O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, neste sábado (24), que ainda acredita em um comum acordo com a União Europeia na parceria com o Mercosul.
Ele disse que a resposta dos países do Sul sobre a carta adicional dos países europeus deve ser respondida até o final deste ano.
Para o brasileiro, o protecionismo tem dificultado a aprovação do acordo. Lula cumpriu agenda na Itália e na França nesta semana e falou com a imprensa em Paris neste sábado, antes de embarcar de volta para o Brasil.
“O fato de ter dois pontos nervosos e dois pontos considerados essenciais para os dois lados, a gente não pode fazer acordo com esses, mas vamos melhorar outras coisas. Precisamos fazer o acordo com a União Europeia e a União Europeia precisa do Mercosul, com a América do Sul e com a América Latina. Ficamos de responder a carta adicional da União Europeia e penso que até o final do ano a gente tem uma decisão sobre o assunto”, declarou à imprensa.
Lula disse ainda que o presidente da França, Emmanuel Macron, tem dificuldades no Congresso francês, e que é normal o país defender a sua agricultura.
“Ele [Macron] tem dificuldades no Congresso, mas se a gente puder conversar com nossos amigos mais à esquerda para poder ajudar, para que seja aprovado o acordo no Mercosul, nós vamos conversar com todos os amigos da França para convencer da importância, porque não é o protecionismo que vai ajudar”. Macron sofre pressão do Parlamento francês que é contra o tratado por razões de protecionismo, principalmente agrícola.
Lula criticou o protecionismo dos países ricos. “Dos anos 80 para cá, tudo o que as pessoas falavam é de que quanto mais abertura melhor, quanto mais livre comércio melhor, mas quando chega às vezes dos países em desenvolvimento de competir em igualdade de condições, os mais ricos viram protecionistas”.
Na capital francesa, Lula teve reunião bilateral com o presidente francês e tratou da aprovação, na semana passada, pela Assembleia Nacional da França, de uma resolução contra a ratificação do acordo Mercosul-União Europeia (UE). Lula é contra a flexibilização das regras sobre compras governamentais previstas no acordo.
Segundo o presidente, o assunto é importante também para o encontro da Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe (Celac).
“O assunto é importante para União Europeia e Mercosul, mas também para estabelecermos uma nova rodada de conversação para ver se a gente aproxima de acordo também na Celac”. A UE e a Celac farão uma cúpula em Bruxelas, capital da Bélgica, entre os dias 17 e 18 de julho.
Agricultores franceses são contra acordo Mercosul-UE
Um dia do encontro entre Lula e o presidente da França, sindicatos e organizações agrícolas enviaram uma carta solicitando que Macron se oponha firmemente à ratificação do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul.
Na avaliação dos agricultores franceses, da forma como está, o acordeo permitiria a importação de milhares de toneladas de açúcar, etanol, carne bovina, aves e milho de sistemas agrícolas “que não atendem aos padrões exigidos dos agricultores europeus”.
As informações são do jornal francês Le Figaro.
Em fevereiro, Emmanuel Macron já havia descartado apoiar o acordo nas condições atuais, a menos que os países do Mercosul respeitem os acordos de Paris sobre o clima.
Algumas organizações agrícolas da França pressionaram o presidente Macron a rejeitar definitivamente o acordo, sob qualquer circunstância.
Segundo eles, seria incoerente colocar a soberania alimentar no centro das políticas europeias enquanto enfraquece a produção nacional com o aumento contínuo das importações de produtos agrícolas e alimentícios a taxas reduzidas ou zero.
O acordo entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a UE foi alcançado em 2019, após mais de 20 anos de negociações. Mas ainda não foi ratificado.