rebanho são fundamentais para o setor alcançar seu potencial de produtividade. O desempenho do setor de leite cresceu 59% entre 2011 e 2020, puxado pelos estados do Sul, que possuem os maiores níveis médios do país (3.634 litros por cabeça ao ano), mas ainda não reflete o potencial do mercado nacional. A constatação está no estudo Agronegócio do Leite: produção, transformação e oportunidades, elaborado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
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Segundo o estudo, os 2.192 mil litros de leite/cabeça registrados em 2020 também estão aquém dos resultados obtidos por importantes atores globais, como Estados Unidos (10,8 mil litros por cabeça), União Europeia (7,2 mil litros por cabeça) e Nova Zelândia (4,5 mil litros por cabeça), em grande parte devido à heterogeneidade da produção brasileira. As regiões Norte e Nordeste e mesmo estados fora desse eixo, como São Paulo, apresentam produtividades baixas, de 854 litros, 1.461 litros e 1.630 litros por cabeça ao ano, respectivamente.
“Se o Brasil aprimorar seu sistema de produção, poderemos atingir os níveis dos grandes players e traduzir esse crescimento em investimentos nas áreas de nutrição, saúde e mecanização da produção pecuária de leite”, alerta Roberto Betancourt, diretor titular do Departamento de Agronegócio da Fiesp. “O agronegócio, por definição, representa uma cadeia de valor longa, com uma capilaridade relevante em todas as regiões do país e forte componente econômico-social, e investimentos nessa cadeia podem gerar benefícios importantes em termos de agregação de valor e desenvolvimento regional”, acrescenta.
Outro elo da cadeia do leite que proporciona desafios e oportunidades para a categoria é o consumo doméstico. O consumo per capita de produtos lácteos no Brasil cresceu somente 3% entre 2011 e 2020 (saindo de 168 litros por habitante/ano para 172 litros por habitante/ano), ficando abaixo da taxa de crescimento da população brasileira, que foi de 8% no período.
O consumo per capita de lácteos no Brasil também está abaixo do volume absorvido por Estados Unidos (327 litros/ano), Europa (233 litros/ano) e Argentina (265 litros/ano), com destaque especial para o nosso vizinho sul-americano.
“Nosso consumo médio de lácteos tem potencial de aumentar mais de 50%, e se equiparar ao da Argentina, país com o qual compartilhamos aspectos econômico-sociais semelhantes”, conta Carlos Humberto, presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Derivados do Estado de São Paulo (Sindileite).
Ainda de acordo com a Fiesep, o mercado internacional de leite vem se mostrando particularmente interessante para o Brasil. Embora seja extremamente competitivo e consiga praticar preços menores do que a capacidade de custo da produção brasileira suporta, acordos recentes firmados entre o Ministério da Agricultura do Brasil e o governo chinês geram uma perspectiva positiva para os produtos brasileiros a mais longo prazo.
“A China é uma das principais economias do mundo e uma grande importadora de alimentos”, diz Betancourt. “Acreditamos que os chineses intensificarão a transformação da produção animal em seu país e importarão parte relevante de sua necessidade de proteína animal de países com elevado nível de qualidade sanitária, como é o caso do Brasil”, analisa.
Em 2020, o Brasil teve participação de 0,1% nos US$ 81 bilhões gerados pelo comércio global de produtos lácteos. Segundo dados do ComexStat, vinculado ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, a balança comercial do setor teve um déficit de US$ 377,7 milhões em 2021.
“O mercado internacional pode ser uma oportunidade para destravar ainda mais o desenvolvimento da cadeia produtiva de lácteos brasileiro”, aponta o diretor da Fiesp. “Acreditamos que há espaço para se trabalhar a imagem do leite nacional e ampliar as negociações sanitárias com outras economias para a abertura de novos mercados”, conclui.