O governo quer estimular as agroindústrias e os criadores de suínos e aves a operarem no mercado futuro de grãos. O motivo é a atual crise no abastecimento de milho, que deixou as integradoras de aves e suínos com seus estoques no limite.
O secretário de Política Agrícola, Neri Geller, já iniciou os contatos com empresas e criadores para formatar uma ferramenta de comercialização, sem passar pela Bolsa, com um contrato de segurança. O governo ajudaria nessa negociação.
Poucas agroindústrias fizeram operações no mercado futuro, perdendo a oportunidade de comprar o grão pela metade do preço atual. Para o consultor da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) Jurandi Machado, as agroindústrias vão ter que sair da zona de conforto e operar no mercado com antecedência.
Segundo ele, será preciso estudar maneiras de financiar a produção para garantir o suprimento. Neste momento, acredita, uma saída para seria negociar com as tradings, que teriam nas mãos de 60% a 63% do milho da segunda safra.
A Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) quer que os produtores independentes também adotem essa estratégia. Para o diretor-executivo da entidade, Nilo Chaves de Sá, afirma que o integrado está, de certa forma, protegido pelas empresas, não sofrendo tanto com a variação do preço da saca de milho.
O produtor independente, diz Sá, precisa ter educação financeira e trabalhar com o mercado futuro, assim como as agroindústrias. “Cada crise vira uma lição, um novo aprendizado, e a gente acaba saindo mais forte lá na frente”, diz o dirigente.
O secretário de Política Agrícola, Neri Geller, já iniciou os contatos com agroindústrias e criadores para formatar uma ferramenta de comercialização, sem passar pela Bolsa, com um contrato de segurança. O governo ajudaria nessa negociação.
Para o assessor técnico da Comissão Nacional de Aves e Suínos, Victor Ayres, essa é uma maneira de conciliar o estoque público com o mercado privado. Segundo ele, a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) também vem elaborando uma proposta para os produtores trabalharem com o mercado de opções privadas.
“O que nada mais é que o governo dar incentivo ao produtor para contratar as operações junto aos bancos, com opções privadas”, afirma Ayres.
O economista Newton Marques acredita que os produtores mais tradicionais só vão adotar novas ferramentas de comercialização se tiverem segurança e transparência nos contratos. Em outros países, diz ele, os contratos futuros são corriqueiros para pequenos e médios produtores. No Brasil, entretanto, existe baixa adesão mesmo entre os mais informados. “É uma mudança cultural muito grande”, diz ele.