Entretanto, gerentes entrevistados pela reportagem do Rural Notícias afirmam que há muitas propostas sem previsão de data para liberação. O Ministério da Agricultura estaria segurando os repasses.
Esta resposta é ouvida por agricultores em várias cidades do país, toda a vez que entram nas agências do Banco do Brasil para buscar informações sobre seus pedidos de crédito rural.
Em Minas Gerais, a reportagem acompanhou, com uma câmera escondida, um produtor de café em busca de respostas sobre a liberação do financiamento do crédito de R$ 75 mil do Programa Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf). O pedido foi feito em dezembro e até agora o dinheiro não saiu. Segundo o gerente do banco, todos os processos estão sendo abertos e a agência está aguardando a liberação de recursos. A previsão é para depois de 15 de abril.
Em outra cidade do sudoeste mineiro, outro produtor também questiona a gerente sobre o financiamento agrícola. Mais uma vez a mesma resposta. Segundo a gerente, a orientação do banco é receber as propostas, porque a qualquer momento o governo vai liberar os recursos. Em Minas Gerais, 148 mil contratos do Pronaf já foram pagos na safra 2014/2015. Um número abaixo dos 208 mil do ciclo anterior.
Mas a falta de crédito não se restringe aos pequenos produtores mineiros. O Canal Rural recebeu relatos de agricultores de 11 estados, que enfrentam o mesmo problema. O Banco do Brasil informa que já foram disponibilizados quase R$ 12 bilhões, entre custeio e investimento, e a meta é desembolsar R$ 24 bilhões até junho. Diferente do que falam os gerentes, o banco afirma que não há problemas na liberação desses recursos.
Em Mato Grosso, os produtores também estão esperando o custeio para a safra de soja, que começa a ser plantada em setembro. Mas é nesse período que eles adquirem os insumos agrícolas, para a compra de sementes, agroquímicos e fertilizantes. O problema é que, até agora, esse custeio não foi definido pelo principal agente público de crédito do país.
O produtor Alexandre Ruchenbach já colheu a soja e quitou o empréstimo do último custeio. Nesta época, deveria estar com o dinheiro do financiamento da nova safra, mas até agora os R$ 360 mil solicitados não foram depositados. O problema é que a maior parte desses insumos é cotada em dólar. A encomenda já foi feita e ele não tem a garantia de que os preços em reais não subirão até 30 de abril.
– Se não sair até o fim do mês, vai dar de 15% a 20% a mais no custo – calcula o produtor.
A superintendência de Agronegócio do BB de Mato Grosso admite o atraso e justifica:
– Em relação aos anos anteriores, quando os recursos foram liberados no mês de fevereiro, é claro que está um pouco atrasado. Entretanto, o banco, que sempre foi parceiro do produtor rural, tem que cuidar dos seus ativos, até porque nós estamos aguardando as mudanças no Plano Safra e ainda não temos qual é a direção que seguirá o novo plano. De qualquer maneira, embora a liberação esteja atrasada, o banco não deixará os produtores rurais sem esse pré-custeio. Já agora no começo de abril, conforme uma reunião interna do banco, nosso vice-presidente antecipou que nós vamos efetivamente prestigiar os produtores rurais como sempre nós fizemos – divulga o superintendente do setor de Agronegócio do BB, Brasiliano Borges.
O consultor dos produtores da região de Nova Mutum (MT) Naildo da Silva Lopes conta que apresentou 50 projetos de pré-custeio em 2015, dos quais pelo menos 18 estão parados.
– Fizemos uma pesquisa de preços, esse produtor está com o pedido em reais que vence em abril, maio ou junho, dependendo do que ele comprou. Eu orientei a travar a soja futuro. Nós temos travamento de preços de R$ 53 até R$ 56 no futuro. O problema é que esses pedidos são em reais. Se não sair o pré-custeio, eles vão perder esses pedidos. O produtor precisa desse custeio para saber que, até o final, o custo de produção dele vai ser 25, no máximo 26 sacas para os insumos. Se isso não ocorrer, o custo de soja dele para o futuro será de 30 a 32 sacas de soja por hectare. E com isso, claro, o produtor está perdendo, o país está perdendo, todo mundo perde – aponta Lopes.