Um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros e estrangeiros, publicado na revista científica Ecology, mostra que a regeneração natural de florestas na Amazônia acontece em um ritmo menos intenso do que se imaginava. Se essa tendência continuar, segundo os especialistas, levará cerca de 150 anos para as florestas se recuperarem totalmente.
O artigo foi publicado no dia 16 de dezembro e é resultado de um trabalho de pesquisa de longo prazo, que monitora florestas em regeneração – aquelas que crescem após o desmatamento, comumente chamadas de florestas secundárias – desde 1998, no município de Bragança, na região Nordeste do estado do Pará.
Um dos principais resultados revela que mesmo após 60 anos de recuperação, as áreas dessa região tiveram apenas 40% do carbono das florestas conservadas. Além disso, a pesquisa também mostra que as florestas secundárias absorveram menos carbono da atmosfera durante as secas severas.
- Governo fará raio-x da Amazônia para acabar com o desmatamento
- Setor de florestas plantadas alia produtividade a preservação
Segundo o biólogo Fernando Elias, da Universidade Federal do Pará, primeiro autor do estudo, a temperatura na região avaliada aumentou 0,1 ºC por década e o crescimento da vegetação foi reduzido durante os períodos de seca. “Com a previsão de mais secas no futuro, devemos ser mais cautelosos quanto ao sucesso das soluções para mitigar os impactos das mudanças climáticas. A capacidade de absorção do carbono atmosférico nessas florestas pode estar sendo superestimada”, alerta o biólogo.
Outro resultado apontado no artigo foi quanto aos níveis de biodiversidade nas florestas secundárias estudadas, que representaram apenas 56% daqueles encontrados em florestas conservadas. Ao longo de 20 anos de monitoramento também não houve incremento na diversidade de espécies nas áreas.
Restauração florestal em pauta
A bióloga Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, uma das autoras do trabalho, afirma que as florestas secundárias são consideradas uma ferramenta importante no combate às mudanças climáticas. “Além de reduzirem as mudanças climáticas, elas também fornecem habitat importante para espécies ameaçadas”, ressalta.
Muitas nações tem assumido metas ambiciosas de reflorestamento, incluindo o Brasil que se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares no Acordo de Paris. De forma geral, segundo a especailista, os resultados trazem evidências de que essas metas de restauração necessitam de atenção cuidadosa de onde e como reflorestar.
“Nosso estudo no nordeste paraense mostra que nessas áreas muito desmatadas e submetidas a muitos ciclos agrícolas, a recuperação das florestas necessita de mais intervenções para que tenha sucesso, dada a falta de fonte de sementes e de animais dispersores. Esse é um cenário bastante diferente quando comparamos com outros locais que possuem muita floresta em nossa rede de estudos no Pará”, explica Joice Ferreira.
Para a engenheira florestal Maria do Socorro Ferreira, pesquisadora aposentada da Embrapa Amazônia Oriental, também coautora do artigo, estudos de longa duração são importantes para acompanhar a regeneração de florestas ao longo do tempo. “O monitoramento que se iniciou em 1998, tinha como principal objetivo oferecer oportunidades para a conservação, manejo e renda aos agricultores por meio dessas florestas se recuperando naturalmente. Porém esses objetivos ainda necessitam de ações efetivas para se concretizarem”, afirma.
Jos Barlow, pesquisador da Universidade de Lancaster no Reino Unido, destaca que precisamos de mais estudos dessa natureza para entender a resiliência das florestas Amazônicas. “Estudos de longo prazo são importantes para entender como maximizar a resiliência delas e priorizar áreas para restauração que sejam mais eficazes para combater mudanças climáticas e conservar biodiversidade”, finaliza.