Apontada no passado como exemplo de agricultura voltada para o pequeno e médio produtor, chegou a abrigar mais de 200 funcionários. Eles movimentavam o departamento de sementes, mudas e matrizes, responsável por produzir sementes de milho com baixo custo para os agricultores. A fazenda é ligada à Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) do governo de São Paulo.
O diretor do Departamento de Mudas e Matrizes, Sylmar Denucci, conta que a estrutura foi montada no final dos anos 1950 para a produção de milho híbrido. Mas nas duas últimas décadas, parece que o tempo parou. As unidades de beneficiamento estão abandonadas. Máquinas e equipamentos, ainda em uso, mais parecem peças de museu. O trator disponível é 1973, a colheitadeira mais nova foi comprada em 1996 e, dos caminhões na ativa, o melhor já tem 26 anos de uso. No campo, os quatro pivôs adquiridos em 1988 estão estragados.
– Nós fazíamos aqui em Ataliba Leonel a manutenção das linhagens e dos híbridos simples pra compor o famoso HMD7974, que foi o milho híbrido mais plantado no Brasil nos anos 60 e 70. Com a saída da produção do milho híbrido no início dos anos 90 nós começamos a fazer a semente básica do milho variedade, que é a semente que vai dar origem à que o produtor planta – explica Denucci.
Dos 3,4 mil hectares da fazenda, dois mil chegaram a ser utilizados no passado. Hoje a produção está restrita a 500 hectares, muito abaixo da capacidade disponível.
– A gente produz a duras penas 40 mil sacas, mas teríamos condições de produzir até 120 mil sacas – aponta o diretor do Departamento.
Denucci explica que todo este material colhido na fazenda é mandado para outras unidades, como Paraguassú Paulista e Ibitinga, para serem processadas e preparadas para venda. Por falta de pessoal para processar as sementes ali mesmo na fazenda, acaba-se gastando mas com combustível.
Há 30 anos a Fazenda Ataliba Leonel tinha 240 funcionários e havia até mesmo moradia disponível para eles. Sem substitutos para o lugar dos funcionários aposentados ou deslocados para outras unidades, cerca de 20 casas estão abandonadas, engolidas pelo mato. Hoje são apenas 50, mais da metade com idade para se aposentar como o auxiliar Walter Aparecido Leme, que trabalha há 37 anos na unidade.
– Não tem como trabalhar. Se precisa de um maquinário, tem que correr atrás de peças, é tudo sucateado. Não tem como manter a fazenda como era antigamente. Só gasta dinheiro e não vem resultado – lamenta o funcionário.
O que se vê em Mandurí é um caso grave de desperdício de dinheiro público. A quantidade de veículos parece não ser o problema lá. Numa garagem contamos 16 carros, mas apenas cinco estão funcionando, os demais estão parados há anos, alguns ainda são da década de 80. Dos que funcionam, o mais novo é de 1989. No pátio ainda há caminhões, kombis e ônibus abandonados no meio do mato. Todos com a identificação da Cati.
A fazenda, que poderia ser uma unidade de ponta de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias adaptadas para a agricultura da região, ilustra um problema em todo o país: a extensão rural deixou de atender o agricultor em sua propriedade.
Apesar das 40 regionais da Cati espalhadas pelo estado de São Paulo, responsáveis por 594 Casas da Agricultura, falta muito para atender a demanda dos pequenos produtores. De acordo com a Associação Paulista de Extensão Rural (Apaer), em 2008 a Cati contava 821 técnicos com nível superior, entre veterinários, engenheiros agrônomos e zootecnistas. No ano passado o quadro era de 662 técnicos. A redução só não foi maior porque no mesmo período houve o ingresso de 306 novos técnicos. Mesmo assim, na conta geral, o número de funcionários caiu de 2.440 em 2008 para 1.693 em 2014, ou seja, 747 a menos.
Pelos números, é possível imaginar que a situação da Fazenda Ataliba Leonel não é exceção. Sylmar Denucci diz que não vê interesse do Estado na área de produção de sementes, daí o esvaziamento e a falta de investimentos.
– A gente não precisa dos 240 funcionários que tínhamos nos anos 80. Mas não podemos ficar com apenas 20 poucos para fazer todo trabalho de produção, eliminação de contaminantes, colheita, seleção, melhoramento. É impossível operar.
O que diz a Cati
O coordenador da Cati, José Carlos Rossetti, afirma que está faltando estratégia para Secretaria da Agricultura. Rossetti reconhece que o orçamento é baixo, que a estrutura está precária e que falta gente para trabalhar. Segundo ele, o órgão precisa passar por uma reestruturação, diminuir a área física e investir em projetos.
– Isto o governo tem que ver, porque daqui a pouco nós não vamos ter mais ninguém nem para suprir os cargos que existem. Mas vamos pensar na estrutura. A Cati foi criada quando a gente tinha uma estrutura de muita gente. Temos 40 escritórios regionais, isso não tem sentido porque nós não temos gente e não há necessidade de ter este número de escritórios.
O governo de São Paulo já chegou a disponibilizar 9% do orçamento para agricultura, hoje destina menos de 1%.
Temos 40 escritórios regionais, isso não tem sentido porque nós não temos gente e não há necessidade de ter este número de escritórios.
José Carlos Rossetti, coordenador da Cati