A queda contínua dos contratos futuros de café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) levou os preços da commodity para níveis abaixo do custo de produção no Brasil, o maior produtor mundial. O vencimento maio fechou em 93,20 cents por libra-peso nesta sexta-feira e acumula perda de quase 14% nos últimos dois meses, com a perspectiva de ampla oferta mundial. Os preços vêm recuando gradualmente desde 2014, quando uma alta acentuada motivada pelo clima seco no Brasil levou o arábica para perto de 300 cents/lb.
Segundo a Organização Internacional do Café (OIC), o custo de produção é de 95 cents/lb no Brasil. A última vez que os preços ficaram abaixo desse nível foi em setembro de 2005, quando atingiram 86 cents/lb.
O problema é acentuado pelo desempenho do dólar, que acumula valorização de quase 16% ante o real no último ano. Isso tende a estimular as exportações brasileiras, o que pode resultar em maior oferta no mercado internacional e preços mais baixos.
Para outros produtores latino-americanos, a situação é ainda mais complicada. Muitos desses países fazem parte de acordos de comércio justo, que estabelecem preço mínimo de 140 cents/lb. “Quase todos os produtores estão sofrendo com os níveis atuais”, disse o diretor executivo da Federação Colombiana de Produtores de Café, ou FNC.
Sob esses acordos de comércio justo, compradores pagam preços mais altos por produtos para ajudar a melhorar as condições sociais e ambientais em países em desenvolvimento. No entanto, se há excesso de oferta do produto em questão, como no caso do café, manter os preços elevados fica cada vez mais difícil. Além disso, a previsão é de um El Niño fraco este ano, o que não deve afetar a produção global.
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