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Programa aposta na orientação de professores para melhorar a imagem do agro

O programa educacional Agronegócio na Escola convida professores de escolas públicas e privadas a conhecerem perto a realidade do setor

Em novembro do ano passado, uma reportagem do Canal Rural mostrou a indignação de pais que denunciaram a forma como livros escolares deturparam a imagem do agronegócio. Para apresentar às crianças uma nova perspectiva sobre o setor agrícola, algumas iniciativas buscam ensinar na teoria e na prática a realidade do agronegócio brasileiro.

A Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeiro Preto (Abag-RP) desenvolveu o programa educacional Agronegócio na Escola. A iniciativa, que existe desde 2001, oferece capacitação aos professores de escolas públicas e privadas. Além de palestras e treinamentos, os educadores são convidados a visitarem agroindústrias e centros de pesquisas para conhecerem de perto os procedimentos da cadeia produtiva. A Abag também oferece um material de apoio, e fica a critério do professor passar o conteúdo para os alunos em sala de aula.

De acordo com Mônika Bergamaschi, presidente do conselho diretor da Abag-RP e ex-secretária de Agricultura do estado de São Paulo, alguns livros didáticos há anos trazem informações distorcidas sobre o setor produtivo no Brasil.

“Essas denúncias de pais abriram os olhos para algo que já vem sendo reclamado há muito tempo. Acredito que com a pandemia, eles puderam acompanhar mais de perto a educação dos filhos e passaram a enxergar o equívoco nas informações. Isso é preocupante, pois as crianças têm no professor uma imagem de muito respeito, e quando aprendem algo que não é certo, isso pode levar um tempo para ser desconstruído”, diz.

Professores visitam agroindústrias e recebem orientações sobre a produção agrícola dentro do programa Foto: Abag-RP

Segundo a dirigente da entidade, o trabalho para editar os conteúdos distorcidos nos livros escolares leva um tempo para ser feito, por isso deve começar o quanto antes. “Cabe ao setor produtivo apontar onde estão os erros nessas publicações. A academia tem um papel importante nesse contexto. Temos instituições que fornecem dados confiáveis sobre o setor e pessoas capacitadas para efetuar a revisão nos livros”, ressalta.

Mônika reforça o papel de universidades e centros de pesquisa que atuam como parceiras no programa no treinamento dos professores. Instituições como a Universidade Federal de São Paulo e Embrapa de São Carlos ministram cursos para os docentes que participam do Agronegócio na Escola. Segundo a diretora da Abag, os cursos e as visitas a agroindústrias trazem uma nova percepção para os professores.

“O objetivo é expandir o conhecimento sobre a atividade agrícola. Esse universo não é formado somente por veterinários, zootecnistas ou engenheiros agrônomos. Dentro de uma usina de cana-de-açúcar, por exemplo, nós temos uma indústria que emprega 37 categorias de profissionais em nível superior”, exemplifica.

Muito além da terra

A professora Juliana Perissato participou do programa da Abag em 2020. Ela conta que a inciativa aumentou o seu conhecimento sobre alguns temas ligados ao agronegócio. Ela dá aula em uma escola rural na cidade de Araras (SP). Mesmo com muitos filhos de produtores rurais na sala, ela diz que muitas crianças não compreendem a dimensão do setor agrícola.

“A gente percebe que falta informação até para eles que estão inseridos no meio. Alguns alunos falam que não querem acabar na plantação igual aos pais. Mas, com o treinamento, a gente consegue passar para eles que o trabalho no campo vai muito além da terra. Eu procuro inserir a parte da tecnologia que é empregada no setor. Todo o trabalho de pesquisa que está embutido no desenvolvimento de uma planta, por exemplo. Acho legal eles perceberem que o trabalho no campo vai muito além de plantar ou colher”, comenta Juliana.

O programa educacional Agronegócio na Escola completou 20 anos em 2021. Desde a sua criação, mais de 3.400 professores e 255 mil alunos participaram do programa, que chegou a 651 escolas em 138 municípios do estado de São Paulo.

Conhecimento é levado para outros estados

O programa da Abag-RP serviu de inspiração para uma iniciativa promovida pela Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa). O “Programa Educacional Conhecendo o Agro” também promove o conhecimento do agronegócio nas escolas do oeste baiano. As atividades do programa da Abapa tiveram início em 2019 nos municípios de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães. No ano seguinte, o programa foi trabalhado em outros sete municípios.

“Apesar de estarmos inseridos dentro de uma grande região produtora, notamos um descompasso entre a realidade no campo, com a produção altamente tecnificada e sustentável, e o que era debatido sobre o agronegócio nas escolas pelos educadores e estudantes e repercutido na sociedade. Ainda temos um longo desafio aqui na região oeste de eliminar o desconhecimento sobre a produção agrícola e sua importância. Sem ela, não teríamos tamanho desenvolvimento socioeconômico”, diz Lidervan Morais diretor-executivo da Abapa.

Segundo o dirigente, o momento é ideal para fazer com que as informações disseminadas pelo programa Conhecendo o Agro cheguem às crianças e jovens. “Precisamos ter orgulho do que é produzido e reconhecido internacionalmente, e a nossa produção agrícola é uma delas. Acredito que a concepção sobre o agro tem mudado, e a educação é a forma mais consistente de termos pessoas que pensam, baseado na realidade, e não, em preconceitos, achismos ou informações falsas”, ressalta Morais.