O alerta está ligado para os suinocultores do Paraná. Com os custos de produção em alta, estagnação dos preços recebidos pelos produtores e oferta excessiva, a suinocultura paranaense tem apostado em ajustes no rebanho como forma de passar pelo momento de crise. Entre as práticas adotadas nas granjas estão o descarte de matrizes com base em indicadores de produtividade e na redução do peso dos animais encaminhados para abate. Desta forma, além de reduzir a oferta de carne disponível no mercado, produtores e indústrias conseguem diminuir os gastos com alguns custos, principalmente alimentação.
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O contexto de crise da suinocultores passa por um cenário em que os principais insumos da alimentação dos animais, a saca de milho e a tonelada do farelo de soja, vem sendo negociados, em média, a R$ 100 e R$ 3 mil, respectivamente. Além disso, há perspectivas de que a China reduza suas importações, em razão da recomposição de seu rebanho doméstico. No mercado interno, a expectativa é de que a demanda continue estável. Ou seja, a tendência é de que o país tenha um excesso de oferta. Tudo isso explica a estratégia do setor de ajustar o rebanho.
“Temos que procurar uma solução conjunta agora. Se esperarmos o Plano Safra, ninguém mais vai ter crédito para tocar a produção adiante. Temos que buscar soluções imediatas”, ressaltou, durante reunião com o setor produtivo, a presidente da Comissão Técnica de Suinocultura da Federação de Agricultura do Paraná (Faep), Debora Geus.
Um dos convidados da reunião, o diretor-executivo da Frimesa, Elias Zydek, disse que a empresa já reduziu o peso médio dos suínos abatidos. Em dezembro do ano passado, por exemplo, os animais iam para o abate com 131 quilos. Em janeiro, o peso médio caiu para 123 quilos. Com esses ajustes, a projeção da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) é de que, ao longo de 2022, ocorra a redução de 300 mil toneladas colocadas no mercado nacional.
“A redução de peso de abate ‘retira’ volume de carne do mercado. Mas é claro que há um limite. Se baixar de 120 quilos, começamos a ter problemas de padrão de cortes e aumentamos o custo fixo da produção”, apontou Zydek. “Esse é um remédio amargo, mas nesse primeiro momento tem mais vantagens do que desvantagens. Teremos um efeito positivo na pressão da oferta”, acrescentou.
Segundo Júlio Alberto Campos, gerente administrativo financeiro do Grupo Leh´s, a empresa tem adotado uma série de estratégias, com base na análise continuada de dados zootécnicos do rebanho. Além da redução do preço médio do suíno encaminhado para abate, ele mencionou o descarte de fêmeas que não são consideradas tão produtivas. Com isso, o suinocultor tem obtido a melhora da performance das granjas.
Outro ponto é que o suinocultor tem apostado na produção da própria ração, maximizando a conversão alimentar dos animais e reduzindo custos. Ainda assim, Campos dá como certo que o ano será de prejuízo para os produtores independentes. Sem fazer ajustes produtivos da porteira para dentro, no entanto, o risco é ainda maior.
“Quando se olham os dados zootécnicos, se percebem as oportunidades, pensando em manejo produtivo mais eficiente. A gente tem melhorado o peso para desmame, focando na qualidade do leitão desmamado. Isso se reflete em conversão e melhora a margem. O segredo é o produtor achar um ponto de equilíbrio entre o que precisa investir e onde é preciso tirar o pé”, disse Campos. “Mas a suinocultura é uma atividade de ciclo longo. Se o produtor reduzir o plantel, pode perder a oportunidade de participar de um bom momento do setor lá na frente”, ponderou.
Outros produtores que participaram da reunião da CT da Faep também relataram estratégias semelhantes. De acordo com suinocultor Eduardo Dystra, de Carambeí, nos Campos Gerais, muitos suinocultores independentes da região já têm reduzido o peso dos animais terminados. Uma das integradoras da região também cogita fazer esse ajuste. “Está havendo dificuldade da integradora de alojar carnes processadas. A oferta está além”, disse.
O produtor José Carlos Colombari, de São Miguel do Iguaçu, Oeste do Paraná, também reforça o discurso de ajustes de plantel. Ele, por exemplo, trabalhava com a meta de entregar os suínos ao abate com 135 quilos. Agora, os animais estão sendo enviados com 120 quilos. “Estou há 23 anos na atividade, passei por várias crises, mas nunca vi nada como esta, em que os produtores têm um prejuízo de R$ 250 por animal”, lamentou.
Outro ponto mencionado na reunião é que, apesar da crise para os produtores e para as agroindústrias, o comércio varejista tem mantido margens largas de lucro. Suinocultores e industriais defenderam a deflagração de uma campanha publicitária focada em dois pontos: no estímulo ao consumo de carne suína; e na elucidação da composição do preço dos produtos pagos pelo consumidor, explicitando quanto fica com os mercados.